Mudar mentalidades
Mação: Câmara desafia população a mudar de mentalidade para floresta sustentável
A Câmara de Mação iniciou sábado a tarefa de convencer a população do concelho a aderir ao projecto que tem defendido como única solução para uma floresta sustentável mas que, para ser implementado, exige uma mudança de mentalidade.
A bondade do “sistema de gestão florestal sustentável para o concelho de Mação” foi defendida pelo vereador António Louro (PSD), no cine-teatro da vila, perante uma assembleia de algumas centenas de habitantes do concelho.O projecto no qual a autarquia começou a trabalhar logo após os incêndios do último Verão, que devastaram 21.000 dos 25.000 hectares de floresta do concelho e invadiram áreas urbanas, foi apresentado em Setembro aos órgãos autárquicos concelhios e depois a responsáveis governamentais, nomeadamente ao secretário de Estado e ao director geral das Florestas.No essencial, a proposta da autarquia, com base num estudo preparado por uma equipa muito jovem que assistiu silenciosa ao debate, defende que os proprietários, embora mantendo a posse da terra, se juntem, criando empresas, associações ou cooperativas, e apresentem projectos para áreas nunca inferiores a mil hectares.“A terra pertence a cada um, mas a floresta será de todos”, disse o vereador, sublinhando que a participação de todos e a partilha dos lucros será proporcional ao tamanho da propriedade e contemplará tanto os que têm floresta como os que verão as suas terras reservadas para zonas tampão.António Louro procurou demonstrar que a situação actual, em que estão cadastrados 80.000 prédios num concelho que tem 8.500 habitantes, sendo que a maioria dos proprietários já nem reside na zona, é insustentável pois continuará a alimentar os grandes incêndios e nunca trará riqueza nem às pessoas nem ao concelho.O que se propõe é a criação de 15 Zonas de Intervenção Florestal (ZIP), com áreas entre os 4.000 e os 5.000 hectares (separadas por aceiros largos), que conjuguem a floresta com a actividade agrícola, aquela que, no entender da autarquia, pode fixar população e ao mesmo tempo criar zonas de tampão aos incêndios.Nas ZIP existirão núcleos, nunca inferiores a mil hectares, num total de quatro dezenas em todo o concelho, para os quais os proprietários elegerão dois a três representantes que deverão apresentar um projecto sobre o que pretendem plantar, de preferência diversificando a floresta, que se candidatará a fundos para a reflorestação.Por outro lado, o sistema prevê que se criem condições para que em cada aldeia “haja pelo menos uma família que subsista exclusivamente da agricultura”, tendo sido identificada a aptidão local para culturas como o olival, a vinha e os citrinos.Para António Louro, as causas profundas da actual situação têm a ver com a significativa perda de população que se começou a registar na segunda metade do século XX, passando de 26.000 habitantes nos anos 50, que sobreviviam essencialmente da agricultura, para os actuais 8.500.Admitindo que o projecto da autarquia possa ter falhas, o autarca defendeu-o como única alternativa para que os seus filhos possam um dia vir a cortar pinheiros como fizeram o seu pai e o seu avô.António Louro lembrou que nos últimos 12 anos ocorreram 470 incêndios no concelho e que, desses, nove consumiram uma área equivalente à do concelho (cerca de 40.000 hectares).Com base nesses números e no investimento que a autarquia fez nos últimos anos em infra-estruturas de prevenção e combate (da ordem dos 200.000 a 250.000 euros anuais), o vereador concluiu que a autarquia não pode fazer melhor a este nível, sendo, por isso, preciso ter “uma floresta que se adapte”.Um dos dois vereadores eleitos pelo PS (num executivo de cinco pessoas liderado pelo PSD), António Martins, ensaiou objecções “de natureza política”, questionando nomeadamente quanto custará implementar este projecto.O vereador socialista manifestou-se contrário à existência de estruturas intermédias, como a “associação de produtores florestais forte” que António Louro referiu e de que confirmou ser mentor.Lusa
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