Falta de lealdade e perseguição
Vítor Guia, ex-vice-presidente da Câmara da Golegã, abre o jogo e acusa Veiga Maltez
Vítor Guia, ex-vice presidente da Câmara da Golegã, abre o jogo e conta por que pediu a aposentação, abandonou a vice-presidência e entregou os pelouros. O braço direito de Veiga Maltez no primeiro mandato acusa o presidente de falta de lealdade e de criar um clima de medo na autarquia.
Falta de lealdade e perseguição são algumas das críticas que Vítor Guia, ex-vice presidente da Câmara da Golegã, dirige ao presidente da autarquia, Veiga Maltez (PS). Atitudes que, diz, o levaram a abandonar os pelouros que detinha, embora se mantenha como vereador.Sem papas na língua e definindo-se como um homem que diz o que pensa de forma directa, Vítor Guia decidiu, em entrevista a O MIRANTE, contar os motivos que o levaram a pedir a aposentação e a permanecer no executivo goleganense. A decisão surgiu após a entrevista dada por Veiga Maltez a O MIRANTE (edição de 4 de Novembro de 2004). “Pensei falar logo que começaram as primeiras difamações, mas como quem não deve não teme, deixei-me ficar calado”, justifica. Fazendo a resenha dos acontecimentos dos últimos anos, Vítor Guia, o único elemento filiado no PS do executivo goleganense, lamenta a alteração de comportamento do presidente que diz ter começado a sentir-se logo no início do actual mandato. “Nos primeiros quatro anos funcionámos como uma equipa, havia diálogo entre todos os elementos do executivo e fizemos muito trabalho, mas logo no início deste segundo mandato começou a notar-se essa falta de diálogo. Faziam as coisas, o presidente ou o vereador Melancia Cachado, com o conhecimento do presidente, sem que os outros elementos soubessem, nomeadamente eu que era vice-presidente. As relações foram-se deteriorando e no final do ano passado pedi a aposentação”, afirma. Vítor Guia conta que por diversas vezes chamou a atenção do presidente para a situação. Nos “quinze dias seguintes as coisas funcionavam bem, depois voltava tudo ao mesmo”.A nomeação de Elsa Lourenço para chefe de divisão, que entretanto passou a chefe de gabinete, e a assinatura do protocolo para a biblioteca, presidida pelo secretário de Estado da Cultura, são dois dos exemplos que Vítor Guia menciona. Em qualquer dos casos o então vice-presidente só tomou conhecimento formal na véspera. E no caso da nomeação soube pelos funcionários.As relações iam de mal a pior e em Junho, quando recebeu a carta de aposentação pedida no final de 2003, Vítor Guia decidiu abandonar a vice-presidência da câmara e os pelouros que lhe estavam inerentes. “Mas fui eu que decidi e entreguei os pelouros na reunião de câmara de 7 de Julho, não foi o presidente que me os retirou como ele diz na entrevista de O MIRANTE”, frisa, acrescentando que decidiu permanecer no executivo por respeito ao eleitorado, ao PS e à própria câmara, mas não aos actuais autarcas.Sentindo-se injustiçado e de alguma forma traído pelo homem que ajudou a ganhar a câmara, Vítor Guia desabafa: “Sofri muitas calúnias, passei maus bocados. O que disseram de mim veio a provar-se que era mentira. Houve muita gente que veio ter comigo, mas dos elementos da câmara não ouvi nenhuma posição pública e tinham todos os elementos para desmentir o que se dizia”.Vítor Guia encontra dois motivos que justificam o comportamento de Veiga Maltez. “Não tenho nenhuma licenciatura e o presidente só gosta de licenciados, por muito que me custe admitir esta é uma razão. Mas ele esquece-se que fui eu que o levei às costas no primeiro mandato. Foi ele que disse que só se candidataria se eu fosse em segundo. Modéstia à parte, ele sabia que se eu não fosse era uma derrota anunciada. Não estou arrependido, mas sinto-me magoado pela forma como me vi forçado a abandonar a vice-presidência”.Outra das razões apontadas por Vítor Guia prende-se com a sua personalidade. “Nunca fui pessoa de dizer ámen a tudo, como o presidente gosta. Digo o que tenho a dizer e faço-o directamente”, continua.Mas as críticas às atitudes do presidente da capital do cavalo vão para além do relacionamento com Vítor Guia. “Há um mau ambiente generalizado. Criou-se um clima de medo e todas as pessoas válidas foram afastadas dos lugares”, acusa o vereador que prossegue: “No primeiro mandato desenvolveu-se muito trabalho, agora as obras abrandaram e a câmara mudou muito, mas para pior. Espera-se horas por uma reunião com o presidente e é preciso marcar senão não se encontra e mesmo assim arrisca-se a esperar horas. Dantes criticava-se o antigo presidente de que passava pouco tempo na câmara, mas agora estamos no mesmo”. Ele próprio, garante, pediu uma reunião com Veiga Maltez em 30 de Junho, com “carácter de urgência”, e ainda está à espera que seja agendada. “Se calhar até foi melhor assim. Nessa reunião tencionava comunicar ao presidente que abandonava a vice-presidência e os pelouros. Como não houve tempo tomei essa atitude numa reunião pública. Deste modo não restam dúvidas que fui eu que tomei a decisão”.Quanto ao futuro, Vítor Guia diz que está à disposição do PS, partido de que é militante há mais de 30 anos, como sempre esteve. “Em política nunca se diz nunca, mas se as coisas tivessem corrido como se previa, acabava o mandato e ia dar apoio à empresa familiar. Assim levo-o até ao fim e estou à disposição do PS para o que for necessário, incluindo fazer parte de qualquer lista para qualquer órgão autárquico”, conclui.Margarida TrincãoPS da Golegã ainda não escolheu candidatoNa concelhia socialista da Golegã a escolha do candidato à câmara nas próximas autárquicas continua em aberto. A opção que à partida parecia lógica pelo actual presidente é apenas uma das hipóteses.Veiga Maltez já anunciou a sua disponibilidade e intenção de encetar novo mandato, mas no PS nada está decidido. “Pode ser o actual presidente, como pode ser um quadro do PS ou um outro elemento independente”, afirma Vítor Guia, também elemento da concelhia do PS, na Golegã.A hipótese de ser Vítor Guia o candidato não parece muito bem aceite pelo próprio. “Estou à disposição do partido, mas não é minha intenção encabeçar uma lista à câmara”. A posição é mais firme em relação a sua participação em qualquer órgão onde também esteja Veiga Maltez: “Nunca mais trabalharei com algumas pessoas, incluindo o actual presidente Veiga Maltez. Tenho princípios e não posso apoiar alguém que enquanto precisou de mim me chamava para todo o lado, e quando atingiu alguma popularidade me largou. Sinto-me injustiçado e foi isso que me levou a abandonar a vice-presidência e os pelouros. A minha aposentação não estava programada”.Quanto às próximas eleições, Vítor Guia diz que a comissão política ainda não se pronunciou quanto ao candidato a apoiar. “Pode ser o presidente da câmara, um elemento da PS ou ir procurar outro independente, neste momento ainda está tudo em aberto”.
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