Alhandra exige transparência nas contas do museu
Ninguém controla os donativos dos fiéis de Sousa Martins
O presidente da Junta de Freguesia de Alhandra confirmou que as contas do Museu Sousa Martins não foram aprovadas pela comissão consultiva e pelas autarquias. Jorge Ferreira anunciou que a direcção do museu tem utilizado o número de contribuinte da junta sem que os documentos entrem na contabilidade da autarquia. A assembleia de freguesia exige transparência.
As contas da Casa Museu Sousa Martins de Alhandra não foram aprovadas, controladas ou fiscalizadas pela comissão consultiva e pelos órgãos autárquicos. Nos últimos 19 anos, o director, Júlio Graça limitou-se a enviar os relatórios finais à Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, entidade responsável pelo pagamento do pessoal e à Junta de Freguesia de Alhandra proprietária da casa e do seu espólio. A confirmação foi avançada pelo presidente da junta durante a assembleia de freguesia realizada na quinta-feira, 22 de Abril.Jorge Ferreira (PS) desmentiu assim o responsável pelo museu que em declarações a O MIRANTE garantiu que as contas, que recusou divulgar, tinham sido sempre aprovadas pela comissão consultiva e fiscalizadas pelos órgãos autárquicos.O presidente da junta chegou mesmo a dizer que o museu usava o número de contribuinte da junta. “Há facturas em nome do museu e outras em nome da junta, mas nunca vieram à junta”, disse. “O museu tem depósitos bancários, tem dinheiro e tem valores, queremos saber onde estão e em que nome é que estão”, acrescentou.Apesar de reconhecer a necessidade de dar maior transparência à gestão do museu, o autarca considerou que “as pessoas que lá estão fazem um bom trabalho e são sérias”.O advogado Nelson Tereso (PSD) alertou para o perigo de uma fiscalização da Inspecção Geral de Finanças vir a questionar a junta sobre esta prática do museu. “O museu não pode usar o número de contribuinte da junta. Espero que não venha cá uma inspecção”, disse.PJ e Ministério Público estão a investigarComo o MIRANTE noticiou na edição de 8 de Abril, a gestão do museu está a ser investigada pela Polícia Judiciária e pelo Ministério Público de Vila Franca de Xira. Depois das notícias publicadas por nós, na sequência de várias denúncias de alhandrenses, a presidente da câmara solicitou a investigação ao Ministério Público. Maria da Luz Rosinha (PS) considerada por Júlio Graça a sua “fada madrinha”, disse acreditar na seriedade e honestidade do escritor, mas insistiu em acabar com as suspeitasO Museu de Alhandra-Casa Dr. Sousa Martins está integrado na rede municipal de museus e recebeu centenas de milhar de euros de donativos de fiéis e valores patrimoniais que nunca foram tornados públicos e inventariados pela câmara e pela junta de freguesia, entidade oficialmente detentora do património do museu desde 1985. Só um devoto doou um cheque de cinco mil euros que na altura levantou suspeitas sobre a sua aplicação. Duas vezes por ano, em Março e Agosto, Alhandra recebe milhares de fiéis do médico santo que para pagarem promessas que fizeram em períodos difíceis deixam os seus donativos em caixas controladas pelo responsável do museu.Júlio Graça, o principal responsável pela gestão do museu, disse a O MIRANTE que aguardava com serenidade as investigações. O conservador admitiu deixar as funções que desempenha por estar cansado e com vontade de descansar. Júlio Graça tem 80 anos e é uma das personalidades mais marcantes da vida cultural de Alhandra tendo sido distinguido com várias condecorações, a última das quais a medalha de mérito cultural atribuída pelo ministro da Cultura.Alhandrenses exigem explicaçõesA alegada falta de transparência das contas da Casa Museu Sousa Martins mexe com as gentes de Alhandra e a população exige o apuramento de responsabilidades. “Os políticos partidários viraram as costas ao museu e nunca se preocuparam com a sua gestão, agora que alguém despoletou a situação todos querem colher louros e mostrar que são muito sérios”, disse Jorge Cavaco. Raul Pedro, antigo presidente da junta, referiu que é à câmara que preside à comissão consultiva e tem o dever de convocar as reuniões e procurar a solução para a casa museu. Emílio Coraz, outro ex-autarca assumiu responsabilidades políticas neste processo porque foi eleito na junta e não conseguiu resolver o problema do museu. “As contas devem ser mais claras. Não basta ser sério, é preciso parecer”, concluiu.Domingos Soares, o homem que denunciou publicamente a falta de transparência na gestão esteve na última assembleia, mas acabou por sair antes do período de intervenção do público.Nelson Silva Lopes
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