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Desencabrestado Serafim das Neves

Não sei se ainda há linces na serra da Malcata. Nem sequer sei - sem recorrer a um mapa - onde fica essa tal serra da Malcata, mas lembro-me que a primeira grande campanha nacional a favor da preservação de uma espécie em vias de extinção foi a que usava o slogan: “Salvem o lince da serra da Malcata”. Na altura aquilo mexeu comigo. Havia autocolantes por todo o lado com a frase. Nas cabines telefónicas, nas portas das casas de banho, nos vidros das janelas dos comboios. Eu cheguei a andar angustiado porque imaginava o lince lá na serra da Malcata faminto e abandonado e eu nem sequer sabia o que fazer para o salvar.Lembrei-me disto a propósito do melão de Almeirim que, segundo li, foi salvo da extinção e vai regressar ao mercado. Enfim, não será ao mercado mas ao super-mercado porque a mesma notícia dizia que toda a colheita deste ano vai para o Modelo e o Pingo Doce. Fico feliz sempre que leio notícias destas. A preservação das espécies é algo que me conforta. Mas nem sempre o desaparecimento de algumas me causa espécie. O comércio tradicional, por exemplo. A gente bem tanta salvá-lo mas não há nada a fazer. É como tentar salvar um gajo que não sabe nadar que ainda por cima amarrou um bloco de granito a cada pé e esfregou o corpo com gordura de urso. É uma missão impossível, pois claro!!Para mim os centros comerciais têm uma vantagem que bate o comércio tradicional em toda a linha. Uma vantagem que me faz optar sempre por eles. Claro que também têm estacionamento que é coisa que o comércio tradicional raramente tem. E ar condicionado. Mas não é isso que me faz trocar o comércio tradicional pelos centros comerciais. O que verdadeiramente me cativa são as casas de banho. Nos centros comerciais há casas de banho. Casas de banho que ainda por cima estão geralmente limpas, têm papel higiénico, água, sabão, máquinas para secar as mãos e em alguns casos até escovas de dentes descartáveis e preservativos. Só quem nunca esteve verdadeiramente à rasquinha no meio de uma qualquer cidade do mundo é que não percebe este meu fascínio pelos centros comerciais. Imagina Serafim que estás em Milão, ou em Budapeste, ou em Londres ou mesmo em Santarém e que te dá uma daquelas vontades. Ou desatinas por completo e te alivias ao toro do primeiro candeeiro de iluminação pública que encontras no caminho ou corres para o centro comercial mais próximo. É ou não é verdade? Entrar num pronto-a-vestir, num oculista, numa livraria ou numa mercearia, numa altura assim é suicídio. Em algumas casas de banho dos centros comerciais até há música ambiente. E vaporizadores para disfarçar os maus cheiros. Sinceramente penso que o que faz tanta gente ir aos centros comerciais são as casas de banho. Não sei se te lembras como era Santarém antes do W-Shopping?! Se não te lembras é porque tens memória curta. Ou porque nunca foste vítima de uma situação traumatizante. Um dia na era pré-W-Shopping entrei na casa de banho da Rodoviária e fiquei a sofrer de stress pós-traumático até hoje. Noutra altura distraí-me e à hora de almoço desloquei-me ao W.C. do restaurante. Fiquei em estado de choque. Vomitei o pão com manteiga da entrada e saí a correr sem pagar com um pé embostado até à peúga.E por aqui me fico com um tradicional quebra ossos à portuguesaManuel Serra d’Aire

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