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A tradição está viva

Festa secular criada pelos marítimos de Constância tem mais de duzentos anos

A antiga Punhete, hoje Constância, foi ao longo de alguns séculos uma terra de marítimos. De gente que ganhava a vida com o transporte fluvial de mercadorias ao longo do curso do Tejo, de Abrantes até à foz. Eram designados marítimos todos os navegantes do Tejo, mesmo que nunca tivessem passado a barra do Tejo e entrado mar adentro.

Para se ter uma ideia da importância que a economia fluvial teve basta citar as actas do município, datadas de 1867, onde se refere que dos mancebos da vila com 20 e 21 anos de idade que se apresentaram às sortes para o recrutamento militar nesse ano, 60 por cento eram marítimos de profissão. Foi dessa ligação umbilical do povo de Constância aos rios Tejo e Zêzere que nasceu o culto a Nossa Senhora da Boa Viagem, padroeira dos navegantes. Em 1788, foi construído na actual Igreja Matriz o altar onde se colocou a imagem de Nossa Senhora da Boa Viagem que ainda hoje continua a sair na procissão para abençoar os barcos, as viaturas e os homens em cada Páscoa que passa. Há dois séculos, Constância assumia-se como um importante entreposto de mercadorias, cruzada pelo tráfego fluvial com destino a Lisboa. Nessa altura, eram os próprios marítimos da vila que promoviam os festejos em honra da padroeira dos navegantes, aos quais se associavam os amigos e companheiros da faina piscatória do Zêzere e do Tejo.Com a mudança dos tempos mudaram-se também as vontades e os caminhos da vida deram muitas voltas. Hoje já poucos dependem dos rios para viver. Já não há marítimos nem calafates, e os barcos, na sua maior parte, acostaram às margens vencidos pelos caprichos do progresso. Hoje é sobretudo pelo asfalto que se navega e que se transportam as mercadorias. São igualmente viagens arriscadas. Muitas vezes mortais. Talvez por isso a veneração a Nossa Senhora da Boa Viagem se justifique e permaneça incólume, intransponível. As festas são agora da responsabilidade do município, com o apoio decisivo das colectividades e da população, constituindo uma das maiores e mais significativas manifestações populares da nossa região. Todos os anos, no fim-de-semana de Páscoa, a Vila Poema recebe milhares de visitantes em busca de animação e de colorido, de imagens que ficam para sempre guardadas nas gavetas da memória.As ruas engalanadas e floridas, as tasquinhas com os petiscos regionais, a tradicional benção dos barcos e a animação constante são motivos de sobra para um bocado bem passado. A tradição talvez já não seja o que era, mas em Constância há sempre uma boa razão para voltar.

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