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Perseguição no Ribatejo, à moda do Texas

A cortesia dos agentes da autoridade é importante. É grave a falta de educação.Mas muito pior é a violência policial, que sabemos existir um pouco por todo o mundo. Segundo um estudo recente, a polícia mais agressiva do mundo encontra-se no Rio de Janeiro. Calculo que seja uma conclusão um pouco superficial e que exclua as polícias políticas das várias ditaduras espalhadas pelo Globo.Enquanto prestei serviço no Ribatejo, apenas me chegou ao conhecimento uma denúncia de um caso deste tipo.Três indivíduos dedicavam-se a uma curiosa peregrinação.Fátima não era o destino, mas o ponto de partida. A travessia não era realizada durante o dia nem a pé. Diariamente, saíam de Fátima, mas de automóvel e à noite. O destino era a zona de Santarém. Aí procuravam veículos todo-o-terreno ou pick ups, já encomendados, com a marca, modelo e cor pré-definidas.Roubavam a viatura e revendiam-na a um indivíduo que possuía carros iguais sinistrados. Era só proceder à mudança das matrículas e falsificação dos números de chassis e motor.Certa vez, foram localizados em Alpiarça, a forçar um veículo. Detectaram a chegada dos militares da GNR e puseram-se em fuga no automóvel em que tinham vindo.A perseguição foi ao estilo dos filmes ou das imagens captadas nos Estados Unidos.O carro dos polícias de Alpiarça não conseguia acompanhar o ritmo dos meliantes. Via rádio, foi alertada a GNR de Almeirim, que bloqueou a estrada. Mas os ladrões seguiam a grande velocidade e derrubaram as barreiras. Os elementos policiais meteram-se num veículo já preparado para essa eventualidade. Seguiram os criminosos, que se encaminharam para a Ponte Salgueiro Maia. Já quase a serem apanhados, os fugitivos começaram a disparar contra a viatura policial, de onde veio idêntica resposta. No entanto, os bandidos ganharam tempo, dado que o veículo que os perseguia teve de abrandar. O balanço da troca de tiros foi uma morte. Era um dos ladrões que seguia escondido na caixa de carga do automóvel.Entretanto, tinham sido alertadas as autoridades de Santarém. À saída da ponte, capturaram os malfeitores.Ao que parece, não foram bem recebidos.O que tinha sido atingido pelo projéctil foi conduzido ao hospital, onde veio a falecer.Os outros foram algemados.No dia seguinte, os telejornais abriram com a notícia e a imprensa deu grande destaque à matéria.Colocava-se um problema que costuma ser discutido nas Faculdades de Direito.Eram uma série de crimes, mas cometidos em diferentes localidades: tentativa de furto, condução perigosa, disparos, resistência à autoridade, receptação e falsificação. Ainda por cima, eu tive de ir aprender a que concelho pertencia a Ponte Salgueiro Maia.Os detidos devem ser apresentados no tribunal da comarca onde foi praticado o crime mais grave.De modo que passaram a noite nos calabouços da GNR de Almeirim. Um deles estava tão maltratado que teve de receber tratamento hospitalar. Queixava-se de ter sido atirado ao chão quando saiu da viatura e de ter levado uma quantidade enorme de pontapés. Nada que não se tenha visto em reportagens norte-americanas. Só que aí é fácil identificar os agressores através da ampliação das imagens. Naquele caso, ele apenas se recordava do tipo de uniforme policial envergado pelos agentes.Surgiu nova questão normalmente debatida na Universidade. Sabe-se que os agressores foram alguns elementos pertencentes a um grupo de uma dezena. Mas desconhece-se quais são culpados e quais estão inocentes. Na dúvida, são todos absolvidos.* Juiz(hjfraguas@hotmail.com)

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