Maria Luísa Rodrigues Sequeira
50 anos, empregada doméstica, Parceiros de São João (Torres Novas)
“Há alturas em que acredito em Deus, outras não. Peço tanto a Deus e ele não me ajuda. Olhe: se Deus não me ajuda, como é que posso esperar que os políticos me ajudem?”
Vai votar nas eleições legislativas de 20 de Fevereiro?Não voto. Só votei uma vez nas eleições de Cavaco Silva. Não votei mais, porque ninguém me dá nada.Tem acompanhado a campanha eleitoral?Tenho visto, mas essa gente não me interessa nada. Em vez de dizerem o que vão fazer entretêm-se a criticar-se uns aos outros. Só dizem mal, é uma peixeirada. Conhece os candidatos a deputados pelo distrito?Não sei o nome de nenhum dos candidatos. Antigamente ainda se via papelada, mas agora a papelada deve estar cara, não se vê nada em lado nenhum. Dantes até nos caixotes do lixo ponham cartazes. Andou mascarada no Carnaval?Não me mascaro, mascarada ando eu todo o ano. Gosto um bocadito de ver os cortejos e costumo ir ver. Este ano fui à Nazaré. Mas com isto tudo já ninguém percebe se a política é o Carnaval, ou o Carnaval é a política. Acredita na fidelidade conjugal?Não acredito em nada disso. A família é a base estrutural da sociedade?Era. Agora o que é que se liga à família? São filhos abandonados, pais que não têm tempo para os filhos. Quando chegam a velhos são enviados para os lares, como caixotes. É católica?Tenho dias. Há alturas em que acredito em Deus, outras não. Peço tanto a Deus e ele não me ajuda. Olhe: se Deus não me ajuda, como é que posso esperar que os políticos me ajudem?O que é que pensa das outras religiões?É uma maneira de não fazerem nada e andarem de porta em porta a pedir dinheiro uns aos outros.A moda diz-lhe alguma coisa?Disso gosto, mas não posso usá-la. Se pudesse andava na moda.Vive em Parceiros de São João. O que é que falta na aldeia?Quase tudo, as estradas estão cheias de buracos, as valetas ficam por limpar. Não há passeios, a recolha do lixo é dia sim dia não e nem sequer há saneamento básico. Os esgotos correm para a rua. E a iluminação também deixa muito a desejar. Faz as compras nas lojas da aldeia ou prefere as grandes superfícies?Quando posso vou ao supermercado. Pelo menos passeio. Aqui na aldeia não há sítios para passear. Nem sequer há uma caixa multibanco para levantar dinheiro. Tem de ir-se a Torres Novas. Também não se entende que à beira de uma estrada nacional não haja um balcão onde registar um totoloto.Nasceu na zona de Torres Vedras, notou algumas diferenças quando veio viver para Torres Novas?A única diferença que notei foi nas paisagens. Em Torres Novas e, principalmente em Parceiros, a paisagem é muito bonita, há muitos ciprestes. Pena que tivesse havido um fogo tão grande o ano passado. Os portugueses vivem pior do que há 5 ou 6 anos?Eles dizem que sim e eu também acho. Mas, não sei como, há muita gente a fazer uma grande vida. Quem trabalha é que não tem dinheiro.Vê telenovelas? Brasileiras ou portuguesas?Vejo algumas, mas não sou fanática por telenovelas. Quando posso vejo as brasileiras, das portuguesas não gosto.Se lhe oferecessem uma viagem, qual o destino que escolheria?Por este andar parece-me que já não queria nada, porque tenho medo de tudo. Não me convidem para andar de avião, tenho medo. Até do mar já tenho medo.Há poucas mulheres na política?De política não percebo, nem gosto. No entanto, há uma mulher de que gosto muito porque não tem papas na língua, a Odete Santos.Acha que há profissões que são exclusivamente masculinas e outras exclusivamente femininas?Não, acho que homens e mulheres podem fazer as mesmas coisas.Actualmente a licença por nascimento de um filho pode ser pedida pelo pai ou pela mãe. Concorda?Com isso não concordo. É a mãe que deve ficar em casa a tomar conta do filho e não o pai.Qual a sua opinião sobre a despenalização da interrupção voluntária da gravidez?Esse é um assunto muito complicado. Sou contra, só em casos em que se detecte deficiências nas crianças é que deve ser feito.O que faria com muito dinheiro?A primeira coisa que fazia era comprar uma casa e depois guardava algum dinheiro para não ir para um lar. Não gosto de lares, são um depósito de velhos e as creches um depósito de crianças.
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