Tradições à vara larga
Samora Correia recupera picaria num novo recinto
Em Samora Correia as tradições são à vara larga. Durante as festas, a vila ribatejana inaugurou um recinto onde recuperou a picaria e juntou centenas de apreciadores da arte de campinos e cavaleiros.
Joana Couves é uma jovem que tem a ambição de vir a ser figura como cavaleira tauromáquica. A rapariga - elegante, simpática e sem medo - estreou-se numa prova de picaria à vara larga e, por ser mulher, foi uma das figuras na festa campera que no domingo, 15 de Agosto, juntou centenas de apreciadores da faina campina em Samora Correia. A iniciativa do Clube Taurino da localidade recuperou uma tradição antiga que tinha sido interrompida há 10 anos por falta de um espaço com condições na vila ribatejana. A picaria foi inserida no programa das Festas em Honra de Nossa Senhora da Oliveira e Nossa Senhora de Guadalupe que terminaram na segunda-feira.O povo gostou da picaria e aplaudiu mais de duas dezenas de campinos e cavaleiros que proporcionaram varadas de belo recorte técnico, apesar de alguns sustos que um dos quatro novilhos pregou a alguns participantes. O exemplar da Ganadaria Conde Cabral saiu cheio de pata e não fosse a experiência de Orlando Vicente, e a ajuda de um colega, o pior poderia ter acontecido. O cavaleiro João Fernandes também sofreu quando a sua égua se magoou numa mão e, a muito custo, foi retirada do recinto sem que o toiro se aproximasse. Valeu a mestria dos campinos que com um jogo de cabrestos conseguiram entreter o toiro.A melhor varada de campino foi recortada por João Inácio “Janica” que recebeu o trofeu João Toureiro e entre os amadores foi Orlando Vicente (filho do campino) que desenhou a melhor sorte e foi premiado com o trofeu João Pedro Oliveira. O Clube Taurino distinguiu ainda os jovens Joana Couves com o trofeu Maria Mil Homens por ter sido a única mulher presente e João Fernandes com uma menção honrosa por ser o mais jovem dos homens.Mas o espaço da picaria já tinha sido estreado no sábado com uma prova de condução de jogos de cabrestos. A prova consiste em fazer passar um jogo de sete cabrestos (seis cabrestos mais o boi da guia) em vários obstáculos no menor tempo possível. Parece fácil, mas os animais têm crenças e ganham um sentido que complica o trabalho dos campinos. É preciso treino, conhecimento dos animais, perícia e mestria.A prova juntou 10 casas agrícolas. A Companhia das Lezírias (CL), que somou triunfos nas festas onde marcou presença, venceu com larga folga. O segundo lugar foi para o jogo de cabrestos do Engº Lopes da Costa e o terceiro para a Casa José Dias de Salvaterra de Magos.Nas provas com três campinos a conduzirem um único cabresto, os representantes da Casa Emílio Infante da Câmara triunfaram. Mas os campinos tiveram também oportunidade de competir individualmente numa prova que juntou a perícia à velocidade. José Paulo da Casa Manuel Coimbra foi o melhor, Dionísio Alexandre (CL) foi o segundo e Casimiro Diogo da Portucale foi terceiro.Os prémios foram entregues à tarde numa cerimónia imponente que juntou quase uma centena de campinos e cavaleiros no largo do Calvário. Na ocasião foi homenageado Dionísio Alexandre, um campino da Companhia das Lezírias a caminho dos 70 anos e que por motivos de saúde já não pode montar da forma como o fez nas entradas de toiros da festa nos últimos anos. Novo recinto foi aplaudidoO novo recinto da picaria veio preencher uma lacuna sentida durante as festas e fundamental para a promoção de iniciativas ligadas à vida no campo e à festa brava. Com uma área idêntica a dois campos de futebol, o rectângulo vedado com madeiras resistentes e típicas está bem enquadrado na margem do rio Almansor. Não foram esquecidas várias curraletas de grande dimensão para guardar o gado e um palanque para organizadores e convidados. Os acessos foram facilitados e não faltam sombras naturais para o público.Próximo da sede da Arcas e do centro columbófilo, o espaço é ladeado pela rua do Povo Livre (Pombalinho) que serviu de bancada. O povo espalhou-se em redor das tranqueiras e emoldurou o espaço que foi cedido por um particular (Pedro Casquilho) ao Clube Taurino por um período de seis anos. A Câmara Municipal de Benavente custeou a montagem do recinto, mas como sublinhou o presidente António José Ganhão foi fundamental a coragem e a determinação de um grupo de jovens que se uniram na defesa das tradições da sua terra. Nelson Silva Lopes
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