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“Falta um projecto de liderança forte”

“Falta um projecto de liderança forte”

Paulo Caldas crítico e preocupado com a falta de afirmação da região

Paulo Caldas é um jovem político em ascensão no Partido Socialista. Presidente da Câmara do Cartaxo e vice-presidente da Comunidade Urbana da Lezíria do Tejo, assume que Santarém necessita de um projecto político e estratégico que lhe restitua a liderança incontestada a nível distrital e a torne mola propulsora do desenvolvimento regional.

O PS foi derrotado no processo de criação das comunidades urbanas, já que defendia a criação de uma área metropolitana do Ribatejo e acabou por ver o distrito dividido em dois. Custou-lhe a engolir esse revés?Não considero que o PS tenha sido derrotado. Esta lei foi da autoria do secretário de Estado da Administração Local, Miguel Relvas, e aliás apraz-me registar a coragem e a determinação dele no sentido de uma reforma administrativa importante que tinha que ser feita. Embora a qualifique de imperfeita e incompleta… Porquê?É aqui que eu considero que o PS não saiu derrotado. O PS foi derrotado antes. Devia ter tido a capacidade para, 4 ou 5 anos antes, ter tido a mesma determinação e feito avançar um processo reformista desta natureza. Perdeu-se a oportunidade de criar espaços de dimensão maior, daí o incompleto e o imperfeito.Acha que este é só um começo?Isto é um percurso que vai ter de ser trilhado e acredito que terá como destino final a criação de regiões plano de dimensão superior. O Vale do Tejo tem cerca de meio milhão de habitantes, começa a ter alguma dimensão. Mas necessitamos de espaços de agregação superior que nos deslocassem para um, dois milhões de habitantes. O PS tem uma oportunidade agora, que é não menosprezar o caminho que foi iniciado. Olhá-lo com sentido crítico e acrescentar valor a este projecto.Mas não faria mais sentido, logo neste primeira fase, agregar o distrito de Santarém numa só comunidade urbana?Perdeu-se essa oportunidade…Também por culpa do PS...O PS perdeu a oportunidade de dar o contributo válido para fazer uma reforma de cima para baixo de uma só vez. Agora está na altura de agarrar este comboio. Agarrar na comunidade urbana, dotá-la dos instrumentos necessários para completar esta reforma. A descentralização de competências tem de ser feita com cabeça tronco e membros…Não falta escala a estas comunidades urbanas?Falta!Porque é que não se conseguiu convencer os autarcas do norte do distrito que seria mais vantajosa a criação de uma única comunidade urbana no Ribatejo?Com a forma como isto foi preparado pelo Governo, com um timing tão apertado, a única forma que havia era agarrar esta oportunidade e dotá-la de mais valor.Não foi mais complicado criar duas comunidades urbanas do que seria criar só uma?Não creio. Querem saber o que vai acontecer neste caso em concreto? A Lezíria vai tornar-se cada vez mais coesa, vai agarrar um conjunto de competências, vai exercê-las e vai ter a necessidade de crescer. Ao percorrer esse caminho vai ter obrigatoriamente maior dimensão geográfica. E onde é que vai encontrar território para alargar essa dimensão?Vai buscá-lo ao Vale do Tejo e vai buscá-lo provavelmente mais a sul. Não me espantaria muito se, daqui a 5 ou 10 anos, com o percurso trilhado pelas áreas metropolitanas tivéssemos uma grande região-plano que agregasse a Grande Lisboa, a Península de Setúbal, o Oeste e o Vale do Tejo…Mas já existe uma Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) de Lisboa e Vale do Tejo que tem esses contornos.Ora aí está! Duvido que as actuais CCDR, talvez até com uma dimensão de agregação maior, não possam ser as regiões efectivas que permitam a Portugal ter dimensão no contexto europeu. Esta reforma foi voluntarista. Foi um início, tem um percurso e acredito que os governos sucessivos vão dotá-la de meios para a tornar mais completa. Tal como na Europa assistimos ao aprofundamento e ao alargamento, também vamos assistir em Portugal a esses dois processos com a criação das regiões-plano e o reforço do municipalismo e das suas competências básicas. A divisão do distrito em dois pode ser visto como um exemplo da incapacidade de liderança de Santarém no contexto regional? Até porque nem sequer ficou com a presidência da Comunidade Urbana da Lezíria do Tejo.Acredito que nos últimos anos não tem havido a coragem política e a determinação para afirmar o distrito no país. Temos condições naturais excepcionais, que passam por uma bacia hidrográfica muito rica, temos também uma qualificação paisagística enorme, temos uma rede de acessibilidades única no país que nos permitiria potenciar aquilo que é um desenvolvimento não só dos cidadãos mas da sociedade civil e das empresas.O que tem faltado?Tem faltado coordenação, integração e um projecto de liderança do distrito. Falta um projecto que agregue estas potencialidades e que dê ao distrito a posição que ele merece no país.A revolta de mentalidadesO diagnóstico é unânime. Mas porque é que não se tomam medidas?Temos olhado muito para o umbigo, tem havido uma grande preocupação de haver protagonistas e pouca ou nenhuma preocupação de se encontrar esse projecto. Daí as divisões norte-sul. Daí termos politécnicos em Tomar em Santarém e não termos uma universidade do Ribatejo. Tem de haver uma revolta de mentalidades. Sempre houve a perspectiva do protagonista e nunca a do projecto. Houve preocupações com o Tejo, com o Zêzere, houve movimentos… A assembleia distrital deve ser extinta imediatamente, porque não faz nada. O próprio Congresso do Ribatejo deve ter um modelo adaptado à modernidade, à tal afirmação e liderança.Fala contra a própria classe de que faz parte.Somos todos responsáveis e os políticos estão à cabeça. Tenho sentido por parte da Nersant a força motora no sentido de agregar os empresários em projectos de liderança. Da parte das autarquias, como houve essa desagregação norte-sul não houve capacidade de agarrar esse projecto integrado. Mas há outros culpados…Quais?Os serviços desconcentrados da administração central não têm tido a dinâmica que ultrapasse os mandatos políticos. Não têm tido uma visão que ultrapasse os 4 anos. Vamos à área da saúde e vemos a miséria que foi. Abrantes, Tomar e Torres Novas têm um hospital cada, o que é uma vergonha para nós. O seu partido também tem aí grandes culpas.A minha visão é de preocupação com a região, apartidária. E posso dizer que este Governo tem dado um grande contributo financeiro ao distrito, também pelos protagonistas que tem tido à frente, como o secretário de Estado Miguel Relvas e outros que lá ficaram. Fala assim porque o Governo finalmente desbloqueou a questão do nó de acesso à auto-estrada no Cartaxo? Porque o seu vizinho de Santarém diz o contrário, que este Governo não tem investido nada no seu concelho.Não, não. E não me puseram cá o nó de acesso à auto-estrada, lutei por ele. Acho que este distrito tem mobilizado recursos financeiros de norte a sul. Agora não há agregação e as culpas são partilhadas. Não há humildade. Os protagonistas estiveram sempre à frente do projecto.Que projecto?Um projecto que passe inevitavelmente pela liderança de Santarém como capital de distrito. Passa obrigatoriamente por um reforço da capitalidade de Santarém, mantendo parceiros como a Nersant, as regiões de turismo mais activas e os serviços desconcentrados das diferentes áreas sectoriais e a CCDR, com uma visão de conjunto e de complementaridade.Não será já tarde?É agora que se vão trilhar os principais papéis e os autarcas do Médio Tejo e da Lezíria do Tejo devem rapidamente agarrar essas competências e fazer um esforço complementar de investimentos. O final deste Quadro Comunitário de Apoio e o próximo devem levar os autarcas a esta leitura: devemos fazer aqui investimentos públicos complementares. Porque tem vindo o dinheiro mas tem sido utilizado em projectos a par e passo. É a tal estratégia do tem-se este projecto conquista-se. Há que ter uma visão diferente. Abrantes não pode lutar só pelo tecnopólo. Abrantes luta pelo tecnopólo porque Santarém e Cartaxo em conjunto lutam por um parque de negócios que é o maior do distrito. Tem que se ter esta visão complementar.Como é que se consegue isso?Reforçando o papel das comunidades urbanas neste espírito de agregação e de complementaridade. Vai chegar o dia em que o presidente da Comunidade Urbana da Lezíria do Tejo e o presidente da Comunidade Urbana do Médio Tejo se juntam, encetam um processo de diálogo e dizem que trabalham melhor agregados numa dimensão superior. Eu acredito que esse dia possa chegar.João Calhaz
“Falta um projecto de liderança forte”

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