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Uma vida a vender gasolina

Manuel Guerreiro tem o mesmo emprego há 36 anos

Nasceu no concelho de Odemira, na aldeia de Bicos, há 59 anos. Aprendeu a carpinteiro de cofragens mas aquela profissão acabou com o serviço militar. Manuel Augusto Marteniano Guerreiro aceitou o convite de um seu colega de tropa e foi trabalhar para um posto de gasolina que ia abrir em Torres Novas. Trinta e seis anos depois mantém-se no mesmo local de trabalho e tem o mesmo patrão.

O Alentejo continua a fervilhar-lhe no sangue, embora agora já se sinta um bocado ribatejano. Há 36 anos Manuel Augusto Marteniano Guerreiro trocou as terras de Odemira pelo concelho de Torres Novas, mercê de um convite de trabalho que recebeu quando cumpria o serviço militar na Base Aérea n.º 3, em Tancos.“Fui tropa com a pessoa que explora as bombas. Foi na altura que elas foram inauguradas e fiquei por cá”, conta. A profissão de carpinteiro de cofragens que aprendeu no Alentejo já pouco ou nada lhe diz. Desde que aceitou ser abastecedor de combustíveis que a construção civil deixou de fazer parte das suas preocupações.Casou no Alentejo e fixou residência em Riachos (Torres Novas), mas sempre que pode dá um salto à aldeia de Bicos, onde tem os pais. “Já me sinto ribatejano, mas continuo a gostar muito do Alentejo”.Quando começou a vender gasolina e gasóleo a vida era bem diferente. O combustível era ao “preço da chuva” comparado com os custos actuais e os carros bem menos. “Não tem comparação, pediam-me 20 escudos de gasolina... Ganhava-se pouco mas era tudo mais barato. Três litros custavam 19$50, agora nem sei os preços. Estão sempre a aumentar”.Na altura, era normal dar gorjeta para arredondar os trocos, hábito que se foi perdendo com o tempo. “Agora já poucos dão gorjeta, mas dantes conseguia dinheiro para os meus gastos só com as gorjetas. Entregava o ordenado inteirinho à minha mulher”, conta.O que nunca mudou foi o horário de trabalho, oito horas diárias por turnos das 7h00 às 15h00 ou das 15h00 às 23h00 e folgas um ou dois dias por semana, conforme calha durante a semana ou ao sábado. “Domingo de Páscoa estive de folga porque no sábado também não trabalhei. Agora só volto a ter dois dias quando a folga calhar ao sábado”.As histórias negras de assaltos Manuel Guerreiro nunca as viveu, nem nunca apanhou grandes sustos, No entanto, já tem reposto o dinheiro quando os clientes resolvem abastecer e sair sem pagar. “Não são muitos, felizmente, mas ainda outro dia aconteceu, enquanto atendia um cliente, um outro perguntou se podia abastecer disse-lhe que sim e foi-se embora sem pagar”, conta.Dessa vez foi à polícia, mas a matrícula do automóvel era falsa e o dinheiro perdeu-se. Diz também que uma vez por outra já teve de pagar do seu bolso porque os clientes depois de abastecerem alegam que se esqueceram da carteira: “Dizem que vão a casa buscar dinheiro e nunca mais aparecem”. Enfim, “ossos de um ofício” de que Manuel Guerreira se habituou a gostar.De mala de cabedal à tiracolo para guardar o dinheiro, Manuel Guerreiro já repetiu milhões de vezes o gesto de abrir a sacola e deixar os trocos deslizarem pelo cabedal. Brinca com os clientes, há pouca gente na zona que não conheça e os mais frequentes já não precisam de pedir nada, só se houver alteração. “Já sei o que querem, uns querem 10, outros 20, outros atestam sempre, conheço-os todos”. A alguns dos mais novos vi-os crescer. “Abasteci os carros dos avós, dos pais e já vou nos netos. Tenho várias famílias assim”.Nos horas de menor movimento arranja sempre alguma coisa para fazer. Limpar o recinto ou cuidar do jardim. O maior problema é quando os clientes começam a fazer fila. “Isso às vezes é que atrapalha um bocado. É chato ver as pessoas à espera tanto tempo”, desabafa. E com os cartões, o “chamado dinheiro de plástico”, ainda se perde mais tempo. “Mas há uma vantagem”, explica. “Nunca nos enganamos nos trocos”.Margarida Trincão

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