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A amiga dos animais

A amiga dos animais

Cláudia Almendra, veterinária em Vila Franca de Xira

Não sonhava ser veterinária, mas a vida acabou por levá-la nesse sentido. Hoje diz que a possibilidade de tratar animais e de fazer investigação lhe dá imensa satisfação.

Ser veterinário faz parte do imaginário de muitas crianças. No entanto, com Cláudia Almendra a opção pela veterinária só surgiu na altura de entrar para a universidade. Entre as razões para esta escolha esteve o gosto pelos animais, a possibilidade de contacto com o campo e uma vertente mais prática: a variedade de saídas profissionais na área.Até ter entrado no curso da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Técnica de Lisboa, Cláudia Almendra nunca tinha tido um animal, embora gostasse. Foi já durante o curso que o “Alf” entrou na sua vida. O gato que recolheu na rua ainda bebé fez-lhe companhia durante 10 anos e ensinou-a, inclusive, a lidar melhor com os gatos na sua profissão. O “Alf” morreu no ano passado e para já não tem substituto. Mas voltar a ter um ou até dois gatos é um objectivo a médio prazo. A veterinária aproveita para esclarecer que para “quem tem uma vida mais complicada, sem horários, é mais simples ter um gato”.Apesar do risco existir, nestes cinco anos em que exerce a profissão, numa clínica em Vila Franca de Xira, nunca passou por nenhuma situação mais complicada. O mais difícil, refere, tem sido mesmo gerir a frustração em determinadas situações. “O que frustra mais o veterinário é quando quer ir mais além e não pode. Quando quer fazer um exame de diagnóstico ou até uma cirurgia e o dono não quer e manda abater o animal, porque não quer despender o dinheiro”, diz Cláudia Almendra. A veterinária acrescenta que também acontece a situação inversa e conta o episódio de uma senhora que tinha uma gata com vários tumores em estado avançado. Apesar de Cláudia ter aconselhado a eutanásia, pela falta de qualidade de vida do animal, a senhora recusou e insistiu no tratamento até o animal acabar por morrer. Cláudia Almendra refere que é aqui que surgem as outras dimensões do trabalho de veterinária: a sociologia e a psicologia. Neste caso, a veterinária diz que “a senhora era idosa e encontrava-se também doente, para ela fazia sentido cuidar da gata como se estivessem a tomar conta dela”. Na perspectiva sociológica, Cláudia refere que as atitudes das pessoas em relação aos animais estão a começar a mudar. Segundo a veterinária, as pessoas procuram dar mais qualidade de vida aos animais e isso inclui os tratamentos médicos. No entanto, Cláudia Almendra chama a atenção para os excessos de mimos aos animais, uma situação que os confunde e perturba e que pode gerar ciúmes perigosos.Uma grande dificuldade do trabalho de veterinária é fazer o diagnóstico. “Com os animais o diagnóstico é muito mais complicado do que com uma pessoa, porque o animal não diz onde lhe dói ou que intensidade tem a dor”. Por isso, a veterinária recorda uma frase que ouviu um dia: “o verdadeiro médico é aquele que trata mais do que uma espécie”.Cláudia Almendra sublinha o facto da veterinária ser muito diferente da medicina humana, quer pelos pacientes quer pelo facto de os meios serem mais reduzidos.Para além de tratar os animais, Cláudia Almendra dedica-se à investigação na área da virologia, relacionada com os vírus em pequenos animais. É à busca de novas respostas para o tratamento de animais que dedica grande parte do seu dia, na Faculdade de Medicina Veterinária, reservando as últimas horas da tarde para dar consultas em Vila Franca. A investigação é uma paixão que cultiva com dificuldade já que, diz, “é muito difícil fazer investigação em Portugal”. A razão para tal está na falta de financiamento e na excessiva burocracia do sistema no nosso país. A preocupação com essa situação estende-se ao exercício da profissão de veterinária. Segundo Cláudia Almendra, dentro de alguns anos “vai-se tornar muito complicado ser veterinário, porque não vai haver mercado de trabalho. A oferta de cursos actual não corresponde à realidade do país”.
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