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Negócio imobiliário afasta avieiros do rio

Negócio imobiliário afasta avieiros do rio

Privados cedem terreno na expectativa do PDM permitir urbanização de luxo na Póvoa de Santa Iria

O bairro dos avieiros da Póvoa de Santa Iria será afastado do rio. Entre as casas dos pecadores e o Tejo podem aparecer habitações de luxo. O protocolo que envolve a câmara, a TDVia e um Fundo de Investimento Imobiliário está a gerar apreensão e polémica na comunidade avieira

Os Avieiros da Póvoa de Santa Iria vão ser afastados da margem do rio Tejo onde algumas famílias vivem há mais de 50 anos. No terreno ribeirinho as casas e barracas devem dar lugar a habitações de luxo, comércio e serviços. A Câmara Municipal de Vila Franca de Xira aprovou por unanimidade um protocolo a assinar com a construtora TDVia, do grupo Teixeira Duarte, e um Fundo de Investimento Imobiliário.Segundo a presidente da câmara, o promotor antecipa a cedência do terreno do actual parque de estacionamento junto do terminal rodoviário para a autarquia construir 38 fogos em vivendas de dois pisos. O terreno será área de cedência da futura urbanização ribeirinha. O promotor fica dependente da revisão do Plano Director Municipal (PDM) em curso para concretizar o loteamento. Se a situação não for desbloqueada no prazo de três anos, a câmara terá de pagar 1,3 milhões de euros (260 mil contos) pelo terreno cedido.O actual PDM apenas permite para a zona ribeirinha da Póvoa de Santa Iria, a construção de espaços industriais, serviços e armazéns. Segundo a presidente da câmara, as condicionantes impostas pelos vários instrumentos de gestão do território impediram o avanço do bairro dos pescadores no local onde foi inicialmente projectado e com ligação directa ao rio. Dada a urgência da situação, porque os avieiros vivem com más condições de habitabilidade e debaixo de um risco considerável, a câmara procurou alternativa. Maria da Luz Rosinha entende que o espaço ribeirinho será valorizado se o novo PDM permitir a construção de habitação de qualidade e espaços para comércio e serviços. “No âmbito da requalificação das frentes de água queremos avançar para outro tipo de construções que valorizem as zonas ribeirinhas”, disse a autarca Este processo vai ser debatido esta tarde (quarta-feira) na assembleia municipal que se realiza na Póvoa de Santa Iria. A sessão deve ser polémica, apesar da presidente garantir que o processo tem o acordo de mais de uma centena de avieiros que participaram numa sessão de esclarecimento.Mais de uma dezena de moradores do bairro dos Pecadores foram à última reunião de câmara acompanhados dos presidentes da junta e da assembleia de freguesia, para dizerem que estão de acordo com a mudança. Mas, a maioria dos moradores ficou no bairro e alguns confessaram a O MIRANTE não aceitam a mudança. “Não sai daqui de qualquer maneira”, refere Rosa Lobo.“Quem não quiser não terá casa no bairro”Maria da Luz Rosinha diz que quem não aceitar as regras terá de procurar alojamento noutro local “Não há alternativa. Quem não quiser não terá casa no bairro”, refere.Rosa Lobo habita uma das primeiras casas de alvenaria do bairro. Tem habitação própria e não está disposta a pagar uma renda pela nova casa. A mulher preferia “amanhar” a sua casa e continuar onde está. Lamenta estar impedida de fazer obras na sua habitação há mais de 15 anos. Os sinais de degradação acentuam-se. “Se houver um Inverno mau, isto inunda tudo e vai tudo à vida”, explica. O marido António Lobo refere que o risco de cheia está agravado pelos aterros que fizeram no antigo campo da bola e nos terrenos em redor do bairro. “Estamos aqui enterrados”, frisa.“Estamos deitados aos bichos”, acrescenta Emília Pedrosa que aponta para os esgotos que correm a céu aberto para o rio. A uns escassos metros do local onde um grupo de crianças se delicia a chapinhar na água poluída e com mau cheiro. “Já estão habituados”, diz a mulher que também cresceu à beira do rio.Daniel Letra, porta-voz da comunidade, explica a O MIRANTE que a câmara fez várias dragagens naquele local onde os esgotos correm para o rio. ”Mas o trabalho não foi bem feito”, diz. As cargas de vários batelões foram colocadas mais à frente. Não afastou o mau cheiro e ajudou a assorear ainda mais o rio. “Há sítios onde os barcos não passam”, explica a mulher de um pescador. Os avieiros não estão apenas preocupados com o realojamento e manifestam-se apreensivos quanto ao ordenamento do espaço ribeirinho. Os pescadores ganham a vida no mar e no rio. Exigem condições para ancorar os barcos e para guardar os artefactos que utilizam na faina. “Não nos preocupamos só com a casa para viver, teremos que nos preocupar com o nosso pão”, explicam.A presidente da câmara, Maria da Luz Rosinha garantiu a O MIRANTE que as preocupações dos pescadores estão acauteladas. A edil assegura que haverá um cais onde os barcos serão colocados em segurança e serão construídas casas de madeira para os pescadores guardarem os seus artefactos.Nelson Silva Lopes
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