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“Sempre vivemos junto ao rio”

Emília Pedrosa dormiu num barco ancorado junto ao cais
Os avieiros não querem perder o contacto directo com o rio. “Sempre vivemos junto ao rio e não queremos sair daqui. É o nosso ganha pão”, refere Emília Pedrosa. A avieira tem 56 anos e vive na margem do Tejo, na Póvoa, há mais de 50 anos. Conta que os pais eram pescadores e inicialmente a família dormia no barco que “tinha um toldo à ré e outro à proa”. Depois fizeram uma barraca de madeira que a polícia se encarregou de destruir. Os avieiros foram realojados em tendas militares e, mais tarde, com a autorização da Administração do Porto de Lisboa construíram as barracas e as casas. Algumas das 32 construídas nas décadas de 50 e 60 ainda permanecem. Outras não resistiram à força dos ventos e às marés.Mesmo em tempo de seca, quando as marés são grandes, a água invade as casas e inunda os caminhos do bairro. As arcas congeladoras e outros electrodomésticos estão colocados no exterior das casas e em cima de estrados para evitar prejuízos maiores. Daniel Letra, porta-voz dos pescadores, explica que a filha anda com a perna engessada porque caiu no bairro quando evitava que uma bola fosse levada pela água do rio que inundou as primeiras casas.Ali ao lado, um grupo de mulheres descansa debaixo de um telheiro improvisado à frente de uma das casas de madeira. As estórias de tragédia e infelicidade no bairro sucedem-se. A conversa é dominada pela expectativa de virem a ter uma casa nova a curto prazo. Apesar das garantias dadas no dia anterior pela presidente da câmara, alguns moradores não estão convencidos. “O meu filho morreu na ilusão de ter um quartinho numa casa nova”, diz, com a voz embargada pela emoção, uma idosa toda vestida de negro. Fernando Tocha faleceu há um mês, com 43 anos, e foi mais um dos moradores que partiu sem ver o sonho concretizado.

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