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Mau estudante deu bom carpinteiro

Mário Jorge Gonçalves quer vingar numa profissão que os avós mantinham como hobbie

Mário Jorge Lourenço Gonçalves nunca gostou muito de estudar. Foi por isso que saiu do ensino oficial quando terminou o oitavo ano e optou por tirar um curso no Centro de Formação Profissional de Tomar. Quatro anos depois o jovem de Carrazede (Tomar) trabalha como carpinteiro, seguindo a tradição familiar.

Quando era mais pequeno Mário Jorge Lourenço Gonçalves ajudava o avô paterno a construir gaiolas em madeira para pássaros e galináceos, no quintal lá de casa. O avô materno também tinha jeito para construir coisas em madeira e um tio trabalha na área.Talvez por isso, o jovem de Tomar cedo deixou o ensino oficial e optou por seguir as pegadas dos seus familiares, tirando um curso de carpinteiro de limpos. “Isto é um bichinho que vem de geração em geração”, refere.Mas foi a mãe que “mexeu os cordelinhos” para Mário Gonçalves frequentar o curso de carpintaria de limpos no Centro de Formação Profissional de Tomar. “Eu nem sabia que existia este curso no centro”, confessa o carpinteiro de Carrazede, aldeia do concelho de Tomar.Apesar de se considerar um aluno “mais ou menos”, a verdade é que o jovem se sentiu como peixe na água durante os três anos em que durou o curso. Tanto que em 2002 conseguiu arrecadar um primeiro lugar no Concurso Regional de Formação Profissional, ficando também no pódio (terceiro lugar) no concurso nacional.E este ano voltou a repetir a dose, arrecadando novamente o primeiro lugar no concurso regional efectuado entre os centros de formação profissional de Lisboa e Vale do Tejo. Em Novembro estará em Aveiro para tentar a dobradinha e trazer para casa o título de melhor na sua profissão a nível nacional, num concurso que se vai realizar em Aveiro.Mário Jorge Gonçalves diz que aprendeu muito durante os três anos de duração do curso. Por exemplo a fazer e ler projectos de carpintaria. E começou também a mexer com máquinas das quais pouco ou nada sabia. Como a esquadrejadora, máquina que corta a madeira em ângulo recto; a garlopa, uma espécie de plaina grande, que tem por missão endireitar a madeira; a furadora, responsável pelos furos ou ainda a respigadoura, que faz o entalhe da peça de madeira que entra no encaixe de outra peça.Durante o curso Mário Jorge dedicou-se essencialmente à execução de pequenos móveis de sala, mesas de cozinha e baús. Um ano após ter concluído o curso o carpinteiro dedica-se muito pouco aos móveis e muito mais a execução de roupeiros, portas e aduelas em prédios e vivendas. Dentro da área é o trabalho que mais o estimula, talvez pelo facto de não estar todo o dia fechado na oficina. “Assim sempre vamos mudando de cenário”, refere o jovem de Carrazede.É na empresa onde fez o estágio profissional, sediada no concelho de Ourém, que Mário Jorge actualmente exerce a profissão. E não poupa elogios ao patrão. Paga bem e dá excelentes condições aos trabalhadores, difíceis de encontrar hoje em dia.Actualmente o carpinteiro integra uma equipa que está a realizar trabalhos em prédio e vivendas na zona da grande Lisboa e só vem a casa aos fins-de-semana. Durante os cinco dias de trabalho dorme num apartamento alugado pelo patrão e é também ele que se responsabiliza pelos mantimentos dos seus funcionários.“A cozinha do apartamento está equipada com todos os electrodomésticos e é o patrão que trata da comida”, refere o jovem, adiantando que é ainda ele que o vai buscar a casa, a cada início da semana, e o leva para Lisboa.É um trabalho árduo mas compensador. O carpinteiro começa o ofício às oito da manhã e termina às 19 horas, com hora e meia de almoço. E ainda há tempo para comer a “bucha” a meio da manhã e beber uma cervejinha lá para a tarde. Horas extraordinárias só faz esporadicamente, só quando o prazo para entrega da obra aperta. “Quando é para trabalhar, trabalha-se, não se faz corpo mole”.E segue-se todas as regras de segurança. Além da bata de cor bege, Mário Jorge usa umas botas especiais, com biqueira de aço. A própria sola tem uma protecção de aço antes da borracha, por onde não consegue entrar nenhum prego.Até hoje o carpinteiro só teve um acidente. Cortou alguns dedos da mão direita no decorrer do concurso regional, levando seis pontos. Nada que o fizesse perder o ânimo.Com apenas 19 anos, Mário Jorge Gonçalves ainda tem muito tempo pela frente para concretizar o seu sonho – estabelecer-se por conta própria e assim seguir uma tradição familiar.Margarida Cabeleira

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