*Ricardo CarreiraConfesso que há coisa de sete ou oito anos, quando eu ainda frequentava o ensino superior, não era O MIRANTE que entrava regularmente em casa dos meus pais. O jornal era identificado com a localidade de origem e as pessoas de Santarém olhavam-no com a desconfiança com que muitos portugueses olham agora para os imigrantes de Leste.Agora é diferente. O jornal ganhou dimensão e provou com o seu trabalho que é capaz de ser o grande jornal de uma região, sem renegar o local de nascimento. Não só entra em casa de milhares de famílias de Santarém e de quase todas as localidades do distrito e ainda dos concelhos de Azambuja e Vila Franca de Xira, como a sua saída é aguardada semanalmente com alguma expectativa.O MIRANTE é uma boa escola de jornalismo para quem acaba de sair dos bancos da escola onde aprendeu a parte teórica da profissão. Nestes três anos e meio que levo como elemento da equipa fiquei a perceber que a grande sapiência que julgava ter era apenas o bê á bá. Não era escola superior, era escola primária. E a ideia de estarmos sempre a aprender até morrer ganhou significado.Uma coisa é termos as regras na ponta da língua, outra é pô-las em prática. Sabemos que a abertura de um texto tem que ser forte, cativante, directa, mas quando, de repente ficamos m frente ao ecrã do computador a olhar para o bloco de notas e a pensar no prazo que temos que cumprir nem sempre somos capazes de passar da teoria à prática. Dizem-nos que devemos cruzar fontes; respeitar o princípio do contraditório; mantermo-nos neutrais. É fácil recitar a ladainha perante o professor da cadeira. O difícil é andar em terrenos minados à procura do caminho para a verdade. O grande desafio é encontrarmos no dia seguinte à saída do jornal, ao nosso lado no café, os protagonistas e os destinatários das notícias que escrevemos e conseguirmos sentirmo-nos bem connosco e com a nossa consciência profissional.Por vezes os leitores vêm-nos como uma espécie de justiceiros capazes de obrigar poderes constituídos a fazer o que devem fazer. O sentimento tem razão de ser, infelizmente, quantas e quantas vezes há assuntos que só são resolvidos depois de serem divulgados nas páginas de O MIRANTE?O jornalismo é uma profissão interessante, stressante e exigente. Requer uma disponibilidade que eu não imaginava quando decidir enveredar pela profissão. A melhor escola para esta profissão, como ouvi no dia do nosso 17º aniversário ao dr. Francisco Pinto Balsemão, é um jornal regional como O MIRANTE. Sei-o agora e posso dar testemunho disso, embora perceba que a maioria dos que ainda frequentam os cursos de comunicação social se continuam a deixar ofuscar pelas luzes das televisões e pelo prestígio dos grandes jornais nacionais.*Jornalista