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Tudo nasceu com o caminho-de-ferro

Tudo nasceu com o caminho-de-ferro

Entroncamento, uma freguesia que se confunde com o próprio concelho

O encontro da Linha do Norte com a Linha do Leste deu origem ao topónimo que chegou à actualidade. O Entroncamento nasceu com o caminho-de-ferro e é também conhecido pela terra dos fenómenos. Até à data, o concelho é composto por uma única freguesia, mas em 2005 a realidade vai mudar.

Falar do município ou da freguesia do Entroncamento é até 2005 a mesmíssima coisa em termos territoriais. Estende-se por uma área de 14 quilómetros quadrados e deve a sua toponímia ao seu principal motor de desenvolvimento: a ferrovia, ou melhor o cruzamento das linhas férreas do norte e do leste.Do tecido original da antiga povoação que, em 1911, tinha já 1300 habitantes e 300 fogos, pouco mais resta do que o Largo das Vaginhas. Mas o desenvolvimento desta cidade, que cresceu a partir de uma pequena povoação denominada Ponte da Pedra, remonta aos finais do século XIX, quando a Companhia Real dos Caminhos de Ferro iniciou a construção de habitações para a fixação de trabalhadores. Na Primeira Grande Guerra (1914-1918) o Entroncamento era já um importante centro de transportes e no seu território foi decidido construir os vários aquartelamentos que continuam a ser uma das imagens de marca do concelho. Em 1926, a povoação, ainda fazendo parte integrante do município da Barquinha, é elevada a freguesia e, em 1932, adquire o estatuto de vila. Só em 1945 é criado o concelho do Entroncamento e em 1991 a vila passa a cidade.Esta evolução administrativa originou a perda de todo o património da freguesia, que passou para o município, mas os imóveis mais importantes foram construídos pela junta e pelo primeiro presidente desta freguesia, José Duarte Coelho. Neste leque incluem-se os próprios paços do concelho, edificados para sede da junta de freguesia, conforme a lápide, fixada no cimo do primeiro lance de escadas, não deixa esquecer.Actualmente, o Entroncamento é a maior freguesia do distrito de Santarém em número de habitantes. Regista uma taxa de crescimento demográfico superior a 25 por cento e tem uma densidade populacional de 1300 habitantes por quilómetro quadrado, valores únicos a nível distrital e superiores à média nacional. Por este facto, os autarcas começam a fazer passar a mensagem de que o Entroncamento é a “capital da juventude”.Mas o rápido desenvolvimento do Entroncamento - ele próprio quase um fenómeno, um pouco diferentes dos que transformaram esta localidade na terra dos fenómenos - teve as suas consequências negativas. A necessidade de construir novas habitações para responder à população e atrair novos habitantes originou um dos maiores desordenamentos urbanísticos da região. O crescimento em altura era inevitável dada a exiguidade do território municipal, com a agravante de parte dele estar sujeito aos regimes especiais de servidão ferroviária e militar.Por outro lado, se o desenvolvimento dos caminhos-de-ferro atraiu muita gente de todo o país em busca de melhores condições de vida, a existência da ferrovia continua a ser atractiva por facilitar a deslocação rápida para os grandes centros urbanos, principalmente Lisboa. Dantes a migração fazia-se para arranjar trabalho, actualmente ela continua, mas para adquirir habitação e trabalhar noutras cidades servidas por comboio.A cidade, considerada por vezes como dormitório, apresenta a quarta taxa de desemprego do distrito e um valor superior à média nacional. No entanto, muito dos desempregados do Entroncamento não trabalhavam no concelho.A inexistência de tradições próprias, mercê das migrações de todos os cantos do território nacional, é outro dos pontos negativos do crescimento demasiado rápido que aconteceu no Entroncamento.No entanto, os tempos estão a mudar. As escolas estão cheias de crianças, o associativismo é quase um fenómeno – há cerca de 50 clubes e colectividades em actividade – e a juventude começa a ter condições desportivas e culturais para deixar de considerar o Entroncamento como uma terra de forasteiros. Na junta de freguesia, as três funcionárias atendem diariamente cerca de 60 utentes A partir de 2005, o Entroncamento vai ter uma nova organização administrativa com a criação da freguesia de Nossa Senhora de Fátima, por desanexação da actual freguesia. Para o presidente da junta, Ezequiel Estrada, a divisão do concelho em duas autarquias vai quebrar “uma certa monotonia e comodismo” que a existência de uma única freguesia tinha causado. A autarquia de Nossa Senhora de Fátima vai proporcionar o desenvolvimento de toda a zona norte, em franca expansão e bastante carenciada de equipamentos sociais.Para esta zona, ainda na actual estrutura administrativa, está projectada a instalação de um espaço internet, enquanto que para a zona sul, que a partir de 2005 vai pertencer à freguesia de São João de Brito, prevê-se a construção de um centro de convívio que visa a ligação entre as várias gerações. Um projecto inovador na opinião de Ezequiel Estrada. Margarida Trincão
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