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A terra que cresceu a olhar o rio

A terra que cresceu a olhar o rio

Rossio ao Sul do Tejo, freguesia de Abrantes, na margem esquerda do Tejo

Com a perda de importância do rio Tejo declinou também o Rossio ao Sul do Tejo. Agora, por entre antigos palacetes degradados a freguesia do concelho de Abrantes abre novos caminhos para o desejado desenvolvimento.

Antigo porto de carga, o Rossio ao Sul do Tejo cresceu na margem esquerda do Tejo, fonte de rendimento das populações que por lá se fixaram. Hoje, o Rossio é uma das freguesias mais populosas de Abrantes, apesar de ser bastante pequena em extensão.Os seus limites confundem-se com os da freguesia de São Miguel do Rio Torto e hábitos desde há muito adquiridos continuam a falar da estação de caminhos de ferro do Rossio que de facto se situa na autarquia vizinha de São Miguel.O centro histórico do Rossio ao Sul do Tejo, apesar dos evidentes sinais de degradação, conserva a traça das habitações e a organização espacial características das povoações ribeirinhas. Nos largos as grandes casas senhoriais, brasonadas algumas, ostentam a sua imponência perante as habitações térreas dos trabalhadores rurais ou dos homens do Tejo.A recuperação das construções, na área nobre da localidade, é um dos problemas da freguesia. Como acontece na maior parte das povoações, é difícil sensibilizar os proprietários para preservarem os seus imóveis, a maior parte na posse de muitos donos que os receberam por herança, noutros casos o poder económico decresceu, as habitações menos imponentes estão arrendadas e nem rendeiros nem senhorios têm possibilidades de as recuperarem. Noutras situações ainda, os donos sobrevalorizam os seus bens, pensam que são detentores de grande fortuna e pedem quantias exorbitantes pelas habitações. “É sempre um problema”, desabafa o presidente da junta há três mandatos e candidato nas próximas autárquicas, Luís Valamatos (PS), que apesar do muito que ainda há para fazer, sente “orgulho” nas obras que foram desenvolvidas nos seus mandatos: “Da primeira vez ganhamos com maioria absoluta e nas eleições seguintes temos sempre reforçado a votação. Sinal que as pessoas acreditam em nós”. No Rossio ao Sul do Tejo, só numas eleições o PS foi derrotado. Foi em 1989, ganhou o PRD (Partido Renovador Democrático).A requalificação dos largos e praças públicas, como a do velho coreto, inteiramente recuperado, no Largo D. Joana Soares Mendes, é disso um exemplo, mas também o antigo lavadouro, a Fonte dos Toiros, no Aquapólis, ou a praça em frente à casa brasonada e bastante degradada de D. Beatriz Caldeira, grande proprietária do Rossio.No entanto, nem tudo são rosas nesta freguesia ribeirinha, de pouco mais de seis quilómetros quadrados e cerca de 2.500 habitantes. Há graves problemas sociais, provenientes, normalmente de carências económicas, mas também de destruturação familiar. O Lar de Abrigo, ligado à paróquia e um grupo de voluntárias designado Apoio Caritativo dão assistência e apoio domiciliário aos mais desfavorecidos.Está em projecto a construção de vinte fogos de habitação social, no bairro de São José Operário, no centro da freguesia, mas só uma parte se destina a famílias do Rossio. Outro dos problemas sociais, que “já foi mais grave”, era o consumo e tráfico de estupefacientes: “Muitos não eram de cá, mas o Rossio funcionava como um local de compra e venda”, adianta o autarca. Por resolver está ainda o saneamento básico do Fojo, a zona de expansão da freguesia que começou a crescer de forma desordenada após as cheias de 1989. “É um problema de difícil resolução porque toda a freguesia é muito plana e não tem ponto de escoamento”, esclarece Luís Valamatos.O Rossio ao Sul do Tejo tem registado nos últimos anos, um acréscimo populacional, ao contrário da maior parte das localidades do interior. As escolas, primeiro ciclo do ensino básico e pré-primário, abriram mais salas porque muitos casais jovens se têm fixado nesta freguesia.O Aquapolis, o grande investimento da Câmara de Abrantes, vai trazer uma alma nova ao Rossio. Quando Luís Valamatos foi eleito, a própria junta começou a tentar “devolver o rio” à freguesia. “Limpámos as margens, tirámos carradas e carradas de lixos”, recorda. Nesta obra, a junta apenas acompanha o andamento dos trabalhos e através de um protocolo assinado com a câmara co-financia um monumento em instalação na rotunda do Aquapolis, logo após a saída da ponte rodoviária de Abrantes. Uma obra do escultor Santos Lopes que evoca o tempo em que o Tejo era a grande fonte de rendimento das gentes da terra.A preservação da identidade da freguesia tem sido também uma das apostas dos actuais autarcas. Rica em associativismo, Luís Valamatos e o seu executivo instituíram a comemoração anual do aniversário da freguesia que já soma 166 anos e para dinamizar as tradições locais, criaram as noites de Verão no Coreto, no Largo D. Jaona Soares Mendes. As tasquinhas de comida regional, e é boa a gastronomia por aqueles lados, e o artesanato local não deixam esquecer que esta é uma terra com história.Margarida Trincão
A terra que cresceu a olhar o rio

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