O correeiro que reinventou a arte
Custódio Farto é um dos poucos profissionais do sector em todo país
Custódio Farto é um correeiro autodidacta que gosta de inovar e criar novas peças. Em nove anos de actividade conseguiu impor-se como uma referência nacional e internacional no universo equestre e taurino.
Mal se atravessa a porta de entrada da “Casa Farto”, na avenida Egas Moniz, o cheiro intenso a couro invade o olfacto. Dos vários expositores pendem centenas de artigos, a maior parte em pele, relacionados com os cavalos e os toiros. Na grande maioria das selas, cabeçadas e cabeções, arreios, entre outros, o carimbo “Casa Farto” não deixa dúvidas: os artigos são de fabrico da casa de Samora Correia. Ao fundo da loja fica a oficina onde Custódio Farto mostra as suas habilidades enquanto correeiro. É aqui que passa grande parte do seu dia “a fazer de tudo”. Produz desde safões e perneiras, a jogos de chocalhos, peitos de picar e bolas para os cornos dos toiros e faz reparações em todo o tipo de artigos em pele. Os conhecimentos para o trabalho de correeiro Custódio Farto adquiriu-os à custa da sua perseverança. Depois de anos a trabalhar como vendedor de máquinas pesadas decidiu dedicar-se à correaria. Fez um estudo de mercado e descobriu que esta era uma actividade em vias de extinção em Portugal e decidiu avançar há cerca de nove anos. Uma aposta ganha já que hoje é conhecido e reconhecido um pouco por todo o mundo.Num “canto apertado” da loja de artigos relacionados com o universo ribatejano que a abrira para a mulher há quatro anos, Custódio Farto empenhou-se em descobrir os segredos da correaria. Chegou a solicitar a ajuda de um velho correeiro de Samora Correia que lhe fechou a porta. “Se queres aprender desmancha e faz de novo”, foi a resposta que recebeu. Sem desanimar, Custódio Farto acabou mesmo por começar a desmanchar vários artigos para os conhecer. Rapidamente descobriu os seus segredos e passou a criar os seus próprios artigos em couro.Mas o correeiro de Samora Correia não se limitou a copiar aquilo que já estava feito. Com uma imensa vontade de inovar tem procurado ao longo dos anos adaptar o que é tradicional na correaria portuguesa à actualidade. E explica: “o cavalo antigamente era um animal de trabalho, hoje é um animal de desporto, é um atleta. É preciso adaptar a correaria portuguesa ao cavalo actual”.Apaixonado pelo trabalho à portuguesa Custódio Farto tem recuperado artigos que tinham caído em desuso no país. Entre eles a plaina folha de oliveira, que adaptou para a tornar mais prática, e os safões.Há cerca de quatro anos foi contactado para recuperar os safões do rei D. Carlos. Um trabalho que lhe deu um imenso prazer até porque a partir daqui conseguiu ressuscitar no meio português os safões que tinham entretanto desaparecido. Sempre na senda da inovação o correeiro criou novos objectos, como a caixa para chapéus à portuguesa. Depois de ouvir repetidas vezes os cavaleiros tauromáquicos seus clientes lamentarem-se de não existir uma caixa para os chapéus à portuguesa, Custódio Farto decidiu criar caixas que salvaguardem as abas dos chapéus. Neste momento tem entre mãos a criação de uma caixa para um tricórnio para a cavaleira Sónia Matias. Um artigo que vai fazer adaptando-o ao gosto do cliente, como tem por hábito fazer, porque, refere, “este trabalho não pode ser feito em série”. Foi o toque pessoal que dá a cada objecto que fabrica que levou o nome de Custódio Farto a todo o país e ao estrangeiro. Sem querer referir nomes, diz que tem por clientes grandes vultos da tauromaquia nacional, da equitação, de ganadarias e casas agrícolas. Lá fora o nome da “Casa Farto” também já chegou há muito. É com visível orgulho que o correeiro diz que há cerca de dois meses na Feira do Cavalo de São Paulo, no Brasil, estavam 65 cabeções de sua autoria. Sara Cardoso
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