Serafim das Neves, velho lobo do mar.
De navegação e de navios não pesco nada. Não pesco nem quero pescar. Só de pensar em certas navegações fico meio agoniado. Vem isto a propósito do rato que abandonou o navio. E da referência que fazes ao candidato Vasco Rato que nem se deu ao trabalho de ir tomar posse do lugar de vereador para que tinha sido eleito. Compreendo o teu comentário troglodita mas concordo contigo quando dizes que alguém com um nome assim deveria ter mais cuidado com as atitudes que toma. Se eu me chamasse Cebola também evitava grandes refogados. O senhor Rato quando decidiu não aceitar a decisão dos eleitores pôs-se a jeito. E pimba! Saíste-lhe tu ao caminho. Mas eu também compreendo o candidato. Ele não saiu do quentinho de Lisboa para se sujeitar a enxovalhos da população numa parvónia como Vila Franca de Xira. Calculo que quando o convidaram ele se tenha imaginado a entrar triunfalmente pela rua principal da cidade. Em ombros como os toureiros que brilham na Palha Blanco. Quem falhou foi o ignaro povão. Aquela gente não vê televisão? Não lê jornais? Raios!! Um homem fica transtornado com tamanha desfeita. Só pensa em zarpar dali a mil à hora!Se os arrumadores de carros têm direito à indignação riscando os carros dos condutores que não lhes dão a moedinha, o senhor Vasco Rato não terá o direito de mandar os eleitores de Vila Franca de Xira à fava? Cá para mim, ou há igualdade ou comem todos!! Ele foi lá para tentar salvar Vila Franca de um futuro espinhoso. Deu-se a esse trabalho. Se calhar teve que beijar criancinhas ranhosas e velhinhas engelhadas. Teve que apertar a mão a gajos que têm epiderme mais rugosa que tijolos. Teve que oferecer esferográficas a marmanjos que a única coisa que escrevem são as cruzinhas do euromilhões. E no fim fazem-lhe aquela desfeita e só o elegem vereador!!!??? O antigo Primeiro-Ministro do tempo das revoluções, Pinheiro de Azevedo, costumava usar uma expressão muito acertada que assentaria como uma luva na boca do candidato desiludido. “Vão bardamerda!”.E ele não é o único. Por esse Portugal fora muitos outros ilustres salvadores da Pátria, idos directamente do conforto de Lisboa, se sentiram injustiçados pela populaça. Foram confrontados com a violência da ingratidão selvagem. Alguns nem sequer foram eleitos vereadores. Agora, de volta à capital, não se fartam de proclamar aos quatro ventos que Portugal ainda está na idade da pedra. Proclamam e vão olhando para o céu, não vão ser atingidos por alguma calhoada extraviada. Já andam por aí os cartazes dos candidatos a Presidente da República e nós continuamos a falar das autárquicas. Ora aqui está mais um motivo do atraso deste país. Mas eu quero lá saber. Ontem passei por um cartaz do senhor Louçã que dizia: “Olhos nos olhos”. Ia distraído. Pensei que era publicidade da multiópticas ou coisa que o valha. Ainda por cima o homem usa óculos. Telefonei logo à Alice. “Olha, agora o Louça está a fazer publicidade à multiópticas!”. Ela que é toda bloquista passou-se. Chamou-me anormal. Anormal chapado. Foi mesmo assim. Esta coisa da política dá comigo em doido, Serafim.E eu, como sabes, até me tento interessar pela coisa. Tu és testemunha que eu delirei com a eleição daquela vereadora lá no Entroncamento. A simpática do sorriso luminoso. A Maria João Grácio. O PSD está convencido que ganhou a maioria absoluta por causa da obra feita. Vê-se mesmo que por aqueles lados ainda ninguém leu os clássicos. Continuam todos agarrados aos manuais de marketing político do século passado. Não tivessem eles metido aquela flor ali no ramalhete e iam ver o resultado que tinham. Será que eles acreditam mesmo que poderiam ter um resultado decente com um bigode como o do Jaime Ramos, umas bochechas como as do Boavida ou uns olhos protuberantes como os do João Fanha? Ai meu Deus!!! Abençoada ingenuidade!!! Um abraço multióptico do Manuel Serra d’Aire
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