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Turismo é a indústria do futuro

Constância, a vila onde os rios Tejo e Zêzere se encontram

Constância ergue-se colina acima no ponto exacto onde o Tejo e o Zêzere se irmanam. Vila que viveu da faina fluvial durante séculos a fio, procura hoje afirmar-se como referência ao nível do turismo potenciando os dons que a natureza lhe concedeu.

A generosidade da natureza e a mão humana fizeram de Constância uma das localidades mais aprazíveis do Ribatejo. Das margens dos rios até à bela e altaneira igreja matriz, a vila ergue-se colina acima marcada por ruelas e calçadas recheadas de recantos convidativos. O cuidado posto no arranjo do espaço público não passa despercebido ao olhar dos muitos visitantes que, sobretudo ao fim de semana, gostam de dar uma volta pela terra onde reza a lenda que viveu Camões.Constância está umbilicalmente ligada ao Tejo e ao Zêzere, que ali se irmanam rumo ao oceano. Durante séculos foi um dos principais portos fluviais do Tejo, com dezenas de embarcações fundeadas. Vivia-se sobretudo do comércio fluvial, do transporte de mercadorias Tejo abaixo Tejo acima até Santarém e Lisboa. Muitos dos cerca de mil habitantes da vila, sede de freguesia e de concelho, são descendentes de marítimos, os tripulantes dos barcos, ou de calafates, que se dedicavam à construção naval.Desses tempos restam memórias e pouco mais. A chegada do caminho-de-ferro no século XIX e mais tarde a proliferação do automóvel e das estradas e auto-estradas acabaram com esse modo de vida. A fábrica de pasta de papel instalada na década de 60 do século passado na margem sul do Tejo passou a ser uma importante fonte empregadora, tal como o município e os quartéis militares de Tancos e de Santa Margarida.Há cerca de dez anos a estratégia de desenvolvimento do concelho passou a ter as potencialidades naturais e o turismo como principais referências. As margens dos rios começaram a ser requalificadas e arranjadas num projecto por muitos considerado exemplar e que está na fase final. Falta concluir o centro náutico, que se ergue na margem direita do Zêzere, e o açude galgável no mesmo rio.Ao longo da última década criaram-se pontos de apoio aos visitantes, como parques de merendas, parque de campismo, espaços ajardinados e dois bares restaurantes concessionados pela câmara a empresários da zona. Alguns privados investiram também na abertura dos seus estabelecimentos. A vila ficou com uma capacidade de resposta razoável ao nível da restauração e do alojamento. O comércio também vai chegando para as encomendas.Como sede de concelho, é natural que Constância esteja bem servida de equipamentos públicos. Para além das habituais repartições do Estado, tem centro de saúde, escolas até ao ensino secundário, pavilhão desportivo, piscinas cobertas, cine-teatro, biblioteca, posto da GNR, corporação de bombeirosSe há ponto negativo é a nível associativo. Existem poucas associações, sendo a mais representativa o Clube Estrela Verde, que atravessa algumas dificuldades para encontrar nova direcção. Não há ranchos folclóricos nem bandas filarmónicas, ao contrário do que aconteceu noutros tempos. Nem sequer há equipas de futebol de onze federadas, quer juvenis quer seniores, devendo constituir um caso inédito pelo menos a nível regional. “Os jovens de Constância não parecem gostar de futebol”, diz o presidente da junta de freguesia, João Baião, que há mais de duas décadas integrou uma equipa de iniciados da terra que competiu nos campeonatos da Associação de Futebol de Santarém. A vila tem também vindo a perder população. Nas últimas décadas muitas casas do centro histórico, onde sobressaem alguns imóveis apalaçados, estão vazias e degradadas. A câmara apostou na requalificação do parque habitacional para tentar trazer mais gente para o núcleo antigo, mas é nas urbanizações da zona alta que se estão a instalar os novos moradores, muitos deles vindos de fora do concelho, que poderão ajudar a dar a volta ao ciclo desertificador.Fruto do escasso número de habitantes, vão fechando escolas e não há grande vontade da Segurança Social em construir uma creche no concelho. Essa é uma das principais aspirações do poder local, a par com a construção de uma nova ponte sobre o Tejo, que substitua a estrutura centenária onde hoje passam automóveis e comboios.De resto, Constância tem tudo para se desenvolver e recuperar alguma da importância que já teve noutros tempos. É servida pela autoestrada A 23, que faz ligação à A 1 e a Espanha, e o caminho-de-ferro atravessa o concelho. A rede de transportes públicos também é razoável, com várias carreiras diárias para Abrantes, Entroncamento ou Tomar.Como factor inibidor pode estar a proximidade a essas cidades, qualquer delas a pouco mais de dez quilómeros, que exercem algum poder de atracção sobre os habitantes da terra. Mas o contrário também é verdadeiro e há quem troque a vida na cidade pela pacatez da vila banhada por dois rios, onde os preços das casas são mais em conta. Depois, ao longo do ano a vila atrai também as atenções dos forasteiros por outras razões. As festas do concelho, no fim de semana da Páscoa, as Pomonas Camonianas, em Junho, ou a Feira dos Rios em Setembro, fazem parte do calendário de festividades que dão outra vida e cor a uma terra que vai despertando da nostalgia do seu passado marítimo.João Calhaz

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