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Pobres mortais

Pobres mortais

*Margarida TrincãoNos últimos tempos os jornalistas tornaram-se notícia. Atribui-se-lhes todos os males e o sentimento geral de amor e ódio agudizou-se. Primeiro a história das cassetes do Correio da Manhã, depois a saga Marcelo Rebelo de Sousa / TVI.Ética, deontologia, censura e liberdade de expressão foram proclamados, com grandes declarações de princípio. Santana Lopes chamou “ruído” as estas perturbações à sua sã governação. Mas o “ruído” tornou-se demasiado turbulento encheu noticiários e páginas de jornais e de toda a confusão pouco vai ficar. A não ser, e de vez em quando é necessário refrescar as mentes, que há regras e códigos que, como em tudo na vida, convém respeitar.Utilizar conversas particulares para conseguir mais um furo e subir as tiragens do jornal é tão lamentável quanto por meios mais ou menos explícitos tentar limitar as opiniões. Não há santos nem diabos, uns e outros têm os seus interesses próprios e são vítimas de outros que, por um acaso da história, se lhes conseguem sobrelevar em algum momento. Ter por profissão informar tem tanto de aliciante como de perturbador. Ninguém se despe das suas próprias capas e quando se discute a isenção e a objectividade coloca-se no outro prato da balança que os jornalistas não são meros megafones, com a função de alardear o que outros dizem em círculos restritos.Mas era esse o trabalho que os detentores do poder político ou do económico por detrás dos políticos, mais gostariam. Não levantar ondas, vender o peixe, como se comprou e, se possível, fazer uns descontos pelos meio.Em círculos pequenos, a proximidade, extremamente vantajosa sob determinado ponto de vista, torna muito mais complicado o trabalho de informar. Autarcas zangam-se com jornalistas só porque não querem trazer para a esfera pública, devidamente, sistematizado os problemas que todos vêm. Fazem as suas próprias leis e impedem até que acontecimentos e documentos públicos cheguem ao conhecimento dos jornalistas.O poder corrompe, seja ele qual for, e quando as presidências são assumidas pelos mesmos durante anos e anos, o autismo apodera-se das mentes. Os nossos eleitos sentem legitimamente que representam as populações, mas a auto-crítica, o sentimento de respeitar o eleitorado é inversamente proporcional ao número de vezes que ganharam o escrutínio.Derivações sobre uma profissão que, quer se queira ou não, está sempre no centro das atenções. São mortais imperfeitos estes que escrevem, como o são todos os outros sobre quem escrevem. Mas os graus de responsabilidade são diferentes. A uns compete proclamar feitos a outros desvendar o que se esconde por detrás das fachadas, sem que para isso seja necessário esconder gravadores dentro dos bolsos.* Jornalista
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