As esculturas que ninguém quer
Serralheiro de Rio Maior fez doze peças alusivas ao Euro 2004
O sonho de Artur Manuel da Mãe é ver as suas esculturas nos estádios portugueses que recebem o europeu de futebol. Durante quatro anos fez doze peças alusivas ao evento, mas ninguém as quer receber… nem dadas.
Há quatro anos Artur Manuel da Mãe teve a ideia de fazer uma escultura alusiva ao euro 2004. O serralheiro de profissão, de Vale Marinhas, Rio Maior, começou a trabalhar e movido pelo entusiasmo acabou por fazer 12 peças usando materiais como madeira, vidro, pedra e ferro. O artista de 27 anos predispôs-se a doar as obras aos estádios que recebem o campeonato da Europa, mas ninguém as quer. É com desânimo que vê o seu trabalho de muitas horas votado ao desinteresse, ainda mais quando não pretende qualquer compensação financeira, apesar de ter gasto mais de 10 mil euros em materiais. Artur da Mãe tem feito alguns contactos, mas até agora só a Câmara de Leiria se mostrou interessada, embora ainda não tenha decidido nada. O sonho do jovem escultor era ver as suas estátuas nos dez estádios nacionais que têm jogos do europeu. E até ao final da competição está disposto a oferecê-las. Gostaria igualmente de entregar as outras duas à Federação Portuguesa de Futebol e à UEFA. Quando se soube que Portugal tinha ganho a organização do Euro, o escultor começou a fazer um jogador em pedra assente numa base de pedra com o feitio do mapa de Portugal. A escultura é da altura de uma pessoa, tal como muitas das outras. “Isto foi uma inspiração repentina. Nunca me tinha surgido a ideia de me dedicar à arte. Mas agora pretendo continuar e aperfeiçoar as técnicas”, explicou. Artur da Mãe esculpia as peças em casa e num barracão emprestado por uma vizinha. O dono da oficina de serralharia onde trabalha ajudou-o no transporte dos materiais. O artista chegou a cortar um tronco de um pinheiro para fazer um jogador com dois metros de altura. A figura foi desenhada a corte de moto-serra. De entre as esculturas há uma feita em pedra vulcânica a simbolizar um guarda-redes, na horizontal, a agarrar a bola. Mas a obra que tem tido mais aceitação tem o título “Bola ao Centro”. É feita com lajes de pedra empilhadas a fazer o corpo de dois jogadores com uma bola entre eles. A criatividade de Artur da Mãe pode ser vista na entrada da Exposalão, na Batalha, até dia 20. O parque de exposições aceitou receber as peças em jeito de incentivo ao jovem artista e como forma de reconhecer o esforço feito. Artur da Mãe não tem qualquer formação na área. É apenas um curioso que revela alguma habilidade para imprimir na pedra as suas ideias ou para reaproveitar materiais sem uso. Como é o caso de um “boneco” feito em peças de ferro velho e cuja cabeça é a parte do motor de uma mota. Apesar de se sentir triste por ninguém querer as esculturas, já tem outros projectos para o futuro. Quer fazer um golfinho a furar uma onda e dar forma a um crocodilo gigante.
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