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Ajudar a construir uma casa de família

Maria João Santos é coordenadora das residências da APPACDM

A técnica de serviço social Maria João Santos, 30 anos, é a coordenadora das residências da Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão com Deficiência Mental (APPACDM) de Santarém.

Manhã de 26 de Dezembro, segunda-feira. Maria João Santos, 30 anos, sobe as escadas da residência das Olaias e recebe um “cliente” que acaba de regressar de fim-de-semana. Pergunta pelas novidades e deixa-o partir rumo ao Centro de Actividades Ocupacionais da APPACDM (Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão com Deficiência Mental), no Vale de Santarém.São quase todos séniores os residentes da grande casa, situada no planalto da cidade de Santarém. À medida que vão envelhecendo procuram no espaço o acompanhamento que as famílias já não podem dar. É essa a missão da técnica de serviço social e coordenadora das quatro residências da instituição, que gere os espaços como se da sua casa se tratasse.Há cerca de um ano que Maria João Santos coordena a equipa multidisciplinar que acompanha os “clientes” da instituição. O trabalho da técnica é mais intensivo na hora dos utentes saírem e regressarem. É Maria João que aguarda pela chegada de cada um dos 14 elementos. “É preciso ter alguma flexibilidade de horário e adaptá-lo às necessidades deles”, explica. O horário, assim como as férias, ajusta-se às necessidades especiais destas pessoas.As reuniões individuais não são mais que conversas de quem precisa de alguém com quem falar e partilhar as angústias do dia a dia. Maria João Santos, há cinco anos a trabalhar na instituição, já percebeu que quando se trabalha com pessoas é difícil deixar as emoções lá fora. É por isso que trabalha também com o coração. “A ideia é que a casa funcione como uma casa de família”, garante.Os 14 “irmãos” da Residência das Olaias, entre os 24 anos e os 44, partilham as tarefas domésticas. Cada dia um dos elementos fica com a responsabilidade de tirar a loiça da máquina ou ajudar a pôr a mesa. Mas também dão sugestões para melhorar o funcionamento da residência. As opiniões sobre a ementa da casa são bem-vindas.A animadora tem sempre à disposição dos membros da casa um programa de actividades. Organizam-se jogos de futebol, passeios em grupo ou compras quando alguém precisa de roupa. “Mas há dias em que lhes apetece estar sem fazer nada depois de um dia de trabalho, tal como a nós, e respeitamos isso”, revela a técnica.O contacto com as famílias é normalmente da responsabilidade de Maria João Santos. “Tentamos que de vez em quando regressem às origens. À terra onde nasceram. Que contactem com irmãos ou tios. Só assim eles conseguem ser verdadeiramente felizes”.O Natal é uma altura em que os sentimentos andam à flor da pele e cada um dos residentes aguarda ansiosamente um convite da família. A técnica garante que há sempre maneira de integrar cada um dos utentes numa festa de família por esta altura, mesmo que não seja a biológica. Para Maria João Santos o mais gratificante no seu trabalho é conseguir que um residente passe o Natal perto dos seus. “Isso ajuda a aumentar a rede de apoio e enriquece-os como pessoas. Eles sabem bem diferenciar o papel das duas casas”.Além da Residência das Olaias, Maria João Santos coordena também o dia a dia dos utentes da APPACDM no Lar de apoio e Lar Residencial, no Vale de Santarém, assim como na recém-inaugurada Unidade de Vida Autónoma, na cidade de Santarém. Um espaço onde coabitam cinco jovens, mais autónomos e já preparados para enfrentar o mercado de trabalho.A profundidade dos problemas difere, mas os “clientes” de Maria João Santos estão constantemente a surpreendê-la. “O que mais custa é sentir que às vezes voam demasiado alto. Dizem que qualquer dia casam e saem de casa. Ou que vão arranjar emprego”, confidencia.Maria João Santos não tem coragem de os chamar para a realidade. A técnica acredita que a vida dá muitas voltas e talvez até o pudessem fazer com acompanhamento. Não os incentiva, mas também não lhes corta por ali a raiz dos sonhos.Ana Santiago

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