O Agroal não fica na nascente do Nabão
Na edição de 24 de Agosto, no texto com o título “Todos os anos, em Agosto, revive-se o passado no Agroal – A praia dos emigrantes”, a jornalista Margarida Cabeleira escreve que o Agroal é a nascente do rio Nabão. Ora, hidrograficamente, o Agroal é simplesmente um ponto mediano do rio Nabão. E o percurso do rio a montante é significativamente superior ao que fica a jusante daquela localidade.Escrever na primeira página que o Agroal é a nascente do rio Nabão e confirmá-lo na página 19, faz a Rainha Santa Isabel dar duas voltas na sua tumba de Santa Clara e constitui heresia.Convido a autora a fazer comigo um exercício de geo-hidraúlica. Sobe a senhora pela margem direita do Nabão e eu pela esquerda (em relação à foz como mandam os cânones). Ainda dentro do concelho de Tomar vê desaguar no Nabão um curso de água - que eu não tenho a certeza que seja a Ribeira de Seiça (tão querida de um tal José Manuel Alho). Entretanto passa como eu para o concelho de Ourém onde, 6 km mais à frente, testemunha a chegada da Ribeira do Olival ao Nabão. A senhora vai seguir no concelho de Ourém - distrito de Santarém, Diocese de Leiria – Fátima - mais 12 km à beirinha do Nabão. Eu, depois de passar o ribeiro do Rego da Murta, sigo na outra margem no concelho de Alvaiázere, distrito de Leiria, diocese de Coimbra.Chegados à zona de Almoster você passa para o concelho de Pombal (deixou o seu[e meu] querido distrito Santarém). Estamos em margens opostas mas no mesmo distrito e, eu primeiro e você depois encontramo-nos os dois no concelho Ansião. Por esta altura e 20km antes do Agroal trocamos mensagens e como não somos doidos combinamos um “coffee – break” em Ansião. Aí decidimos ir retornar as respectivas margens do Nabão, na Ponte Galiz, Estrada Nacional 247.Orientamo-nos pela velha placa ferrugenta, sobre a dita ponte que diz Rio Nabão - faz de conta, porque já vão anos que a dita placa terá ido rio abaixo - e seguimos. Por agora eu tenho mais sorte. Revejo a velha gruta (buraco do Calaias). Você confirma o desaguar da ribeira que vem lá dos lados de Santiago da Guarda. Eu a seguir encontro a saída dos esgotos da Vila de Ansião. Você segue pelas serventias do Porto Largo e encontramo-nos na ponte de Além e de Aquém, onde segundo a lenda, a Rainha Santa Isabel deu esmola e tratou da higiene, nas águas do seu e meu Nabão, ao ancião (Ansião). Capelinha evocativa quase no leito do rio. E de novo, cada um na sua margem, segue pelas serventias dos Moinhos das Moitas a caminho da nascente. Cem metros antes da nascente existe ainda uma velha azenha que movia dois casais de mós e um lagar de azeite e, logo ali na fusão entre um velho troço da Estrada Nacional 247 e o actual IC8 temos a nascente do rio Nabão. Não vamos falar da minha muito cristalina ribeira da Lancha, nem do olho da Boiça que quando rebentava era cheia certa. Do Agroal?....Curioso, se andarmos mais 3 km ficamos num vale tipo “polge” com saída para três sub-bacias hidrográficas. A citada através do Nabão, uma outra também para o Zêzere (Albufeira de Castelo de Bode), via ribeira de Alge e, ainda outra para o Mondego via rio Dueco ou Corvo.Pois é, só que os tempos são de seca e falei-lhe de um rio sem água, mas mesmo sem água, um rio é sempre um rio, e o Nabão também. Até aqui o meu vizinho Lena secou. Não sobrou um peixinho sequer. Não imagina a tristeza do Liz quando a sua amada Lena deixou de lá chegar. Resta a representação da lenda. Por acaso, vem mais elegante do que os exageros que andam aí por Alpiarça.Fernando Manuel da Silva Gaspar – Porto de Mós
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