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A paixão da mecânica

A paixão da mecânica

Nuno André constrói aviões ultra-ligeiros

A mecânica é a grande paixão de Nuno André, um construtor de aviões ultra-leves que há cinco anos se fixou em Vale da Pinta, nos arredores do concelho do Cartaxo.

Nuno André corre o grande portão metalizado. No interior do hangar vislumbram-se vários modelos de aviões ultra-ligeiros, que têm ocupado o construtor nos últimos anos. É na sua quinta, em Vale de Gatos, freguesia de Vale da Pinta (Cartaxo), que funciona há cinco anos o seu estaleiro particular.Durante muito tempo Nuno André, 56 anos, trabalhou no sector da construção. O interesse pelos aviões surgiu como um passatempo quando foi morar para Cascais e começou a frequentar o aeródromo e a observar os aviões de construção amadora. Para facilitar a sua aprendizagem como auto-didacta tornou-se sócio de uma organização americana de construção amadora que ajuda a construir aviões em casa. Assinou revistas da área e passou a interessar-se pela construção. Fez-se sócio do aeroclube e tirou o curso de pilotagem. Em 1983 construiu o primeiro avião que ainda conserva. Chegou também a adquirir um asadelta com motor, mas achou que não era suficientemente interessante e decidiu encomendar um ‘kit’ com instruções em Inglaterra para se iniciar na construção de um avião “Phanton” ultra-ligeiro de primeira geração. “Havia alturas em que quase não dormia. Só queria mexer no avião”, relata.Para construir do princípio ao fim um avião o mais difícil é encontrar os materiais, desde as madeiras para as asas até aos mais pequenos parafusos. “A Europa não tem produtos para construção. Na América existem porque há muita procura”. Deslocou-se várias vezes aos Estados Unidos para participar em exposições, onde aproveitava para adquirir materiais e estabelecer contactos. Muitas pessoas optam por comprar os aviões já feitos, mas o que interessa a Nuno André é “o prazer de construir, recuperar e modificar”. No estaleiro acumulam-se alguns exemplares já usados que o construtor pretende “reconstruir”.O processo de criação é longo e Nuno André nunca se dedica exclusivamente a uma só obra. O avião mais pequeno demorou dois anos a construir e custou cerca de 200 contos. Se fosse comprado custaria três ou quatro vezes mais. Há cerca de seis meses acabou a sua última criação que lhe ocupou sete anos de trabalho. “Para se fazerem bem feitos têm que ser pensados”, resume.Nuno André dedica aos aviões entre três a quatro horas por dia. Além do tempo da construção há pormenores minuciosos que demoram muito tempo. É o caso da tela, fuselagem, pintura e colocação de instrumentos e da hélice. Nenhum particularidade pode ser descurada. “Um avião antes de voar tem que ser verificado muitas vezes”.O construtor segue normalmente o plano original dos aviões, embora faça sempre algumas alterações. “Ou ponho asas mais curtas para aumentar a velocidade ou coloco outro sistema de comando”, explica. Todas as peças que compõem o avião, desde as madeiras aos tubos, são cortadas no estaleiro de Nuno André, que ao longo dos anos coleccionou todo o tipo de máquinas de corte para gerar economias de escala.No anexo à sua casa, além do hangar, tem uma secção de pintura e armazém de peças onde acumula instrumentos que compra ao desbarato para aplicar nas suas criações.O motor do grande exemplar, em tons de amarelo, foi adaptado de um automóvel “Volkswagen”, que fica muito mais em conta que um motor específico. Cortou o motor ao meio, uma vez que inteiro ficava demasiado grande, e aplicou-o. “No início utilizavam-se motores de geradores, bombas de água e de carrinhos de neve”, elucida.Nunca exerceu a actividade a título profissional. Os aviões que constrói destinam-se sobretudo ao seu círculo de amigos. Desde que iniciou a actividade, nos anos 80, já construiu mais de uma dúzia de exemplares. “Gosto de voar, mas a minha verdadeira paixão é a construção”, garante.Para ter mais espaço para se dedicar à arte mudou-se para a quinta nos arredores do Cartaxo. Na sua propriedade está também a construir uma pista particular que lhe permitirá levantar voo e experimentar as suas criações assim que estejam concluídas.“Os aeroclubes são um pouco fechados. Seria melhor se, à imagem do que se faz nos Estados Unidos, houvesse um espaço ou secção dedicados à construção. Por outro lado haveria troca de impressões entre o membros do clube”, sugere.O que menos lhe agrada no trabalho são os acabamentos e a pintura. O que mais lhe dá prazer é observar a obra acabada. “O mais interessante é a construção. O avião perde o interesse depois de feito e de se fazer o primeiro voo de ensaio”.Além de aviões, já construiu motos e karts. Voou e correu no campeonato do mundo em velocidade, até que se dedicou exclusivamente à construção. “Não é um negócio que dê dinheiro. Faço-o apenas pelo gosto pela mecânica”.Ana Santiago
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