Vila Franca afastada da cultura
Maioria da população vilafranquense não adere às iniciativas programadas
A cultura de Vila Franca não se resume à festa brava. A capital do Neo-realismo tem vindo a perder importância e nem mesmo os eventos de nível nacional conquistam o público local. O MIRANTE conversou com vários agentes culturais e fez o diagnóstico.
A população de Vila Franca de Xira tem um défice profundo de hábitos culturais. Esta é pelo menos a opinião da maioria dos agentes culturais da cidade que falam em “apatia” por parte de uma grande fatia do público vilafranquense. Ermelinda Lopes, de 44 anos, ocupa os seus serões com a televisão. Primeiro vê as notícias e depois assiste à primeira novela da TVI. O tempo livre que tem aos fins-de-semana, depois das lides domésticas, é ocupado, novamente, com a televisão. Ermelinda Lopes diz que “falta a disponibilidade” e também a motivação, agravada com a actual situação de crise económica que se vive no país.Anabela Pereira, de 36 anos, comunga do gosto de Ermelinda pela televisão, e mesmo pela novela da TVI. Este é o programa habitual das suas noites, que dura “até me dar o sono”. Ao cinema ia pouco, mas diz que agora irá ainda menos já que fecharam as salas de Vila Franca. Às outras iniciativas que vão tendo lugar na cidade, como a exposição da 9ª Bienal de Fotografia actualmente patente no Celeiro da Patriarcal e da qual não tinha ainda conhecimento, “não me dá muito para ir sozinha, porque os meus filhos já não querem sair comigo”.Segundo o director artístico da Inestética, a única formação teatral da cidade, Alexandre Lyra Leite, a falta de hábitos culturais está “enraizada” no seio da população vilafranquense. “O facto de não haver público para o cinema, um género mais populista, indicia isso”, refere o responsável. Nos 15 anos de existência da Inestética Alexandre Lyra Leite diz que a grande luta tem sido a captação de mais público, um objectivo que se tem revelado difícil de alcançar. Para além do desinteresse da população pelos eventos culturais que se realizam, o director artístico sublinha, ainda, a falta de “motivação e empreendedorismo por parte da sociedade civil” para formar novos movimentos culturais. Alexandre Lyra Leite destaca o papel que a Câmara Municipal de Vila Franca de Xira tem na promoção de eventos culturais. No entanto, considera a oferta insuficiente para uma população “apática”. Na sua opinião, a proximidade com Lisboa não explica tudo, embora reconheça que possa influenciar, em menor escala, os números do público consumidor do que se faz em Vila Franca.Para responder, de alguma forma, a uma falta actividades culturais regulares a próxima aposta da Inestética será o Inestética Lounge a inaugurar em Março. Situado no piso superior do edifício onde se encontra o Café Central, este será um espaço onde, todas as quintas-feiras, haverá algo para ver, desde concertos, instalações, dança ou exposições.Ateneu em dificuldadesNo ano em que comemora o seu 115º aniversário o Ateneu Artístico Vilafranquense (AAV) debate-se com dificuldades financeiras. As recentes obras realizadas de modernização do auditório do ateneu deixaram dívidas e limitaram ainda mais a capacidade de promoção de iniciativas por parte da instituição. Com capacidade para 500 pessoas o renovado auditório é actualmente uma sala com excelentes condições para qualquer iniciativa. O presidente do Ateneu, Mário Calado, diz, no entanto, que é um risco programar um evento para aquele espaço, já que a população de Vila Franca adere pouco a iniciativas culturais. Para além deste auditório, a cidade dispõe ainda da sala do Clube Vilafranquense, do auditório da junta de freguesia e da sala do antigo cinema Imax, todas limitadas em termos de espaço.Perante o cenário de pouca participação das pessoas, agravado com a crise financeira, Mário Calado prefere esperar pela liquidação das dívidas para avançar com novos projectos. Na sua opinião, a cidade precisa de mais dinamismo na área para motivar também as pessoas a terem hábitos culturais. Considerando que Vila Franca de Xira se mantém muito ligada à cultura tauromáquica, o director artístico do GART – Grupo de Artistas e Amigos da Arte, Cons-tantino Agostinho, afirma que a cidade já se está a expandir para outras vertentes. A bienal de Vila Franca é disso exemplo, a par de outras exposições, como “Um tempo e um lugar”, patente no Celeiro da Patriarcal até ao final do ano Para Constantino Agostinho o que se faz em Vila Franca na área da cultura ainda não é suficiente. Acima de tudo, diz, é necessário atrair mais público, já que ainda é “uma reduzida fatia que participa”. Uma das soluções que aponta passa por levar a cultura até às pessoas. “Se nós levarmos a cultura junto deles pode ser que mais pessoas se comecem a interessar”, conclui.Sara Cardoso
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