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Mui nobre iconoclasta Serafim das Neves

O que nos vale neste mundo são algumas anedotas que andam por aí. Põem-nos bem dispostos logo pela manhã. Ajudam-nos a enfrentar um novo dia com alegria. Hoje começo por agradecer ao senhor Durão Barroso ter no seu governo um Secretário de Estado do Ambiente chamado José Eduardo Martins. Aquilo sim, é um secretário divertido. Num mundo cinzentão como o da política ainda bem que há gente assim. Gente capaz de ideias tão peregrinas como aquela de pôr a GNR a ver se o cidadão baldas tipicamente português anda a separar o lixo como deve ser.Já está a imaginar a cena, aposto. O soldado Fagundes emboscado atrás dum contentor da câmara enquanto o incauto senhor Teixeira arrasta um volumoso saco do lixo para o local. Ainda o homem não deitou as unhas à tampa do recipiente e já o agente da autoridade lhe está a fazer sinal para encostar. Depois seguem-se as formalidades. Revista ao saco. Vasculhice total. A meio daquilo tudo, zás. Uma embalagem de cartão de cereais baratuchos, um exemplar de O MIRANTE da altura do Natal, uma garrafa de carrascão vazia mas com a rolha posta para não deixar fugir o “bouquet” a martelo. Lixo que deveria ter sido separado no meio de cascas de batata e ossos de frango. “Ah! Ah! Apanhado!” Entusiasma-se o zeloso vigilante. Seguem-se os procedimentos habituais. Os documentos, o seguro de despejador de lixo, a guia para transporte de resíduos domésticos à mão na via pública. Tudo isto rematado com uma assopradela no balão. A multa varia entre os 25 e os 100 Euricos.“Mas, ó senhor guarda...” balbucia o incauto e desatento cidadão ensaiando um choradinho à Lelo cigano. E o GNR inflexível, engrossando a voz por baixo do bigode militarizado. “O senhor sabe muito bem que o vidro é no vidrão, o papel no papelão. Como é que este país há-de andar para a frente se não há civismo nem reciclagem?!!!”.Enquanto isso, no aterro sanitário mais próximo, um tractor de lagartas cobre com terra mais umas toneladas de papel que os cidadãos cumpridores e tótós andaram a separar ao longo de três meses convencidos que estavam a contribuir para a reciclagem. E dois quarteirões acima do local da multa um gandim rouba a mala a uma velhinha aproveitando o facto da GNR estar toda ocupada na vigilância ambiento-separadora.Serafim, meu caro, já me senti tentado a explicar ao secretário de Estado do Ambiente que, para além de não haver contentores suficientes para colocar o lixo que separamos em casa, não faz muito sentido estar com uma trabalheira do camandro a fazer separação para depois, por falta de uma central de triagem e por falta de vontade para reencaminhar o lixo separado para a que esteja mais próximo, é tudo enterrado com o lixo não reciclável. Senti-me tentado mas resisti. Não quero perder pitada da aplicação desta legislação que o bom do Zé Martins está, tão laboriosamente a preparar.Além disso, como sabes, os nossos políticos sabem tudo e irritam-se quando lhes chamamos a atenção para as parvoíces que andam a fazer. Encanzinam-se de tal maneira com as críticas que se tornam brutos. Aprovam logo aumentos de impostos. Atiçam-nos as finanças. Chamam-nos comunistas ou direitistas consoante a posição em que se encontram no momento. É o cabo dos trabalhos. Mais vale não lhes passar cartuxo e ir gozando o prato. Deixar de votar, rir das patacoadas e bojardas mesmo nas barbas deles, mudar de canal quando algum vai à televisão perorar...Refiro-me agora, antes do fecho deste e-mail, à cruzada do Primeiro-Ministro a favor da vida saudável. Defendes tu, com a habitual ironia, que em vez do tabaco e do álcool deveriam ser proibidos políticos como ele para conseguirmos ter melhor qualidade de vida. Eu não vou tão longe. Proibir era demais e tanto eu como tu não vamos muito à bola com o verbo proibir. Mas acho que eles deveriam ser obrigados a trazer nas lapelas dos casacos dísticos com aqueles dizeres que aparecem nos maços de tabaco. “Acreditar em políticos faz mal à saúde, pode provocar depressões e conduzir à loucura”. Ou outra coisa do mesmo género. E no caso de meninos como o tal Secretário do Ambiente algo mais veemente. “Cuidado, pode morrer a rir depois de ouvir este cromo!”Um saudável bacalhau doManuel Serra d’Aire

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