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A arte de Pomar chegou a Mação

A arte de Pomar chegou a Mação

Pintor expõe desenho, gravura e pintura pela primeira vez fora das grandes cidades

Pela primeira vez, Júlio Pomar expõe numa vila do interior. Mação tomou a iniciativa e o pintor afirmou que é um exemplo a seguir. Para todos os presentes, Pomar formulou um desejo: “Meus amigos, desejo-lhes o gosto para chegar à verdade”.

A Câmara Municipal de Mação meteu mãos à obra e com a colaboração da Associação Promotora do Museu do Neo-Realismo, de Vila Franca de Xira, e do arquitecto Sommer Ribeiro, da Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva, foi possível expor na Galeria Municipal de Mação, anexa à biblioteca, 34 obras de Pomar.“Eu para aqui não meti prego nem estopa, limitei-me a dizer que sim”, diz Júlio Pomar, com a simplicidade dos homens grandes. Fala devagar, cada uma das palavras que pronuncia tem a ressonância da profundidade. Para ele que afirma ter tido a “felicidade” de poder escolher e de fazer na vida aquilo que gosta, os seus quadros são a sua própria vida: “A obra de um pintor são as suas telas e, no fundo, a sua vida. E que melhor matéria para falar, se tivermos coragem, do que da sua própria vida?”A exposição inaugurada sábado, dia 11, traça a panorâmica de 60 anos de actividade deste pintor nascido em Lisboa em 1926 que aos 20 anos achava que a pintura, para ele, seria sempre uma actividade secundária. “Nunca pensei ser pintor a tempo a inteiro, encarava o gosto que tinha em fazer bonecos como uma actividade de segunda. Pouco a pouco fui descobrindo que me podia permitir o grande, grande luxo de viver da pintura. É por isso que me sinto um pouco culpabilizado porque me encontro numa posição privilegiada, onde gostaria que todos se encontrassem, o que infelizmente não acontece”.A exposição, que irá estar patente até 31 de Janeiro, reúne obras desde 1948 (“Retrato de Carlos Oliveira”, desenho a tinta da China sobre papel) até 2004 com “Guantanamo I” (acrílico, carvão e giz sobre papel colado sobre tela), da colecção particular de Alexandre Pomar, que só tinha sido exposto em Paris.Da iniciativa de Mação, Pomar diz que há uma lição a tirar: “É importante salientar que se outras cidades podem seguir o exemplo de Mação, basta pôr mão à obra. É uma iniciativa puramente local que mostra que as coisas não são muito difíceis de fazer”, diz o pintor.No entanto, há questões logísticas, de segurança das obras e da própria disponibilidade dos proprietários em emprestar as obras que nem sempre são fáceis de resolver, na opinião de Alves Redol, da Associação Promotora do Museu do Neo-Realismo.Júlio Pomar, que recentemente lançou também um livro de poesia, vive desde 1963 em Paris, dividindo-se entre as capitais francesa e portuguesa. Adepto de uma arte de protesto socio-político foi preso pelo regime de Salazar e algumas das suas obras foram destruídas pela PIDE. Em 25 de Abril de 1974, Júlio Pomar estava em Lisboa, onde permanece nos meses seguintes ao golpe de Estado, vivendo os acontecimentos revolucionários que se lhe seguiram. Em 10 de Junho participa, com 48 artistas, na elaboração de um painel colectivo destinado a comemorar a queda do regime.“Gostaria de desejar a todas as pessoas a liberdade de escolha, em que começamos a apostar há um certo tempo neste país”, afirmou Júlio Pomar em Mação, para prosseguir: “A procura da verdade consigo mesmo e na relação com os outros, acaba por ser tão difícil... As pinturas, as escritas são uma tentativa desastrosa e feroz de chegar à verdade. Meus amigos desejo-lhes este gosto para chegar à verdade. Chegar à verdade é a prova de que se está vivo. E estar vivo é o melhor que se pode desejar aos nossos amigos e até aos nossos inimigos”.Margarida Trincão
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