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Uma operação muito delicada

Várias pessoas garantem-me que o caso é verdadeiro. Aconteceu mesmo.Quando chega o momento da colheita do tomate, há quem se ofereça para proceder ao trabalho. O diabo é que tem de faltar ao emprego e há quem opte por dar parte de doente.É claro que os serviços da segurança social não andam a dormir e, nessa altura, intensificam a investigação.No concelho de Santarém, existe uma pequenita povoação denominada Prado. É conhecida pela sua cerâmica.Um funcionário da Segurança Social deslocou-se à residência de um trabalhador que se encontrava de baixa. Queria verificar se o homem estava mesmo doente. Foi a esposa dele que veio à porta. Disse toda a verdade.O que o fiscal ouviu foi o seguinte: “o meu marido foi operado aos tomates”. Perante este cenário, o funcionário não quis aprofundar mais a questão. Desejou as melhoras e um pronto restabelecimento.Mas o que a mulher queria dizer é que ele tinha ido colher tomate: “o meu marido foi ao Prado aos tomates”.Os equívocos podem originar as mais curiosas situações.Certa vez, em Estarreja, pela manhãzinha, eu e um escrivão do tribunal entrámos numa pastelaria, à hora da abertura. A azáfama era grande e apenas se encontrava ao serviço a dona do estabelecimento. A dado momento, ela retirou-se para a cozinha, a fim de preparar umas sandes.Por cima do balcão, encontrava-se um tabuleiro cheio de bolos, à espera de serem colocados na vitrina. Enquanto aguardávamos pela nossa vez, o Vítor e eu pensámos que seria boa ideia servirmo-nos de um rim, aquele delicioso bolo coberto de chocolate, recheado de creme de pasteleiro e com o formato que lhe dá o nome. Retirei-o e parti-o em duas metades. Quando a senhora regressou e nos atendeu, esclareci:- Eu tirei um rim.A dona do café olhou para mim com ar atónito. Deve ter pensado a que propósito estaria eu ali a falar-lhe de problemas de saúde.Mas não obstante o ar espantado dela, eu não me apercebi logo do imbróglio que estava a gerar e insisti: “tirei um rim”.Entretanto, o Vítor já tinha compreendido o mal entendido e não conteve o riso. Eu percebi finalmente o que se passava e não resisti a acompanhar o meu amigo nas gargalhadas. Não conseguíamos falar e explicar o que realmente sucedera. A senhora continuava a olhar para nós, admiradíssima.Numa ocasião, nos arredores de Lisboa, o tio de um procurador-adjunto resolveu visitar o sobrinho no tribunal. Naquele momento, o magistrado encontrava-se ocupado, a interrogar um arguido. O familiar aguardou no átrio.Entretanto, aproximou-se dele uma funcionária, que se encontrava de serviço a um julgamento:- O senhor faça o favor de entrar na sala de audiências – disse a oficial de justiça para o homem, que aguardava que o sobrinho terminasse a diligência.É claro que o senhor manifestou estranheza.Mas a funcionária estava firmemente convencida que aquele indivíduo era testemunha no processo. Começou a demonstrar impaciência:- É sempre a mesma coisa! Eu faço a chamada e respondem como estando presentes. Depois, quando chega a altura de irem depor, fazem-se de desentendidos. Dirija-se imediatamente à sala!O desgraçado reiterou que não era testemunha em julgamento algum. Mas a funcionária continuava a pensar que ele tinha-se dado como presente no início, para que não fosse sancionado pela ausência e que naquele momento já se estava a furtar ao depoimento.Foi uma carga de trabalhos. O tio do procurador-adjunto ficou melindrado e não aceitava ser tratado daquela forma.* Juiz(hjfraguas@hotmail.com)

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