Companhia das Lezírias é herdade modelo
Entrevista com o presidente do Conselho de Administração, Vítor Barros
Vítor Barros, presidente do conselho de administração da Companhia das Lezírias desde Dezembro do ano passado, elege a consolidação do conceito de herdade modelo como o seu objectivo prioritário. A maior empresa agrícola do país, com 20 mil hectares de floresta, charneca e solos férteis, situa-se em Samora Correia e foi constituída há 170 anos.
Quais são as prioridades do plano de actividades e investimentos da Companhia das Lezírias?Queremos criar valor e vamos fazer uma exploração directa da CL. Há dois projectos que realço. O primeiro, a criação de carne bovina de qualidade com recurso ao sistema de protecção integrada. Neste momento já estamos a fornecer o Carrefour de Telheiras. Tivemos que retomar mais de 280 hectares de terrenos que estavam arrendados para a produção de forragens porque este tipo de carne exige forragens muito inovadoras. O segundo projecto é apostar nas actividades de lazer. Temos um património natural aqui perto de Lisboa com montado, espelhos de água, cavalos e gado bravo.A aproximação das pessoas à Companhia das Lezírias também é importante?Temos de levar a CL junto da opinião pública. Este património é de todos os portugueses e as pessoas têm de sentir a importância para as suas vidas. Temos de mobilizar os portugueses para que não permitam a privatização deste património.As pressões são muitas?Todos sabemos que estes terrenos são muito apetecidos. Temos aqui um pulmão à volta de Lisboa que tem de ser preservado. Se alguém comprar estes terrenos não será certamente para os manter como estão mas para urbanizar alguma parte. O senhor ministro da Agricultura quando me convidou pediu que fizesse da CL uma herdade modelo e estou cá com esse espírito.O que é que a CL vai ter para oferecer aos visitantes?Vamos criar um centro de interpretação ambiental com uma quinta pedagógica para crianças e jovens que deve arrancar já em Outubro e será gerida por administração directa com o apoio do Instituto Português de Agronomia que nos dará algum apoio técnico quanto aos conteúdos e materiais didácticos. O outro projecto é o observatório de aves na Ponta da Erva que é uma das zonas húmidas mais importantes da Europa e a mais importante em Portugal.São dois investimentos avultados?Representam um grande esforço financeiro. Estamos a contar com o apoio do Quadro de Referência Estratégica Nacional (QREN) ou duma iniciativa comunitária que é o “Life”.Aqui em Braço de Prata, Samora Correia, estão em construção os bungalows de madeira para receber turistas. Essa obra está de novo suspensa.Tivemos mais problemas com a empreitada. Agora falta a madeira. Esperamos concluí-los rapidamente. Sinceramente, julgo que este projecto não é a salvação da pátria, porque os nossos visitantes não ficam aqui, preferem os hotéis. O espaço junto a um paul não reúne as melhores qualidades. É uma zona pantanosa com mosquitos e outros inconvenientes. Mas agora o projecto já arrancou e temos que o acabar. Qual a utilização que irão ter os bungalows?Penso que podem ser utilizados para estágios de cavaleiros que treinam aqui ou vêm participar nos concursos nacionais e internacionais.A CL tem vários projectos para valorizar o seu património em Samora Correia...Neste momento temos três projectos urbanísticos em curso na Câmara Municipal de Benavente para a zona das oficinas com ligação para a Avenida o Século, Rua Popular e Largo do Calvário; Pinheiro Alto e Tapada das Cardosas, em frente à urbanização do Belo Jardim. A Companhia vai vender o espaço da antiga biblioteca e da sede do Teatro Experimental de Samora?Com muita surpresa, o senhor presidente da Câmara de Benavente disse-me que já não precisa daquele espaço que estava destinado a centro cultural. Sendo assim, a CL está a elaborar um projecto e vai avançar com a obra para valorizar aquele terreno.A sede da Companhia das Lezírias vai continuar no largo do Calvário ou vai para Braço de Prata como pretendia o seu antecessor?Não temos nenhuma intenção de mudar. Estamos bem no Calvário.O património no centro da vila tem um valor afectivo muito importante para Samora...Pois tem. Nós sentimos isso e vamos ter em conta esse factor.E o celeiro do infantado, na rua Popular, junto ao calvário será o futuro museu agrícola?Nunca me falaram nisso mas estou aberto a essa ideia e acho muito interessante. A Companhia das Lezírias e esta região têm um espólio que deve ser preservado. A CL está disponível para ceder o celeiro dentro das oficinas para futuro mercado municipal?A ideia foi apresentada numa reunião com a câmara e estamos receptivos a continuar a falar sobre isso. No cabo de Vila Franca também vai alienar património?Fomos abordados pelos investidores do projecto turístico, e pela senhora presidente da Câmara de Vila Franca de Xira, que nos apresentaram o projecto para aquele lugar. Vamos estudar a proposta para possível arrendamento ou alienação daquele património, mas não integramos os accionistas. A Companhia das Lezírias é um parceiro importante nas comunidades onde se relaciona. Valoriza a responsabilidade social da sociedade?Claramente. Nunca negamos o apoio. Nós integramos o Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável, estamos no conselho fiscal, e consideramos fundamental a responsabilidade social da CL. Todos os dias temos pedidos de ajuda e um dos contratos que tenho com os meus colegas de administração é que tudo o que seja da zona é para apoiar.Este ano ajudámos os bombeiros com equipamento de protecção especial para incêndio, apoiámos instituições de solidariedade, eventos culturais e desportivos e projectos de investigação científica. A CL é uma Sociedade Anónima, mas é uma SA especial que tem responsabilidades.A Companhia das Lezírias tem uma tradição na área da investigação científica. O que está a ser feito? Neste momento temos a decorrer vários projectos de investigação científica. Um internacional na área do montado financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia que vai aprofundar até onde vão as raízes dos sobreiros para apurar as consequências da seca nos sobreiros. Temos a decorrer um ensaio para a rega de sobreiros e outro para semear bolota com um sistema inovador que garante maior taxa de sucesso no pegamento que é um problema no montado.Há ainda um projecto a ser desenvolvido com a estação Zootécnica Nacional para testar a melhor dose de forragens para o incremento do Ómega 3 na carne bovinaIsto para nós é tudo responsabilidade social.... Nelson Silva Lopes
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