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O último taberneiro

Francisco Silva ainda serve copos de vinho tinto ao balcão
Aos 77 anos o taberneiro Francisco Vieira da Silva ainda serve copos de vinho tinto ao balcão na Taberna do Zé Goela, na Rua Grandella Aires, em Aveiras de Cima, Azambuja.A taberna, que herdou há trinta anos do sogro, abriu as portas há mais de sete décadas, quando os castiços espaços de convívio abundavam na terra que ficou famosa pelo bom néctar. Era ali que os trabalhadores do campo se juntavam depois das duras jornada de trabalho. À luz do gasómetro jogavam às cartas e ouviam os relatos de futebol na velhinha telefonia que ainda hoje resiste. Mais tarde, quando apareceu a televisão cobrava-se na tasca dois rebuçados por entrada.Francisco Vieira ou Zé Goela, como é conhecido o último taberneiro de Aveiras de Cima, tirava o vinho directamente da pipa de madeira para os copos dos clientes. Hoje são as cubas de aço inoxidável que ocupam esse espaço. Para despertar a sede vendiam-se na tasca as tradicionais conservas de atum, sardinha, cavalinhas e anchovas. A pequena montra envidraçada cobria ainda os queijos secos que eram apreciados com o vinho. Os tremoços, amendoins e pevides completavam o cardápio.O número de copos variava de acordo com os clientes. “Bebiam um ou dois, mas às vezes até lhes perdia a conta”, recorda Zé Goela. Nesses tempos um copo de vinho custava oito tostões. Francisco Vieira ainda vende as “ciganas”, uma garrafa de 33 centilitros, cheia de vinho, mas o que tem mais procura hoje em dia é a cerveja. “Quero uma Cintra, fresquinha”, pede um freguês que acaba de entrar.No expositor de madeira perfilam-se garrafas de água-pé, ginja, abafado e macieira. O vinho tinto continua a ser um dos produtos mais vendidos, mas ainda se mantêm fiéis os clientes que tomam três ou quatro copos de aguardente antes do trabalho.O balcão de pedra onde assentam os copos de três ainda é o mesmo. Só a mesa e os bancos corridos de madeira foram substituídos por material mais moderno. Joga-se às damas e ao dominó porque os jogos de azar estão proibidos. Por imposição da delegada de saúde foi construído no espaço de 20 metros quadrados da tasca uma pequena casa de banho, mas há tradições que se mantêm na última taberna da freguesia, como o famoso livrinho dos fiados. “Em acabando é uma casa que vai fazer muita falta às pessoas”, desabafa Zé Goela.

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