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Passivo

Referi-me anteriormente aos anúncios que prometem financiamentos.Há outro tipo de publicidade. Dizem que se tomam empresas em dificuldades, com passivo.Agora imagine-se um comerciante que tem uma loja, com imensas dívidas. Lê o anúncio e prepara-se para um negócio fantástico. Vê-se livre dos compromissos e ainda lhe pagam.Na verdade, ele é enganado por quem coloca aquela publicidade, com a finalidade de burlar também outras pessoas.Vamos a casos reais.Um indivíduo explorava uma casa de ferragens.O negócio estava fraco e as dívidas acumulavam-se.Não custava nada ligar para o número constante do tal anúncio.A conversa telefónica inicial parecia animadora. Tratava-se de um grupo espanhol, com ligações a empresários portugueses. O objectivo era adquirir pequenas empresas e injectar capital, por forma a dinamizar a actividade.O encontro pessoal foi marcado.Discutiram-se os pormenores do negócio.Tudo parecia normalíssimo e processava-se como é habitual.Foi determinado um preço para aquisição da empresa. Acordou-se que a gestão da empresa passaria imediatamente para os novos donos. A quantia seria satisfeita em prestações mensais, ao longo de cinco anos.O antigo dono da empresa ficou com total garantia. Assinou-se um contrato-promessa, mas a escritura pública só seria celebrada com o pagamento da última prestação.Foi outorgada uma procuração a favor dos futuros proprietários, para que iniciassem, desde logo, a nova gerência que iria salvar a empresa da falência.Calcule-se como ficou o comerciante: completamente satisfeito. Deixava de trabalhar, não se preocupava mais com as dívidas e ainda lhe pagavam bom dinheiro, recebendo mensalmente ao longo de cinco anos mais do que alguma vez ele poderia imaginar.Sucedia que aqueles indivíduos não passavam de burlões.Realmente, quando foi assinado o contrato-promessa pagaram a primeira prestação. Mas, depois, nunca mais se lembraram disso. Só passado quase um ano é que vieram a devolver a loja ao comerciante, depois de muito esforço.Entretanto, dedicaram-se a obter dinheiro fácil.A técnica era a seguinte.Logo nos primeiros dias, ainda contaram com a colaboração do comerciante que venderia a loja. Comunicaram aos fornecedores que o estabelecimento passaria a ter nova gerência.Depois, fizeram uma pequena encomenda de berbequins, escadas, betoneiras, martelos pneumáticos e candeeiros de jardim. Pagaram tudo a pronto.Naturalmente, os fornecedores ficaram impressionados. Os novos gerentes eram mesmo pessoas dinâmicas e com capacidade económica.Seguiu-se uma outra encomenda, pouco tempo depois. Dessa vez, tratava-se de uma compra muito mais significativa, envolvendo um número muito superior de bens.Como os fornecedores bem compreenderam, nessa ocasião, o pagamento seria realizado trinta dias depois da entrega.Ainda houve alguma hesitação por parte de um dos fornecedores, que tentou ver se conseguia novamente o pronto pagamento. Mas os novos donos da loja não mostraram preocupação nenhuma. Limitaram-se a dizer que havia outros dispostos a conceder essa facilidade. Obviamente, aquele fornecedor não quis perder o negócio e tratou de fechá-lo.Evidentemente, esta grande encomenda não mereceu pagamento.Passaram-se os trinta dias e as facturas ficaram por satisfazer.Aliás, nessa altura, já os bens tinham sido todos metidos em contentores e expedidos para Angola e Moçambique.Esta burla tem sido levada a cabo em todo o país. Abrange vários tipos de actividades. Designadamente, tem envolvido sapatarias. Comerciantes insatisfeitos cedem as suas lojas a estes indivíduos. Eles desatam a burlar fabricantes de calçado.* Juiz (hjfraguas@hotmail.com)

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