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Uma mulher num mundo de homens

Uma mulher num mundo de homens

Cristina Clemente é massagista no União Atlético Povoense

Não é um caso único mas também não é frequente vermos uma mulher como massagista de uma equipa de futebol masculina. No Atlético Povoense, Cristina Clemente, 24 anos, trata da saúde à rapaziada da bola. Um sonho de criança que conseguiu concretizar e que espera poder continuar a desenvolver.

Desde muito jovem que Cristina Clemente se habituou a ouvir falar de futebol em casa. O pai e o irmão eram dois adeptos fiéis do Futebol Clube do Porto, ela ouvia as discussões e foi entranhando o “bichinho” da modalidade. Começou a sonhar fazer parte de um daqueles grupos e depois de tirar o curso de ajudante de fisioterapeuta sentiu que ali podia estar ali a sua oportunidade.Tinha 20 anos quando acabou o curso mas teve que optar por outro emprego e ainda não foi daquela que entrou para o mundo do futebol. Mas não perdeu a esperança e foi com uma alegria enorme que um dia recebeu o convite do treinador do Povoense para experimentar ir tratar das lesões dos atletas.“O treinador era amigo da minha família e sabia do meu sonho, e foi ele que me abriu as portas para o concretizar”, referiu Cristina Clemente, actualmente com 24 anos e há quatro a exercer funções de massagista no Clube Atlético Povoense, da Póvoa de Santa Iria, concelho de Vila Franca de Xira.A família apoiou-a nesta sua aventura. Sabia que ia enfrentar uma prova dura, porque afinal o futebol é um mundo ainda dos homens, mas não se atemorizou. No dia da sua apresentação o seu coração batia muito forte e não conseguiu esconder o nervosismo. Temia sobretudo alguma falta de respeito. Mas acabou por ser surpreendida com a forma respeitosa e amiga como foi recebida.Nos jogos começou por acompanhar as equipas mais jovens - as de infantis e iniciados - mas na retaguarda iniciou desde logo o trabalho com todos os escalões, incluindo o de seniores.O trabalho desenvolvido agradou a toda a gente e o chefe da equipa de massagistas do clube, José Júlio, um homem com mais de três décadas de profissão e uma larga experiência no tratamento de lesões desportivas, viu um grande potencial em Cristina Clemente e rapidamente começou a dar-lhe responsabilidades e jogos de seniores para fazer. Ainda hoje se recorda do primeiro jogo que fez. “Quando entrei em campo e ouvi algumas bocas foleiras e piropos, senti-me muito pequenininha, mas também rapidamente me adaptei e hoje é como se costuma dizer: as bocas entram num ouvido a 50 e saiem pelo outro a 100”, diz com graça a jovem massagista.A postura de Cristina Clemente no seio do grupo de trabalho do Povoense é aceite sem qualquer complexo. Corajosa e de personalidade forte, a jovem conquistou com facilidade a admiração e o respeito de toda a gente. “Até hoje não tive uma única queixa de ninguém. Respeito toda a gente e toda a gente me respeita, e ao longo destes últimos quatro anos ganhei muitos e bons amigos”, afirma.Cristina Clemente garante que faz aquilo que gosta e está feliz. “É isto que eu gosto de fazer, sei que não é possível, mas é isto que gostava de fazer para o resto da vida, e a tempo inteiro se fosse realizável. Aqui no Povoense é um hobbi, mas só o trocava por um clube que me desse hipóteses de trabalho a tempo inteiro. Para ir para igual nunca sairei daqui. O Povoense está há muito no meu coração”, garante.Entretanto Cristina conseguiu também concretizar o sonho de trabalhar em exclusivo na profissão. Está a trabalhar numa clínica na zona, e diz que agora só lhe falta casar e ter filhos para se sentir plenamente realizada. “É por isso que digo que é complicado estar num clube a tempo inteiro, porque sou mulher, quero casar e ter filhos”, diz com a mesma convicção com que garante não ter namorado nesta altura.
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