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Perspicaz Manuel Serra d’Aire

Perspicaz Manuel Serra d’Aire

A vida é extremamente cruel mesmo para quem anda neste mundo cheio de boas intenções. Vê o que aconteceu ao eleito da Assembleia Municipal de Mação que veio de propósito de Bruxelas à terra natal para participar numa sessão desse órgão. O abnegado socialista João Paulo Almeida não só fez aquilo que poucos fariam – deslocar-se dois mil quilómetros para apanhar uma xaropada – como se deslocou de automóvel, gastando quase dois dias para cada lado.E que ganhou o homem com isso? Arrelias e o nome enxovalhado na praça pública porque o presidente da Câmara de Mação, que parece mais avarento que o Tio Patinhas, decidiu não pagar as ajudas de custo ao autarca socialista. Qualquer coisa como uns míseros 1.880 euros.É lamentável que se corresponda dessa forma ao amor à terra demonstrado pelo autarca João Paulo Almeida, um político muito viajado que agora é funcionário da Comissão Europeia e que tem ainda no currículo o meritório feito de ter sido adjunto do ex-presidente da Câmara de Santarém, Rui Barreiro. Onde está a justiça deste mundo, afinal? É por estas e outras que eu acredito que Deus, se existe, tem critérios que a razão humana desconhece. As câmaras dão balúrdios em subsídios para largadas de pombos, digressões ao estrangeiro de ranchos folclóricos, torneios de sueca e de chinquilho e jogos florais. E ainda se gabam disso.Mas quando um pobre (o termo talvez seja demasiado forte, reconheço…) autarca pede contas pelo cumprimento do seu dever, atiçam-lhe os jornalistas às canelas e dão-lhe nega. Em vez de lhe pagarem as ajudas de custo e de lhe darem um presunto como recompensa pelo seu amor à terra.E não venham dizer que o homem podia ter viajado de avião, que até saía mais barato e era mais rápido. Sabem lá se o autarca viajante não estava a cumprir uma promessa… Era só o que faltava: intrometerem-se na autonomia e independência de um autarca eleito pelo povo! Se para a próxima quiser vir a pé, ou de burro, alguém tem alguma coisa a ver com isso?Insubstituível Manel, esta história deixou-me azamboado. Esta história e outras. Como aquela dos autarcas da Lezíria do Tejo volta e meia agarrarem nas trouxas e zarparem por esse país fora para discutirem assuntos que, obviamente, não podem debater no remanso da sua sede em Santarém. Antes que comeces a pensar que toco no assunto movido pela inveja, poupo desde já esse trabalho. Assumo que também eu gostava de ter um alibi desses para me livrar da minha Maria durante dois dias e duas noites. Fosse para Évora, Palmela ou Vila Franca de Xira. Qualquer terra é acolhedora desde que seja suficientemente distante daquela melga inquisidora que tenho em casa.E bem podia vir ela com cantigas, que eu sou um valdevinos e que só quero é andar na paródia com os amigos. Era ela a dizer-me isso e eu a mandar-lhe às trombas que Deus lhe deu se ela tinha noção da responsabilidade que era discutir dossiês como as Águas do Ribatejo ou o quarto QCA. Assim mesmo, só com a sigla, para ela ficar ainda mais impressionada…Com argumentos desses deixava-a mais desconcertada do que o presidente da Câmara de Santarém quando deu com a estátua do capitão Salgueiro Maia esquecida a um canto num armazém da autarquia. Votos de boa saúde do Serafim das Neves
Perspicaz Manuel Serra d’Aire

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