“Quentes e boas!”
Elisabete Gonçalves dá cor e sabor à Rua Serpa Pinto, em Vila Franca de Xira.
Todos os dias Elisabete Gonçalves percorre 55 quilómetros da Ericeira até Vila Franca de Xira para vender as suas castanhas assadas. É um trabalho exigente, mas que vale a pena. Isto “para quem não tem medo de trabalhar”.
Até há cinco anos Elisabete era doméstica, passando o dia a cuidar da casa e dos filhos. No entanto, quando o negócio do sector automóvel do marido faliu, viu-se obrigada a ir trabalhar. Elisabete Gonçalves e o marido decidiram, então, entrar no negócio de família deste último: a venda ambulante de castanhas assadas, até porque, refere, “sabíamos que dava dinheiro”. Em um dia, Elisabete aprendeu a assar as castanhas com a cunhada.Começou por vender na Póvoa de Santo Adrião, depois em Sacavém, mas as vendas não estavam a correr como esperado. Procurou um outro local para vender as suas castanhas e a Rua Serpa Pinto, em Vila Franca, mostrou-se a melhor opção, quer pelo movimento, quer pela ausência de concorrência. Alugou um espaço junto à estação ferroviária e hoje, três anos depois, continuam a compensar os quilómetros que tem que fazer diariamente. Embora tenha sido empurrada para esta profissão pela necessidade, Elisabete Gonçalves diz que se encontrou quando começou a vender na rua. “Descobri que vender é o que eu gosto de fazer. Mas a venda ambulante, porque não me consigo ver numa loja fechada…”.Nem as condições meteorológicas adversas impedem que Elisabete venha para a rua vender. E os transeuntes da Serpa Pinto agradecem, já que encontrar um vendedor de castanhas num dia cinzento de Outono é sempre um bálsamo para o estômago e para o espírito.A época oficial da castanha vai de Outubro a Março, mas, segundo a profissional, os meses mais rentáveis são os que antecedem o Natal. “É até as pessoas começarem a comer os doces, depois ficam enjoadas e já não compram tanto”, refere resignada Elisabete. Para chamar a atenção dos clientes, Elisabete Gonçalves apregoa um sugestivo “quentinhas!”. Apesar de “quentes e boas” ser o pregão que imediatamente se associa à venda das castanhas assadas, Elisabete explica que “o castanheiro homem é que diz ‘quentes e boas’, as mulheres ficam-se por “quentinhas”, é a tradição”. Não é qualquer castanha que entra no assador de Elisabete Gonçalves. “Tem que ter um tamanho médio e ser a mais suja possível, porque é a mais saborosa”, esclarece a castanheira. O carvão para assar vem directamente das minas e o sal tem que ter já sido utilizado para salgar chispe ou bacalhau. De acordo com Elisabete, a gordura presente faz com que o sal se derreta mais facilmente e se impregne melhor na castanha. Depois do corte, feito aleatoriamente, a castanha está pronta para assar. Dependendo da intensidade do lume, pode demorar de 5 a 15 minutos. Elisabete Gonçalves destaca o facto de a tradição se ter mantido na forma de assar este fruto tão característico da época. Apenas, para facilitar o trabalho do castanheiro o assador deixou de ser de barro, que era muito pesado, e passou a ser de alumínio. Em substituição, o fogareiro passou a ser de barro, “para que não se perdesse o sabor de sempre das castanhas assadas”, adianta Elisabete. Para quem quer assar castanhas em casa, esta castanheira recomenda que se “afogue” o fruto. Tome, então, nota da receita: “Primeiro retalham-se as castanhas, depois afogam-se em água fria para ajudar a assar e para, depois, não ficarem rijas. Por fim, levam-se a assar.” Sara Cardoso
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