Quando andava na escola primária, Ana Cardoso, costumava sentar-se num banquinho ao pé da avó a ler-lhe velhas folhas de jornal que vinham a embrulhar as mercearias. Era no Pinheiro Grande, Chamusca, numa família que dava valor às notícias. O pai também trazia jornais para casa, de tempos a tempos, e quando acabava de os ler dava-os à filha para ela exercitar a leitura. A memória da engenheira civil, que a partir de certa altura da vida deu ao Entroncamento o estatuto de sua segunda terra, também retém a imagem do pai sentado em frente a uma enorme telefonia a válvulas que repousava em cima de uma mesa como se fosse um objecto sagrado num altar. “Ele interessava-se muito por política e estava sempre a tentar encontrar nas entrelinhas e nos subentendidos, aquilo que, na altura, não podia ser dito. Passava muito tempo a ouvir”.Ao contrário do pai, Ana Cardoso não se interessa por política nem por políticos. Nos jornais procura agora informação relacionada com a profissão e com o quotidiano social. Confessa que as estratégias editoriais baseadas em títulos e textos apelativos funcionam com ela. Lê a secção de sociedade e dá muita atenção às questões relacionadas com a segurança, um assunto que a preocupa.Se fosse jornalista o seu género preferido era a entrevista. O meio de comunicação onde escolheria trabalhar seria a rádio ou a televisão porque considera que não tem muito jeito para escrever. “Gosto muito de conversar. Acho que era interessante falar com pessoas mais velhas. Registar e divulgar o que elas têm para nos contar sobre outros tempos e sobre acontecimentos que determinaram o nosso presente e irão influenciar o futuro dos nossos filhos e dos locais onde vivemos”.Leitora regular de O MIRANTE não perde as secções mais irónicas. “O Cavaleiro Andante é uma espécie de resumo crítico das notícias de cada edição. Uma forma divertida de dar informação. O MIRANTE cor-de-rosa põe-me bem disposta. E do que nós precisamos é de boa disposição”. Em casa costuma haver jornais. Sempre houve jornais. O filho cresceu em contacto com jornais e revistas. Não lia notícias à mãe sentado num banquinho mas ganhou hábitos de leitura que conserva.Ana Cardoso confessa que não gasta muito dinheiro em jornais mas não perde uma oportunidade de ler. Se entra num café e há jornais ou revistas disponíveis, não sai sem os folhear. Lê os títulos se o tempo é pouco, e um ou outro artigo se nenhuma obrigação a chama.O que nunca perde são notícias relativas a terramotos. Não se trata de nenhum fascínio especial pela desgraça mas de um interesse genuíno por aquele tipo de fenómenos e por tudo o que tenha a ver com a constituição do nosso planeta. Vai à Internet diariamente mas apenas para consultar as previsões meteorológicas e para pesquisar dados relativos a novos materiais de construção. As notícias online não lhe despertam curiosidade. Ler, ler é em suporte de papel.