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Novo emprego depois dos 50

Maria José Silva ficou desempregada e hoje trabalha por conta própria no ramo da estética

A vida de Maria José Santos Silva mudou radicalmente nos últimos seis anos. Aos 55 anos ficou desempregada mas não virou a cara à luta. Inscreveu-se no centro de Emprego de Tomar, conseguiu tirar o curso profissional de manicure/pedicure e, mais tarde, um segundo curso de cuidados de rosto e corpo. Hoje trabalha por conta própria.

Longe vão os tempos em que Maria José Silva tinha horários a cumprir. Hoje a esteticista de Tomar tem dias em que almoça às três da tarde e encerra o seu trabalho às dez da noite. Uma vida que há meia dúzia de anos estaria longe de imaginar.Hoje, no pequeno gabinete que explora num cabeleireiro, Maria José sente-se realizada. Faz depilações, tratamentos de rosto e corpo, massagens, arranja os pés e as mãos das clientes. E é uma crítica relativamente à forma como algumas mulheres dão pouca importância à sua apresentação.“A mão é a porta aberta ao nosso corpo”, refere a esteticista, adiantando que a mão é um instrumento que fala tanto como a boca – o modo como ela está trata demonstra como a pessoa é na vida.Apesar de gostar de arranjar mãos são os pés que Maria José mais gosta de “trabalhar”. “Quanto pior vierem, mais prazer me dá”, refere. E novamente a crítica – “Arranjar os pés é quase como ir ao dentista, só na última, quando dói”.Enquanto fala, a esteticista vai limando as unhas de uma cliente. Põe um produto para tirar a cutícula sem magoar e um creme hidratante por cima. Enquanto uma mão fica em água morna, trabalha-se na outra. Arranja a cutícula – que só deve ser cortada quando o tecido está morto – faz um esfoliante para dar saúde à unha e só depois lima e pinta. No final a unhas parecem renascidas e a mão mais atraente.Maria José Silva trabalhou desde sempre num ofício que nunca lhe agradou. Era uma espécie de faz tudo numa empresa familiar – atendia telefones, tratava da correspondência, fazia o atendimento dos clientes e até mexia na contabilidade, orientada por um contabilista.Quando a firma faliu, Maria José ficou numa situação delicada. Com a sua idade já ninguém a contratava e não podia ficar de braços cruzados em casa, porque o dinheiro fazia falta.As opções não eram fáceis. Com o marido doente na altura, Maria José pensou em tomar conta de crianças em casa, juntando o útil ao agradável. Sempre gostou de crianças – na juventude quis ir tirar o curso de educadora de infância mas os pais não a deixaram ir para Lisboa sozinha – e dava apoio ao marido. Mas o facto de ficar “presa” em casa todo o dia não era coisa que a animasse. Estava neste impasse quando recebeu na caixa do correio a publicidade a um curso de estética à distância. Agarrou a oportunidade e adquiriu o curso. Mas, como ela própria diz, foi uma grande asneira que fez – “este tipo de cursos têm de ser feitos com prática, com alguém do nosso lado a explicar as nossas dúvidas”. Pagou o curso mas não foi capaz de o fazer.Mas os dossiers e as cassetes do curso vieram a revelar-se importantes mais tarde, quando entrou para o curso de manicure/pedicure dado pelo Centro de Formação Profissional de Tomar. Soube da existência deste curso por puro acaso, quando foi ao centro de emprego saber se lhe podiam dar o dinheiro do fundo de desemprego todo junto, para abrir um negócio. Em conversa com uma responsável do centro, Maria José Silva falou do curso à distância que tinha comprado, do qual não tinha conseguido tirar proveito.Foi quando ficou a saber que o Centro de Formação Profissional de Tomar também fazia cursos de estética e que, apesar da idade, se poderia inscrever. “Mas as coisas não foram assim tão fáceis”, conta, adiantando que, como se tinha iniciado um curso pouco tempo antes, teria de esperar pela abertura de outro.Maria José Silva inscreveu-se desde logo mas achava sempre que, devido à idade, não era chamada. Um ano e meio depois fez os testes necessários, sempre convencida de que não iria entrar – “Havia umas 30 candidatas, todas mais novinhas que eu e só podiam entrar 12”.Às 19 horas de um dia qualquer o telefone toca e Maria José ficou a saber que tinha sido escolhida. O curso começava no dia seguinte às nove da manhã. Nem teve quase tempo para festejar. Mas chorou de alegria.E revelou-se uma aluna aplicada nos nove meses do curso. “Aprendi muito, os professores eram excelentes, particularmente a professora de prática”, diz quem acabou o curso de manicure e pedicure com nota alta – na prova prática tirou mesmo a nota máxima, 20.Começou por trabalhar em casa, num quartinho que arranjou para o efeito. As clientes apareciam pelo “boca a boca”. E perguntavam-lhe se não fazia depilações, tratamentos de rosto ou massagens à coluna. Foi por isso que voltou ao centro de emprego, para tirar novo curso, especificamente dedicado ao tratamento do corpo e rosto. E acabou por arranjar um gabinete num cabeleireiro da cidade, pagando o aluguer com uma percentagem dos lucros mensais.Margarida Cabeleira

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