
Pais acusam médicos de negligência
Hospital de Vila Franca abriu processo de averiguações sobre parto de bebé que acabou por morrer
Os pais de um bebé que morreu com um ano acusam os médicos que assistiram o parto de negligência. O Hospital de Vila Franca abriu um processo de averiguações, mas ainda não conclui nada.
Leonel viveu apenas um ano e três dias. O bebé nasceu com paralisia cerebral e os pais acusam os médicos do hospital de Vila Franca de Xira que assistiram a mãe antes, e durante o parto, de negligência. Após oito meses de vida, a esperança de salvar o pequeno Leonel veio da Irlanda do Norte, país onde veio a falecer, depois de apresentar algumas melhorias. Dora Sofia Sousa e Nelson Ricardo Moura, os pais do Leonel, não se conformam e apontam o dedo aos médicos. Tudo começou a 12 de Janeiro de 2004. A mãe já tinha atingido as quarenta semanas de gravidez quando foi mandada para o hospital. O médico que a assistiu, durante a manhã, e após fazer uma ecografia, verificou que algo estava mal. “O meu filho estava atravessado e disse-me que tinha que fazer uma cesariana”, conta Dora Sousa, acrescentando que o mesmo médico, apesar de ter um telefone de serviço na secretária, pediu à parturiente um telemóvel, tendo usado o telemóvel da mãe da jovem para recomendar aos colegas de serviço a intervenção a fazer.“Mandaram-me dar uma volta e voltar ao fim de três horas”, recorda a mãe de Leonel.Seguindo a recomendação dos médicos, Dora voltou ao hospital, e voltou a ser mandada para trás, por igual período, com dois comprimidos. Três horas depois voltou. “O médico ligou o CTG e mandou-me para casa dizendo que esperava não me voltar a ver naquele dia”, refere.Cerca das 23 horas do mesmo dia, rebentaram as águas e a parturiente voltou para o hospital e ficou internada. Os médicos insistiram no parto normal. “Diziam que eu tinha bom cabedal para parir...”, refere a jovem que só veio a dar luz no dia seguinte, às 21h27. Depois de várias tentativas de ter a criança de parto normal, com utilização de forcep´s e ventosas, os médicos acabaram por decidir fazer a cesariana.Leonel nasceu com paralisia cerebral e, devido ao estado grave de saúde, foi transferido para a maternidade Alfredo da Costa, em Lisboa. Os médicos informaram o pai de Leonel que a criança poderia não sobreviver. “Disseram-me que teria apenas três meses de vida”, recorda Nelson Moura.Ao fim de uma semana, a criança voltou para o hospital de Vila Franca de Xira e durante oito meses foi seguido naquele hospital, com diversos períodos de internamento devido a pneumonias, e foi mantido com oxigénio. A sua alimentação era feita através de uma sonda.Depois de tanta luta, surgiu a esperança de salvar o menino vinda da Irlanda do Norte. Uma familiar do casal, residente naquele país, sensibilizou os médicos do hospital de Larne, nos arredores de Belfast, que se interessaram pelo caso.Mãe e filho seguiram para a Irlanda. Após alguns exames, os profissionais de saúde que observaram a criança mostraram alguma esperança. O menino apresentou ainda algumas melhorias mas acabou por sucumbir, três dias depois de completar um ano de vida.Para Dora e Nelson, o comportamento dos médicos do hospital de Vila Franca de Xira, estão na origem dos graves problemas de saúde com que o filho nasceu. “Os médicos da Irlanda disseram-nos que 90% foi causado pelo parto”, afirma Nelson Moura. Além disso, os médicos da Irlanda descobriram que o leite que a criança ingeria lhe invadia os pulmões, o que nunca foi detectado em Portugal. “O que cá nos diziam que eram pneumonias, afinal era o leite...”, explica o pai do menino.Dora e Nelson não se conformam com a morte do primeiro filho. Segundo afirmam, apresentaram queixa no gabinete do utente do hospital de Vila Franca de Xira, contra os médicos que assistiram Dora Sousa. Agora pretendem seguir com o caso para a via judicial.Os dois jovens, enaltecem a assistência dispensada no hospital e centro de saúde da Irlanda Norte, onde o filho foi seguido nos últimos meses de vida, que lhe dispensou todos os cuidados, quer durante o internamento, quer em casa, com visitas diárias de vários especialistas, onde inclusive colocaram uma cama hospitalar e diversos aparelhos que mantiveram a criança até ao dia da sua morte.Devido ao parto complicado, Dora Sousa sofreu graves lesões que a poderão ter condenado a não poder voltar a ser mãe. Dentro de dias vai regressar ao hospital da Irlanda do Norte para fazer exames. “ Vou tentar reparar o mal que me fizeram cá...”, acrescenta, com uma ponta de esperança. O MIRANTE tentou obter esclarecimentos sobre este caso junto do Hospital Reynaldo dos Santos. A directora clínica, Ana Alcazar informou, através da secretária, que “foi aberto um processo de averiguações interno”. Os pais aguardam as conclusões.José Bernardes

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