Paulo Girão
“Somos cinzentos. O próprio fado revela que somos um povo trágico, os nossos antepassados tiveram que emigrar à procura de outras riquezas, mas o sol dá-nos energia. Se vivêssemos na Suécia a taxa de suicídio era maior.
33 anos, arquitecto, Abrantes
Quando olha para uma peça de arte o que é que vê primeiro?Depende da peça de arte, escultura, pintura ou arquitectura, mas reparo principalmente no seu equilíbrio espacial, talvez por ser arquitecto. Costuma dizer-se que os arquitectos andam na lua, mas não é isso. Temos uma percepção diferente do espaço e tudo o que o ocupa, cria, ou mesmo que seja pela ausência, é importante. O que considera uma óptima prenda?Eu gosto de dar prendas e quando me perguntam o que queria para mim, a resposta pode ser um pouco cliché, mas o que gostava mesmo é que as pessoas fossem felizes. Essa seria uma óptima prenda para mim.Acompanhou as notícias sobre o atentado terrorista em Madrid. Porque é que surgem estes atentados?O terrorismo é difícil de explicar... Eu fui ver o filme “Paixão de Cristo” e, independentemente da figura religiosa, atendi à violência humana que é uma coisa bárbara. Penso que toda a gente devia ver o filme e questionar-se sobre o porquê das pessoas massacrarem as outras, o porquê de serem bárbaras. Talvez seja um idealista, mas se todas as pessoas vivessem bem, se isso fosse possível, talvez não houvesse terrorismo...Surpreenderam-no os resultados das eleições em Espanha?O povo espanhol está a viver um período tão bom que fiquei surpreendido por Aznar ter perdido. Mas não estou muito informado sobre a forma como decorreram as eleições e a ligação dos resultados ao atentado. Abrantes é uma cidade socialmente fechada?É, mas todas as cidades do interior são fechadas. Ou melhor, o povo português é socialmente fechado, não é a cidade de Abrantes. Basta andarmos uns quilómetros, atravessarmos a fronteira e ver os nossos vizinhos espanhóis. Saem à noite, reúnem-se nos espaços públicos e nós fazemos o contrário.Essa atitude fecha-nos horizontes?Penso que sim. Os nosso antepassados queriam atingir o horizonte e agora nós fazemos o contrário. Talvez esta atitude esteja relacionada com a nossa situação económica.Somos um povo cinzento?Acho que sim. Somos cinzentos, o próprio fado revela que somos um povo trágico, os nossos antepassados tiveram que emigrar, à procura de outras riquezas, mas o sol dá-nos energia. Se não tivéssemos sol, se vivêssemos na Suécia a taxa de suicídio era maior. De facto, com a situação económica que temos se não fosse o sol não sei o que seria.O que pensa das comunidades urbanas recentemente constituídas?A nossa zona, que o Governo quer fazer desaparecer diluindo-a noutras regiões, tem características próprias. Não pode ser inserida nem na zona de Coimbra nem na de Lisboa, que era uma forma muito fácil de dar a volta à questão quando toca à distribuição de fundos. Mas temos elementos próprios e temos de fazer prevalecer essas características, culturais e até climáticas. As famílias monoparentais são cada vez em maior número. Considera que esta estrutura familiar está no mesmo patamar que as famílias ditas tradicionais? Eu tive a sorte de nascer e crescer numa família em que o pai e a mãe estavam presentes e, talvez por isso, ache que é a melhor maneira para uma criança crescer de forma equilibrada. Isto não significa que nas monoparentais não possa haver equilíbrio, não sei... Com o que não concordo mesmo é com a opção de algumas mulheres terem filhos só para realizar o seu instinto maternal, uma produção independente. É muito injusto para o filho que vai nascer e para o pai da criança. E a adopção de crianças por homossexuais?Voltamos ao mesmo. Falta a presença do outro sexo, embora saiba, pelo que tenho ouvido, que essa permissão poderia trazer melhores condições de vida a algumas crianças. Mas são situações de excepção.
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