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FH5 continua a dar baile

Grupo de Tomar nasceu há 28 anos e continua a abrilhantar festas e arraiais

Os grupos de baile já não estão na moda. Hoje, as festas populares são sobretudo abrilhantadas por cantores da música pimba. Mas em Tomar há um conjunto que conseguiu sobreviver e que não arreda pé dos palcos. Chama-se FH5 e é um nome quase mítico para várias gerações de ribatejanos.

Francisco Honório e o seu acordeão eram uma referência na região nos anos 70. Quem quisesse uma festa, casamento ou aniversário badalado contratava o Xico das Rendufas, como era conhecido.Circunstâncias da vida levaram-no a pôr de lado o acordeão enquanto os filhos cresciam. Mas incutiu-lhes sempre o gosto pela música. E em 1976 decidiu regressar às festas, levando já os filhos, Luís e António, com ele. Luís Honório, o mais velho, tinha 12 anos quando subiu ao palco pela primeira vez.Durante uns anos o nome do grupo foi sofrendo alterações, à medida que ia crescendo. Quando contrataram um vocalista, o grupo passou a chamar-se Francisco Honório e Filhos Mais Um. Com a entrada de outro elemento, virou Francisco Honório e Filhos Mais Dois.Mas quando entraram mais três ou quatro músicos começou a ser complicado acrescentar mais nomes ao grupo, que passou então a chamar-se apenas Francisco Honório e o seu conjunto. Nessa altura tocava música tradicional portuguesa, valsas e tangos.Desse tempo Luís Honório recorda algumas histórias, como aquela em que, numa madrugada, tiveram de andar a empurrar a camioneta do conjunto, que tinha ficado atolada na lama. “Andámos duas horas e meia para fazer dois quilómetros”. Ou a frequência com que os quadros de electricidade não aguentavam a potência dos amplificadores de som e davam o berro durante uma actuação. Ainda hoje, apesar das condições serem bem melhores, há locais onde parte do material tem de ficar no camião, ou porque a energia é fraca ou porque não cabe no palco.A última alteração de nome coincidiu com a aparecimento do rock português. O panorama musical nacional deu uma volta de 180 graus e o grupo de Tomar não quis ser passado para trás. Se os novos grupos - GNR, UHF – se faziam conhecer apenas por iniciais, Francisco Honório decidiu ir na mesma onda.Deixou ficar as iniciais do seu nome, acrescentando-lhe o número de elementos que compunham a banda. Na passagem de ano de 1982, o grupo adoptou a designação de FH5.Nessa altura já Francisco Honório estava arredado dos palcos – “ele voltou à música só para nos indicar o caminho, depois saiu”, refere o filho Luís. Nunca deixou no entanto de acompanhar o grupo. Era ele que fazia os contratos, que tratava de toda a parte logística, que conduzia a carrinha. Uma situação que só se alterou recentemente, quando Francisco Honório atingiu os 70 anos.Os fundadores do FH5 mantiveram-se juntos quase uma década. Depois o grupo começou a funcionar quase como uma escola de música, com bastante rotatividade de elementos, principalmente de técnicos.Mas havia uma particularidade. Como o grupo tinha (e ainda tem) paralelamente um negócio de venda de instrumentos musicais, alguns pagavam os instrumentos que queriam comprar com o seu trabalho no conjunto.Na altura falava-se que quem quisesse comprar um equipamento e não tivesse dinheiro podia sempre entrar para os FH5. Luís Honório diz que as coisas não eram bem assim. Diz que aconteceram algumas vezes, principalmente com técnicos. “Eles queriam comprar equipamento, não tinham muito dinheiro e então davam-nos apoio técnico nos concertos”.O filho de Francisco Honório lembra-se concretamente do caso do “Zero”, um jovem de Tomar que hoje tem a sua própria banda. “Ele entrou como técnico porque queria comprar alguns instrumentos”. Mais tarde o “Zero” acabou por substituir um músico do grupo e voltou a adquirir mais material – “ele preferia não receber caché, investindo-o em equipamento”.Houve também a baixista que, já depois de estar no grupo, comprou um novo instrumento, pagando-o com actuações. Luís Honório diz que os membros do conjunto vão comprando material na loja, que lhes dá facilidades, “mas não é por causa disso que estão no FH5”.O êxito de 28 anos de trabalho contínuo deve-se essencialmente à capacidade de adaptação do grupo às novas tendências do mercado. Sem nunca deixar um fio musical condutor, o grupo funcionou quase como um camaleão. Na década de 80 tocavam músicas mais “pesadas” nos bailes de associações e concertos – chegaram a fazer primeiras partes de grandes nomes nacionais como Rui Veloso ou GNR. Na década de 90 o som tornou-se bem mais popular com o “boom” da chamada música pimba e das canções brasileiras.Com o aumento da oferta de novos espaços musicais em Portugal - concertos, discotecas, bares com música ao vivo – as coisas modificaram-se. Quem quer passar a noite a ouvir pop/rock recorre a esses espaços, deixando os arraiais para os que preferem dançar de braço dado.“Já fomos idealistas há uns anos atrás”, diz Luís Honório. Era quando tocavam o que queriam. Agora tocam mais aquilo que o mercado quer, que o público procura. Há dez anos, nas festas e nos arraiais populares, os FH5 tocavam três ou quatro músicas para dançar, o resto era rock puro.A folha de papel A4 que acompanha sempre Luís tem duas listas de músicas – a da esquerda, com canções populares nacionais e brasileiras e a da direita, muito mais virada para o pop/rock. Apesar da moda ser agora a chamada música pimba, a segunda lista continua a ter muito mais temas que a primeira. Luís Honório, hoje com 40 anos, diz não saber mais quanto tempo tocará mas o grupo que viu nascer, esse, actuará até quando o público quiser. Que há-de ser por muito tempo porque, como diz o fundador do grupo, enquanto houver festas populares em honra de santos, a sobrevivência de grupos como o FH5 está garantida. Margarida CabeleiraO grupo em númerosTrês horas e meia é o número de horas que geralmente tem um concerto dos FH5, praticamente sem paragens. Antigamente o grupo fazia pausas de meia em meia hora, para beber uma cervejinha ou para que as associações fizessem leilões. Hoje em dia o público exige que não haja interferências na música.Cinco são, no mínimo, as horas necessárias para se montar toda a panóplia de instrumentos e equipamentos que o conjunto costuma levar para cada festa.Sete pessoas fazem parte da equipa técnica do grupo de Tomar. Há técnicos para o som da frente, as luzes, o som do palco, os que montam e desmontam o equipamento e o senhor Silvino, que conduz o camião dos FH5.Oito músicos compõem a banda. Além de Luís Honório, um dos fundadores do grupo que toca bateria, há ainda o baixo João Vasco, o Felipe Bastos na guitarra, João Guilherme na percussão, nas teclas Rui Sérgio Oliveira e na guitarra e voz o Ricardo Nogueira. Carolina Antunes e Licínio Vieira, que recentemente substituiu o já famoso Filipe Santos (Operação Triunfo), dão voz às músicas que o conjunto toca.73 anos é actualmente a idade de Francisco Honório, fundador do grupo que só muito recentemente deixou de acompanhar in loco as actuações do seu “terceiro filho”.150 mil euros é o investimento feito pelo grupo no equipamento que põe em palco. Instrumentos, luzes, som, amplificadores e muita robótica. Como dizia Luís Honório, para o conjunto continuar a cantar tem de apostar cada vez mais na qualidade e nas novas tecnologias.

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