Carla Pereira
“A vida está muito cara e o poder de compra do portu-guês está cada vez mais baixo. Quer uma pessoa queira quer não, há uma grande falta de dinheiro”
29 anos, funcionária administrativa, Abrantes
Nas últimas semanas, Portugal viveu e ainda vive, dois importantes acontecimentos, o Rock in Rio e o Euro 2004. Considera que estes eventos podem mudar a imagem do país?Em termos de imagem para o exterior talvez mude um pouco e contribua para trazer mais turistas para Portugal. Nesse aspecto sim, mas economicamente não muda nada. Antes pelo contrário, a situação deve agravar-se. Esperemos que não, não matemos a esperança.Foi ao Rock in Rio?Não. Primeiro porque os bilhetes eram demasiado caros e, em segundo, os grupos não me seduziam, à excepção dos Xutos e Pontapés. Gostei muito mais do cartaz para os três dias de Superbock Super Rock. Vi alguns concertos do Rock in Rio na Sic Radical e de facto não havia nada que me fizesse gastar tanto dinheiro e meter-me na confusão.O investimento nacional no Euro 2004 foi muito contestado. Acha que as vantagens são superiores ou infe-riores às desvantagens?Há muitas desvantagens. Agora é tudo muito bonito, mas quando o Euro acabar vamos pagar no corpo o investimento que foi feito na construção dos estádios. Vantagens não sei quais serão, a não ser haver estádios novos, mas isso é para os clubes não para nós.Se Portugal for à final do Euro era capaz de ir ver o jogo ao vivo?Claro, se tivesse possibilidades económicas. Infelizmente não temos tido grandes alegrias com a nossa selecção, mas enfim… Gosto de futebol e iria apoiar a nossa selecção até ao fim.O que acha que devia mudar em Portugal?A primeira coisa que devia mudar em Portugal seria a produtividade dos portugueses, esse é o aspecto mais grave. Nós não produzimos, era preciso pôr o povo português a trabalhar para reduzir as despesas do Estado. Temos grandes potencialidades e aquilo que fazemos lá fora que façamos cá dentro.Foi votar no domingo?Votei sim.A morte de Sousa Franco implicou alguma mudança nestas eleições?Não, não alterou nada, embora me tivesse chocado bastante. Como penso que deve ter acontecido à maior parte das pessoas.A abstenção nas eleições para o Parlamento Europeu foi grande, tal como se previa. As pessoas perceberam que se estava em campanha eleitoral?Não, a mim também me passou um pouco ao lado. Parece-me que o que despertou mais que se estava em campanha eleitoral foi a morte de Sousa Franco. Por outro lado, o fim-de-semana em que as eleições decorreram também contribuiu para a abstenção. Houve muita gente que aproveitou para fazer uns mini-férias.Essa é a principal razão?O motivo principal é o desconhecimento. A maior parte das pessoas está completamente à margem, não sabe como funciona o Parlamento Europeu e votar naquilo que não se conhece desmotiva. Nota-se também um grande descontentamento e a abstenção foi a manifestação desse desagrado.A falta de dinheiro é um problema que afecta quase toda a gente. Também sofre desse mal?Sim e nos últimos tempos tem exigido um pouco mais de esforço. A vida está muito cara e o poder de compra do português está cada vez mais baixo. Quer uma pessoa queira quer não há uma grande falta de dinheiro.Vai de férias?Espero bem que sim, mas não vou sair do país.Quando visita um local para si desconhecido, tem mais curiosidade para visitar o quê?Tenho uma grande paixão por conhecer o património e a noite, por que também sou apaixonada. Depois ia descobrindo as coisas aos poucos.Seria capaz de comer um prato confeccionado com produtos de que não gosta, ou pensa não gostar, só porque pertence à gastronomia tradicional?Isso não, se não gosto, não gosto mesmo e não como. A curiosidade por conhecer não me obrigaria a um sacrifício gastronómico desses. Ficava sem saber se é bom.
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