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Três décadas a proteger o ambiente

João Farto é mestre florestal principal

Percorre as florestas na fiscalização, recolhe redes ilegais de pesca do rio e controla a actividade dos caçadores. Há quase três décadas que o mestre florestal principal, João Farto, trabalha em defesa do ambiente.

Cais de Porto de Muge, Valada, concelho do Cartaxo. Uma hora da tarde. Preia-mar. A maré está ideal para iniciar mais uma operação de captura às redes ilegais de meixão (enguias-bebés). É “ouro branco” para alguns pescadores das margens do Tejo que vendem o pescado aos espanhóis por 300 euros o quilo.O mestre florestal principal, João Farto, toma o leme da embarcação da Polícia Florestal. Manobra o barco até ao outro lado do rio. Os garrafões de plástico que flutuam sobre as águas levantam suspeitas.João Farto, 51 anos, apetrechado de botins, calças impermeáveis e navalha sempre no bolso, abeira-se do local da rede. Com a ajuda dos restantes elementos da equipa corta as cordas que prendem a apertada malha verde ao fundo do rio. A recolha da rede exige grande esforço físico. Pouco depois libertam para o rio o meixão e o pescado que fica preso na rede. Duas semanas na escola de fuzileiros prepararam-no para enfrentar os desafios do rio. “É um trabalho arriscado. Trabalhamos em cima da corda. Felizmente, nunca caiu ninguém nosso ao rio durante uma operação. Mas se um homem cai sobre uma das redes enleadas no fundo do rio, é o fim”, explica quem está à beira de completar 29 anos de profissão.João Farto é mestre florestal principal e coordenador das brigadas da Polícia Florestal da zona sul do distrito de Santarém, desde Alpiarça até Azambuja, passando por Rio Maior.Aos 23 anos, depois de sair da tropa, deixou Nisa, no Alentejo, para ser guarda florestal. Começou como guarda especial de caça. Era assim a profissão há 29 anos. Em 1979 a carreira alargou-se também ao arvoredo e à pesca. Hoje um dos trabalhos do polícia florestal é também a investigação das causas dos incêndios. Para João Farto este é um dos trabalhos mais aliciantes da sua actividade.Investiga as causas dos incêndios, com os conhecimentos que adquiriu da Polícia Judiciária. Às vezes identificam-se suspeitos e constituem-se arguidos. Para investigar a origem dos fogos é preciso sujar as mãos. “Chegamos a ter que mexer na cinza para ver se encontramos um objecto que dê uma indicação”, descreve. Há alturas em que os vestígios não são suficientes para chegar a uma conclusão e é preciso escrever no relatório “causa indeterminada”. Admitir que o trabalho não deu frutos custa a João Farto, mas são ossos do ofício. Nem tudo corre de feição como naquele dia em que apanhou um autor de incêndio quase em flagrante delito. “Cheguei à Lamarosa, Coruche, e meti conversa com um indivíduo sentado numa caixa de tomate que não reparou que era polícia florestal. Acabou por confessar-me que foi o autor do incêndio por negligência. Tudo por causa de um maçarico”, conta João Farto.O trabalho do polícia florestal não tem dias nem horas. Trabalha-se ao fim de semana e à noite, se o dever assim o exigir. As férias são escolhidas cuidadosamente para que as brigadas possam estar operacionais durante todo o ano. A recompensa monetária para um serviço de grande exigência nem sempre está à alturaO “quartel general” do mestre João Farto é o Centro Aquícola de Azambuja. É lá que o operacional coordena o trabalho das brigadas e executa o trabalho administrativo. É lá também que chegam as denúncias da população sobre atentados ao ambiente.Quando é preciso fazer trabalho de campo João Farto acompanha as equipas. Tanto na captura das redes, como na vigilância da floresta ou na fiscalização da actividade dos caçadores. “É um trabalho que não enjoa. Em cada época do ano temos uma actividade diferente”, confessa João Farto.Acabaram os incêndios, mas é tempo de trabalhar na água. A captura de redes ilegais, de malha apertada, que todas as noites se multiplicam pelo Tejo, é quase uma tarefa inglória, mas um polícia florestal não desiste. Ana Santiago

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