O vosso jornal tem ultimamente publicado vários artigos sobre situações de “excesso” de cães em diversas propriedades. Com todo o direito que os vizinhos dessas propriedades têm ao sossego e devidas condições de higiene, temos que ter cuidado com este tipo de artigos que podem criar situações de alarmismo e contribuir ainda mais para o abandono de animais.Há que ver o outro lado da questão: Portugal tem excesso de cães e gatos e não tem uma cultura de protecção. O abandono de animais domésticos é uma cruel realidade, especialmente durante e após o período de caça e também durante o Verão. Os canis municipais são na maior parte das vezes inexistentes ou sem condições. Além disso os animais recolhidos são normalmente abatidos, mesmo sendo novos e saudáveis, devido a excesso de lotação e contenção de custos. O mesmo acontece com os albergues das associações zoófilas. Restam assim algumas pessoas que vão recolhendo os animais e os vão mantendo nas suas propriedades com alguma ou muita qualidade de vida. Sei do que falo e acompanhei muitas situações de fiscalização em que os animais não incomodavam, mas que foram retirados apenas por querelas entre vizinhos.Era importante que existissem verdadeiras campanhas de educação contra o abandono, campanhas municipais de esterilização de fêmeas para evitar reproduções indesejadas. Prevenir em vez de remediar à boa maneira portuguesa. Assim seria de facto evitada esta proliferação e concentração de animais.Ana Isabel Pinto