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A ancestral desconfiança do poder

Aurélio Lopes falou sobre a mentalidade lusa numa conferência em Alpiarça

Os portugueses têm o Estado que merecem. A conclusão é do antropólogo e professor da Escola Superior de Educação de Santarém, Aurélio Lopes, e foi manifestada no decurso de uma conferência realizada na tarde de sábado na Livraria Tintas e Letras, em Alpiarça.

Tendo como mote “A ética, os valores e a identidade social”, o orador recordou os tempos em que valores como a honradez e a palavra dada tutelavam as relações sociais para contrapor com a sociedade actual. “O generalizar do estilo de vida urbana que os novos tempos ocasionaram veio alterar radicalmente este estado de coisas” disse. O consumismo venceu a poupança, por exemplo. Mas houve aspectos que resistiram à mudança. Características que marcam a nossa mentalidade enquanto povo. Se nos tempos da ditadura os portugueses já desconfiavam do Estado as coisas não melhoraram muito. “A desconfiança ancestral face aos mais diversos níveis e organismos de poder ainda hoje se mantém numa dimensão superior aquilo que seria desejável”.E questiona com pertinência: “Como haveremos de nos sentir representados e solidários com as instituições europeias se ainda nem sequer, de forma plena, acreditamos e nos solidarizamos com as instituições nacionais?!”.Quais as razões para essa desconfiança permanente? “É aqui que entra a responsabilidade que tem que ser imputada essencialmente ao Estado, que não conhece verdadeiramente a nação que somos”.Porque, diz Aurélio Lopes, emana muita legislação que não obedece a pressupostos operativos adequados à realidade nacional mas sim a imperativos marcadamente políticos, “muitas vezes cegamente europeístas”.Conclusão: o português, perante esse quadro, “faz da prática quotidiana um jogo permanente com as autoridades fiscais e policiais”. “Habituámo-nos, assim, a andar ilegais!”. E a ver as autoridades não como defensoras do interesse colectivo mas sim do “deles”. Entendendo-se por “deles” o Estado e os políticos legisladores, lembra Aurélio Lopes. E como tal já não reagimos solidariamente a muitos dos imperativos do interesse nacional. Porque o Estado e as instituições que o representam muitas vezes são vistos não como um de nós mas como um dos outros. É por isso que há evasão fiscal, que se paga tarde e a más horas, que as câmaras se endividam “alegre e irresponsavelmente”... Problemas de mentalidade que precisam de “resolução abrangente e continuada”

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