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Obstinado Manuel Serra D’Aire

Obstinado Manuel Serra D’Aire

Vê bem o que a vida é. Um pobre homem foi condenado pelo Tribunal de Santarém a 80 horas de trabalho forçado por pôr um filho a pedir nas ruas. Julgava eu que a pena capital já tinha sido abolida por cá há quase dois séculos, mas afinal parece que não… Obrigar um ser humano a trabalhar é das piores coisas que se conhecem. Basta ver que se o infeliz condenado quisesse vergar a mola por livre iniciativa não punha, obviamente, o filho a pedir. Entretinha-se a dar serventia a pedreiro, a roçar mato ou a alombar na estiva e a criança, em vez de andar de mão estendida, podia andar aos ninhos ou a brincar aos médicos mais as primas. Mas há ainda outra abordagem possível. Num país com meio milhão de desempregados estar a condenar alguém a trabalhar é absurdamente imoral. Uns, desgraçados, pelam-se por trabalho, vão protestar para a porta das fábricas que fecham, chamam nomes ao Governo, filiam-se na Intersindical… E depois há outros a quem, mesmo sem querer, vem o trabalho parar às mãos. Quando o que gostavam era de o ver longe… Além disso, que tipo de trabalho vão dar ao homem. Imagina que ele sofre de bicos de papagaio, de varizes, de micose ou de gripe das galinhas. Não o vão colocar a roçar erva nas valetas, a espalhar alcatrão nas estradas ou a preencher boletins do IRS, pois não? Hás-de ver que ainda há-de ir parar a chefe de gabinete de algum presidente de câmara ou a assessor de algum secretário de Estado. É trigo limpo!Quem também já arranjou emprego, mas para uns anitos – pelo menos enquanto este Governo se aguentar -, foi o nosso deputado de Alcanena, Ribeiro dos Santos. Depois daquele acidente no IC 19, onde a queda de um viaduto para peões acabou por o arrastar para a exoneração, como se a culpa fosse dele, lá regressou à Assembleia da República. Mas foi coisa breve.Como O MIRANTE informa na última edição, o engenheiro Ribeiro dos Santos passou a integrar os quadros da RAVE, organismo público que lidera o projecto da Rede de Alta Velocidade. Foi uma mudança adequada à velocidade do TGV. Quase mesmo à velocidade da luz, o que não admira já que em Portugal as nomeações políticas dão-se com a ligeireza inversa à da que as obras públicas andam.Por este andar, e imaginando-se com algum optimismo que o TGV há-de estar pronto lá para o final do século, vaticino que Ribeiro dos Santos já tem que fazer pelo menos até à idade da reforma. É que, nesse projecto, contratempos como o do viaduto do IC 19 não se vão seguramente repetir. Como a rede de alta velocidade não existe, nem é previsível que venha a existir tão cedo, o mais que poderá acontecer é a queda de algum quadro mal pendurado do gabinete de Ribeiro dos Santos, ou um morrão de cigarro na alcatifa, caso o mesmo seja fumador. Imponderáveis que, no entanto, não deverão ser suficientes para ditar uma exoneração.E por agora me vou, pois o sol na moleirinha e as mini-saias que já por aí circulam não me deixam concentrar. Mais tarde dar-te-ei novidades sobre a comunidade urbana que ando a congeminar e que pretende agregar, entre outras, terras como Arruda dos Vinhos, Parreira e Figueiró dos Vinhos. Será uma espécie de comunidade urbana vitivinícola, com identidade bem encorpada e um grau de coesão que vai pôr a cabeça da população a andar à roda. A sede será na adega cooperativa do Cartaxo, por questões operacionais e logísticas que tu decerto entenderás, e contamos contigo para presidente.Cumprimentos carnavalescos doSerafim das Neves
Obstinado Manuel Serra D’Aire

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