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“Nem um bocadinho de tubo lá havia”

“Nem um bocadinho de tubo lá havia”

Não são só as empresas que sentem dificuldades em operar nos países africanos. As câmaras municipais também são afectadas. É o caso da autarquia do Entroncamento, concelho que está geminado com o de Mosteiros, em Cabo Verde. Há oito anos a autarquia portuguesa ofereceu-se para montar uma bomba de tirar água de um furo artesiano. A exemplo do que acontece com as empresas, a câmara enviou para aquele território os funcionários municipais acompanhados de um contentor cheio de materiais e ferramentas. Quando os trabalhadores da Câmara do Entroncamento chegaram ao município africano deparam com um cenário onde faltava tudo. Onde a água é vendida a balde, em fontanários, e transportada em câmaras-de-ar dos carros no lombo dos burros.Os cabo-verdianos de Mosteiros não acreditavam que pudesse surgir água debaixo daquele chão. Houve quem rezasse e pedisse aos deuses para que fizessem nascer água. Nunca tinham visto uma bomba de tirar água. Uma corda que fazia parte da bagagem da comitiva do Entroncamento, acabou por ser retalhada por populares, aproveitando a hora de almoço dos técnicos portugueses. Os bocados iam servir para atar as câmaras-de-ar cheias de água aos burros. A necessidade motivou a acção.“Não havia lá nada. Nem sequer se conseguia encontrar um bocadinho de tubo”, conta José Lucas, encarregado da Câmara do Entroncamento, que já esteve em Mosteiros por duas vezes. José Lucas lembra-se de ver miúdos a comer o “esforovite” que servia para acondicionar os materiais. “Eles diziam que era muito bom. Que sabia bem. Era uma pobreza que doía”, descreve.Nos 18 dias que esteve em Cabo Verde, José Lucas assistiu a coisas que para o comum dos cidadãos europeus parecem histórias de outro mundo. A polícia local só tinha uma pistola que rodava pelos agentes. Muitos dos carros andam a cair aos bocados e quando avariam param porque nem há peças nem ninguém que os concerte. “Uma vez mandámos para lá um carro, que depois teve um problema na caixa de velocidades. Foi abandonado e acabou por apodrecer”, lembra. Numa terra onde um balde água de 20 litros custa um cêntimo e um encarregado da câmara tem um ordenado que não passa os 100 euros mensais, as melhores imagens que José Lucas guarda de Mosteiros são as paisagens. O alojamento também era razoável, apesar de faltar o ar condicionado.
“Nem um bocadinho de tubo lá havia”

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