Esgoto a céu aberto junto das casas
Moradores da Verdelha de Baixo ameaçam cortar a EN 10 e suspender pagamento do IMI
A Ribeira da Verdelha é um esgoto a céu aberto. A linha de água que divide as freguesias de Alverca e Forte da Casa está a receber os efluentes da central de cervejas e outras unidades. Os moradores estão fartos do mau cheiro e dos ratos e ameaçam cortar a estrada e suspender o pagamento do IMI se não for garantida uma solução até 2 de Março.
Na traseira dos prédios da Rua das Colunas, na Verdelha de Baixo, Alverca, as crianças divertem-se a fazer pontaria e a atirar pedras às ratas que passeiam na ribeira e mais parecem coelhos. Olhando este cenário, os pais engordam a sua revolta por verem ameaçada a saúde dos seus filhos e de todos quantos ali vivem.Ainda no último Verão, várias crianças do bairro fizeram reacções alérgicas às picadas de insectos. “Isto é um caso de saúde pública. É muito grave”, sustenta Francisco Delgado, morador no bairro.Se o Ministério do Ambiente e a Câmara Municipal de Vila Franca de Xira não tomarem medidas concretas até 2 de Março, data da próxima reunião pública da câmara, os moradores ameaçam cortar a estrada e pedir a suspensão do pagamento do Imposto Municipal Sobre Imóveis (IMI) até que a situação se resolva. “Não podemos pagar imposto se não temos a qualidade mínima de vida. Isto parece um bairro do terceiro mundo”, desabafa Paulo Condesso, o porta-voz dos moradores.A Ribeira da Verdelha é uma linha de água transformada num esgoto a céu aberto que liga a zona da Central de Cervejas de Vialonga ao rio Tejo e numa zona que é o único refúgio de algumas espécies de aves “e deveria ser protegida”.O esgoto proveniente de várias unidades industriais (sendo a principal a fábrica da cerveja Sagres), armazéns e zonas residenciais passa ali mesmo ao lado de dezenas de habitações. Mesmo depois da seca prolongada, o seu caudal é elevado e a velocidade com que corre é significativa. Um sinal de que as descargas são frequentes.Sensibilizar quem procura casaOs habitantes do bairro querem lançar uma campanha de sensibilização dos novos moradores das urbanizações vizinhas para que não comprem casa na zona. “Não queremos que sejam enganados como nós”, disse Paulo Condesso.No bairro, os painéis a anunciar a venda de apartamentos usados multiplicam-se e alguns proprietários já viram os negócios abortarem porque os interessados sentiram o mau cheiro.Fernando Paulino explicou que quando chegaram ao bairro, ele e os vizinhos habituaram-se a conviver com o cheiro a malte, mas nos últimos dez anos as descargas de efluentes transformaram o cheiro e a cor da água. O munícipe exibe fotos tiradas em Maio último onde se vê as pedras cobertas de negro com uma substância empastada que mais parece nafta. Os moradores têm documentos que provam que a sua luta já começou há mais de uma década e garantem que em 25 de Janeiro de 2001 foi adjudicada uma obra de desobstrução da ribeira que ainda não foi feita.Depois da troca de várias cartas de um abaixo-assinado com 300 assinaturas enviado às juntas de Alverca e Forte da Casa, à câmara e ao Ministério do Ambiente e Provedor de Justiça nada foi feito para resolver o problema. “Todos prometeram estudar o assunto e sacudiram a água do capote”, lamenta Paulo Condesso.A limpeza da ribeira será o primeiro passo e os moradores defendem que o seguinte deverá ser a colocação de uma conduta que leve o esgoto para o rio enquanto não ficar concluída a estação de tratamento de águas residuais de Alverca. Com esta solução a ribeira ficaria a receber apenas as águas provenientes da chuva. O munícipe tem dois filhos de tenra idade e questiona qual será o seu futuro. Ao seu lado José Manuel Soeiro reforça a preocupação e afirma que o seu bairro tem sido abandonado pela câmara como se pode ver pela sua limpeza e pelo estado do parque infantil onde os brinquedos estão partidos e a vedação está destruída há vários meses.Nelson Silva Lopes
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