Espaçoso, arejado e com luz, muita luz. É assim o TorreShopping, o primeiro centro comercial do Médio Tejo, inaugurado na sexta-feira à tarde em Torres Novas.Uma inauguração com pompa e circunstância. À espera dos convidados, jovens vestidas a rigor perfilam-se junto à passadeira vermelha da porta de entrada, ladeada por duas colunas encimadas por tochas de fogo.No exterior, centenas de pessoas são entretidas por outros jovens que, de andas, fazem malabarismos enquanto percorrem o espaço, circulando por entre convidados, mais ou menos conhecidos. No meio da multidão vislumbra-se o presidente da Câmara da Golegã, Veiga Maltez, Mário Mota e Pedro Lobo Antunes, vereadores da autarquia de Torres Novas. Há muitas lantejoulas, fatos de cerimónia e gravatas para todos os gostos. O vento forte teima em despentear os cabelos armados com laca e os caracóis feitos com gel.Todos esperam o secretário de Estado do Comércio e outros VIP, presos na imensidão de trânsito que, apesar dos esforços da polícia, entope a Estrada Nacional 3 desde a saída da A23.Meia hora depois do previsto chega em grande velocidade a comitiva política. O Audi A4 onde vem o presidente da Câmara de Torres Novas traz a sirene e luzes de sinalização de emergência ligadas, abrindo passagem ao BMW escuro que conduz o secretário de Estado do Comércio, Serviços e Defesa do Consumidor, Fernando Serrasqueiro.Os VIP avançam pela passadeira vermelha, com Albano e Pedro Mateus, pai e filho, a fazerem as honras da casa. Os convidados e alguns “penetras” entram logo a seguir, entupindo o átrio de entrada. O amplo espaço, com muita luz natural dada pelas enormes vidraças da fachada central do edifício, torna-se de repente pequeno demais para albergar tanta gente curiosa ao mesmo tempo. O pároco que acompanha o bispo de Santarém, D. Manuel Pelino Domingues, que foi dar a sua benção ao TorreShopping, levanta a cabeça e olha admirado para tudo quanto o rodeia.Albano Mateus, o empresário que através da iniciativa e empenho do filho Pedro fez nascer o centro comercial no lugar onde antes existia uma cooperativa de figo, aproxima-se do palanque para agradecer a todos quantos acorreram à sua chamada.Visivelmente emocionado, e rouco, o empresário faz questão de chamar a atenção para todos aqueles que apoiaram o projecto desde a primeira hora, nomeadamente a autarquia torrejana. Aos lojistas, Albano Mateus agradeceu a sua aposta e deseja-lhes um enorme sucesso e boa sorte. “Porque o vosso sucesso é também o nosso”.Albano Mateus não se esquece de Ansião, terra que o viu nascer e cujo presidente da câmara se encontra entre os presentes, do Entroncamento, que há quase quatro décadas o recebeu de braços abertos e ainda de Torres Novas, que lhe abriu as portas para a concretização do primeiro grande centro comercial do Médio Tejo. “Não fosse a conjugação destes três concelhos não estaríamos aqui hoje”.António Rodrigues prefere puxar a brasa à sua sardinha, salientando a criação de emprego e riqueza que aquele espaço traz para Torres Novas e para toda a região, lançando de imediato um repto aos empresários presentes – “todos aqueles que investem aqui são credores da câmara e são sempre bem vindos”.O autarca de Torres Novas quis também dar uma palavra “especial” para os comerciantes ditos tradicionais da sua cidade e do Entroncamento, que perceberam ser mais fácil investir ali que ficar quietos e criticar os que investem e apostam no futuro.Virando-se para o secretário de Estado, António Rodrigues fez-lhe um aviso – “estou certo que esta é a sua primeira inauguração, faço votos que nunca se esqueça disso e que algum dia, quando alguém desta região precisar de sua excelência, se lembre que esta foi a sua primeira inauguração”.Não se sabe se as palavras do autarca de Torres Novas intimidaram Fernando Serrasqueiro mas o que é certo é que o governante não se esticou no discurso. Falou de coragem, confiança e de modernização da iniciativa privada, palavras que diz serem também o lema deste Governo.Os músicos iniciam mais uma sessão assim que os discursos terminam e o Bispo de Santarém deita água benta sobre os presentes. Homens de branco circulam pela multidão com travessas de aperitivos e bebidas, mas os convidados querem é conhecer os cantos à casa, fazendo fila junto às escadas rolantes que, mal sobem os políticos, deixam abruptamente de funcionar.A grande maioria das lojas tem as portas abertas mas a comitiva não entra em nenhuma, percorrendo o espaço em passo apressado. No último piso, seguranças musculados proíbem a comunicação social de entrar na zona do bowling, abrindo apenas passagem aos políticos. “São ordens superiores”, dizem com cara de poucos amigos enquanto abrem os braços e empurram os que teimam em passar.Os ânimos são acalmados pelo imenso bufet oferecido aos convidados na chamada praça da alimentação. Músicos mexicanos, vestidos a rigor, entretêm os comensais, que deambulam por entre as mesas de queijos, presuntos e enchidos, fritos e salgados e pratos quentes.Na hora da partida, outro pequeno percalço – as portas automáticas da entrada teimam em não querer abrir e o segurança presente parece não entender muito do assunto. “Vou chamar alguém que perceba”, diz, enquanto aconselha a reportagem de O MIRANTE a sair pelo estacionamento da cave. Ao fim de dez minutos de espera, a porta abre-se finalmente. E, para que não volte a fazer teima, o segurança opta por deixá-la aberta, com alguns curiosos, não convidados, a aproveitarem para espreitar o espaço. Afinal, o TorreShopping é um centro comercial aberto a toda a comunidade... Margarida Cabeleira