Primeiro a neve e depois a América
A viagem de carro, de Tomar até à estância de Pal, em Andorra, durou 17 horas. Durante todo aquele tempo, Mary ouviu o mesmo lamento do marido. Parecia um disco riscado. “Eu não quero saber de neve. Vocês podem ir esquiar mas eu fico no hotel. Levo ali uma pasta cheia de livros e fico a ler”. O sorriso maroto dela obrigava-o a ser mais veemente. “Estou a falar a sério!”.Tudo começou com um convite dirigido ao filho mais velho do casal, o Daniel. Uma prima de Mary Ruivo estava disposta a levá-lo para uns dias de férias na neve. Era na altura da Páscoa e já lá vão dez anos. Em vez de um elemento da família foram todos.Mary e o marido, António Ruivo, tinham passado a infância e adolescência em África. Ela na antiga Rodésia e ele em Angola. A curiosidade de um esbarrava na desconfiança do outro perante umas férias no frio.A Portugal, quatro ou cinco dias depois, regressou uma família super-feliz. António Ruivo, deslumbrado pela facilidade com que se adaptou aos esquis. Parecia mais novo que os filhos, Daniel e André. Se pudesse nem dormia. Foi esquiar sem parança. Mary, incomodada por um hérnia discal, maravilhou-se com a paisagem e aproveitou os livros que o marido tinha levado. As crianças divertiram-se como só elas sabem. As férias na neve foram fabulosas, mas as férias de sonho de Mary Ruivo aconteceriam quatro anos mais tarde. Uma estadia nos Estados Unidos da América a convite do irmão, vice-presidente de uma multinacional. Pôr em palavras o que viveu nesse período é impossível. São adjectivos atrás de adjectivos. Em português, em inglês. Fantástico, fenomenal, inesquecível, fabuloso, super, inolvidável...Tudo tão diferente dos filmes. Chicago, cidade onde o irmão reside, surpreendeu-a pela organização, pela dimensão, pela beleza. No Disney World voltou à infância. Conviveu com todas as figuras dos desenhos animados, experimentou todos os divertimentos, percorreu tudo o que havia a percorrer. “Eu era uma criança grande. Éramos todos. Experimentei tudo, tudo, tudo”, diz entusiasmada.Conviveu com dezenas e dezenas de americanos e limpou a cabeça de preconceitos. “Não são broncos, nem arrogantes, nem mal educados. Vi centenas de pais com os filhos a visitar parques de ciência, museus, locais de cultura. Pessoas tremendamente simpáticas, curiosas, interessadas”, afirma. Confirmadas ficaram duas ideias. Fast-food e patriotismo. “É mesmo verdade. Empanturram-se de fast-food”. Quanto ao patriotismo a mesma coisa. “Fomos a um rodeo e antes cantaram o hino. E num torneio de futebol juvenil, entre equipas amadoras, cantava-se sempre o hino antes dos jogos”.E o que pode melhorar umas férias de sonho de uma “mãe galinha”? Uma proeza de um dos filhos, pois claro. “O Daniel fez parte da equipa do primo no tal torneio de futebol. Ganharam e ele, que marcava muitos golos, teve direito a um destaque especial”.
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