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Má vizinhança

Famílias ciganas de Tomar querem casas novas, mas longe umas das outras

As três famílias ciganas que habitam no bairro do Flecheiro não querem ser realojadas na mesma zona, como defende a câmara de Tomar. Em causa estão as más relações entre elas.

A maior parte da população cigana residente em acampamentos na margem do rio Nabão, em Tomar, recusa a transferência em bloco para um bairro social com medo dos conflitos entre as várias famílias.A autarquia está a estudar a transferência da população cigana das barracas que formam o bairro do Flecheiro para outro junto da zona industrial do concelho, mas os três clãs beneficiários desta medida querem ir morar para sítios onde não tenham de conviver com os outros.Os Moura, Moreira e Barbosa residem há mais de duas dezenas de anos em Tomar mas, apesar de muitos deles serem feirantes, as relações pessoais restringem-se ao essencial.Além das más relações entre eles, os residentes não granjearam muitos apoios dentro da população da cidade, que continua a recusar a sua integração plena, devido ao cadastro de violência e de criminalidade de alguns dos seus elementos.A autarquia, em parceria com a PSP, está a promover um projecto de integração que contempla três ligações de água à rede pública bem como a inclusão das crianças de etnia cigana na escola.As autoridades têm dois agentes a percorrer diariamente o bairro do Flecheiro, que agrega cerca de 50 habitações, para ouvir as reivindicações, servindo de “mediadores” entre a comunidade e a população da cidade.Este trabalho poderá ficar em causa se a câmara insistir no realojamento conjunto dos clãs. “Não nos damos um com os outros, e se vamos todos para o mesmo prédio só vai haver problemas e confusão”, considerou Sebastião Moura, patriarca do clã Moura, recordando as inimizades e conflitos familiares existentes para justificar a necessidade de construção de prédios em três locais separados do concelho.Além disso, alegou, a relação entre a sua família e as autoridades tem melhorado, sendo de lamentar que eventuais problemas judiciais existentes com outros membros de etnia cigana possam vir a afectar toda a comunidade.“Por causa de uns andarem na droga e no roubo, não queremos ficar com mau nome”, afirmou à Agência Lusa, apontando como exemplo o que sucedeu sexta-feira de manhã com uma rusga policial a um dos agrupamentos.Carlos Barbosa, patriarca de outro clã, tem uma posição mais moderada: lamenta a possibilidade de vir a ficar junto das outras famílias, mas defende a transferência urgente da população. “Não havendo alternativa, sempre será melhor do que isto, mas penso que vai dar confusão”, afirmou.Mais crítica é Lurdes Moreira, uma das líderes da outra família, que também defende a criação de três locais distintos para a comunidade. Contudo, prefere apontar a falta de condições higiénicas do actual bairro como o principal problema da zona, criticando o atraso na atribuição de novas habitações.Falta de água canalizada, excessiva humidade, alergias e bronquite nas crianças e perigos de cheias são alguns dos problemas que Lurdes Moreira identifica para os quais não tem havido qualquer resposta. “Estamos sempre a ter promessas, mas a câmara nunca faz nada”, acusou.Confrontado com estas críticas, o presidente da autarquia, António Paiva, salienta que está em curso um estudo para a criação de uma área de habitação social junto à zona industrial.Embora as famílias venham a ser agrupadas no mesmo terreno, vai haver uma “separação física” entre as três comunidades, mantendo a situação existente no Flecheiro, onde a divisão é feita por pequenos muros improvisados, apesar das barracas serem, nalguns casos, contíguas.“Nunca foi intenção da câmara misturar as famílias, e o terreno que temos tem dimensão para fazer essa separação”, salientou o autarca, reconhecendo que o município não tem condições para os alojar “a 20 quilómetros uns dos outros”.A opção pela zona industrial está a ser introduzida no Plano Director Municipal, já que existem nesse local “infra-estruturas e a disponibilidade do terreno” para a construção da habitação social necessária, que deverá custar cerca de dois milhões de euros.Apesar destas promessas de separação no mesmo local, o comissário da PSP local, Lopes Martins, adverte para os problemas de uma decisão nesse sentido, já que a população cigana é muito “orgulhosa”, com uma história de sucessivos conflitos pessoais entre ela, envolvendo tiroteios e agressões.“Será um erro grave porque existem muitas rivalidades entre os três clãs, que se acusam sempre do pior”, justificou, salientando que Portugal “já tem exemplos (com outras comunidades étnicas) de como é que não se deve fazer realojamento”.O MIRANTE/LusaUm detido e munições apreendidas Uma operação policial no bairro do Flecheiro, em Tomar, realizada na manhã de sexta-feira levou à detenção de um homem e à apreensão de munições e diversos artigos, presumivelmente furtados, informou a PSP.De acordo com Lopes Martins, comissário da PSP de Tomar, foram apreendidos cartuchos de caça, munições militares, auto-rádios, uma máquina fotográfica digital, equipamento de som e vários telemóveis. Foi também “confiscada” uma motorizada cujo proprietário se presume ser da zona da Chamusca, apesar da chapa de matrícula estar parcialmente “martelada”.No âmbito desta operação a PSP deteve ainda um suspeito sobre o qual pendia um mandado de detenção, por vários crimes.O indivíduo, com cerca de 25 anos, foi levado para o estabelecimento prisional de Torres Novas para cumprir uma pena superior a dois anos.Além deste caso, as autoridades procuraram um outro homem, condenado por crimes semelhantes, que não se encontrava nesse dia naquela zona.Os artigos apreendidos pelas autoridades vão ser confrontados com outros processos de furtos pendentes na esquadra, para avaliar a sua origem, explicou este responsável.Envolvidos na operação estiveram cerca de 80 agentes, muitos dos quais fortemente armados, que contaram com uma equipa de cães para efectuar buscas de droga numa das habitações.No total, foram revistadas nove habitações precárias de uma das famílias de etnia cigana alojadas no bairro do Flecheiro, junto ao rio Nabão, e vários automóveis.As forças policiais cercaram aquele agrupamento de habitações, no centro do bairro do Flecheiro, utilizando várias equipas de agentes com “shot-guns” a vigiar a actuação de alguns elementos da população mais exaltados.No decurso da operação, os moradores contestaram a actuação da PSP, acusando-a de ter forçado a entrada em algumas habitações, através de arrombamento.Dos três agrupamentos de famílias que se encontram no bairro, compondo cerca de 200 pessoas, este era o grupo mais problemático, reconheceu fonte policial, justificando a intervenção com a existência de várias queixas de furtos, em que muitos destes elementos são suspeitos.Lusa

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